erros que pregadores cometem extraido do livro de Ciro Sanches
Capítulo 1
A SÍNDROME DO
PAPAGAIO... E DA MARITACA
A língua dos sábios adorna a
sabedoria, mas a boca dos tolos derrama a estultícia. Provérbios 15.2
Há alguns anos, eu e um amigo
conversávamos em sua casa sobre pregações e pregadores. Num momento de
descontração, começamos a imitar alguns famosos animadores de auditório da
época, e ele acabou gravando em áudio uma das minhas performances
humorísticas...
Como eu jamais citaria a
Bíblia ou o nome do Senhor em uma brincadeira, empreguei na
"pregação" vários chavões de auto-ajuda, elogiei o público — formado
por meu amigo, nossas esposas e filhas — e narrei a conhecida historinha do
vaga-lume perseguido por uma cobra. Ao concluir o meu "sermão",
perguntei: "Vocês sabem por que muitos nos perseguem? Porque não suportam
ver a nossa luz brilhar". E finalizei, com voz alterada: "Brilhem,
brilhem, briiilheeem..."
Passado algum tempo, esse meu
amigo, sem dizer quem era o "pregador", apresentou a gravação que
fizemos a alguns colegas de ministério, que reagiram de maneira surpreendente.
Em vez de considerarem engraçada a "pregação", maravilharam-se da
eloqüência de quem falava. E perguntaram: "Quem é este pregador? Ele fala
com muita unção! Como podemos convidá-lo? Ele é daqui mesmo?"
Confesso que, num primeiro
momento, ri dessa história. Diverti-me com meu amigo, dizendo-lhe que me senti
lisonjeado com os comentários e que, a partir daquele momento, mudaria o meu
modo de pregar, a fim de agradar aos que gostam de ouvir berros ao microfone e
clichês que massageiam os egos.
Contudo, refletindo melhor,
cheguei à conclusão de que não havia razão para rir. Isso porque a falta de
discernimento tem aumentado, e a maioria dos pregadores jovens está seguindo
aos maus exemplos dos animadores de platéia.
"RECEEEBAAA..."
No livro Erros que os
Pregadores Devem Evitar, discorri sobre a síndrome do papagaio, que tem levado
os servos de Deus a repetirem, sem nenhuma reflexão, o que dizem os super-pregadores,
bem como os cantores-ídolos, isto é, pregadores e cantores que se comportam
como astros, recusando-se a andar segundo a Palavra de Deus. E, agindo assim,
arrebanham uma legião de fãs ou crentes nominais, que não seguem a Jesus
Cristo.
Analisarei, neste primeiro
capítulo, alguns chavões — expressões prontas, repetidas mecânica e
irrefletidamente — tidos como bíblicos. Mas também tratarei de outra síndrome,
a da maritaca, ave da família do papagaio cuja característica principal é o
grito estridente.
Muitos ajuntamentos da
atualidade não têm ordem alguma, e os pregadores, cantores e outros tão-somente
exibem-se para uma platéia de crentes interesseiros, ávidos por bênçãos, cujo
comportamento assemelha-se ao de fãs diante de seus ídolos. Como vimos na
narrativa fictícia que abre este livro, boa parte dos cultos de nosso tempo não
passa no controle de qualidade constante de 1 Coríntios 14.
É lamentável constatar que
hoje os pregadores jovens não reproduzem apenas os clichês dos famosos
animadores de auditório. Eles imitam também os trejeitos deles, a sua entonação
de voz e, principalmente, os seus ensurdecedores berros ao microfone. Mas tenho
de admitir, com tristeza: o povo de Deus, em razão de sua simplicidade,
entusiasma-se com gritos do tipo "Receeebaaa..." ou
"Profetiiizaaa..."
Não bastassem os gritos
ensurdecedores — que sem dúvida fazem parte das obras da carne (Ef 4.31) —, há
pregadores que, ao berrarem os seus clichês, ainda fazem movimentos estranhos,
como se estivessem desferindo golpes de artes marciais...
"QUANTOS VIERAM BUSCAR UMA
BÊNÇÃO?"
Esse chavão tem sido usado
para abrir congressos e cultos públicos em geral. Mas a pergunta deveria ser
outra: "Quantos vieram adorar a Deus?", haja vista o propósito
principal do culto ao Senhor: adorá-lo na beleza da sua santidade.
Infelizmente, obreiros que empregam esse clichê estão sentados na tribuna —
alguns há dezenas de anos — e ainda não aprenderam o que é um culto.
Não preciso fazer aqui uma
ampla explanação teológica para definir o culto a Deus. Trata-se do que
apresentamos ao Senhor Jesus e a maneira como fazemos isso, quer individual,
quer coletivamente (Rm 12.1,2; Mq 6.6-8; Sl 42.1,2). Individualmente, nunca
termina, pois devemos cultuar ao Senhor em todo o tempo (1 Ts 5.17; Sl 1.1-3; 2
Co 4.6). Afinal, servimos a Ele e o adoramos em espírito (Rm 1.9; Jo 4.23,24).
Coletivamente, o culto também
é para o Senhor, embora isso raramente aconteça em nossos dias. É claro que
Deus nos abençoa e nos responde no templo ou onde quer que nos reunamos (Sl 73.16,17;
Mt 18.19,20), mas os nossos ajuntamentos não devem ocorrer para sermos
elogiados e recebermos bênçãos. Também não devemos ir ao templo apenas para
pregar, cantar ou tocar um instrumento.
O pregador, o cantor e o
músico precisam ter em mente que, antes de serem isso ou aquilo, devem ser
crentes em Jesus e verdadeiros adoradores (Jo 4.23,24). Nesse caso, a sua
prioridade é adorar ao Senhor, e não pregar, cantar ou tocar um instrumento. Se
todos os obreiros do Senhor se conscientizassem disso, nunca ficariam tristes
por não terem tido uma oportunidade para pregar em um culto.
Certa irmã mandou um
bilhetinho para um pastor: "Desejo cantar um hino para Jesus". Como
havia muitas participações de conjuntos, além dos hinos congregacionais, antes
da pregação — que em muitos lugares tem sido substituída por peças teatrais ou
"empurrada" para o fim do culto por causa de intermináveis
cantorias—, a tal irmã não foi chamada para cantar. O pastor pregou e, após os
avisos finais, concluiu a reunião.
Insatisfeita, a irmã que
fizera o pedido dirigiu-se ao obreiro e lhe disse:
— Pastor, por que o irmão não
me chamou? Eu queria cantar um hino para Jesus.
— Então, cante, irmã —
respondeu o pastor.
— Ah, pastor, o povo já foi
embora...
— Mas a irmã não deseja
cantar para Jesus?
Precisamos refletir sobre as
nossas motivações ao comparecermos a uma reunião no templo. Tomemos como base
para isso 1 Coríntios 14.26, e não as nossas vontades. Temos ido ao templo para
adorar a Deus e ouvir a sua Palavra? Ou para receber bênçãos e apresentar
"louvores" e "pregações" ao povo?
"TEM FOGO AÍ, IRMÃO?"
Os pastores, os chamados
ministros de louvor e principalmente os super-pregadores ou cantores-ídolos se
valem do recurso de fazer perguntas à platéia ou elogiá-la, a fim de cativá-la.
Mandam as pessoas fazerem isso e aquilo, como se os irmãos fossem marionetes ou
títeres. Concordo que uma e outra pergunta sejam até cabíveis em uma reunião.
Também não estou propondo o engessamento da liturgia. Mas o que temos visto
hoje ultrapassa a todos os limites da tolerância.
Como as futilidades têm
tomado conta de muitas reuniões tidas como cultos a Deus! Você já percebeu como
tudo é de fogo? Varão de fogo. Sapato de fogo. Canela de fogo. Língua de fogo.
E essas efemeridades são
usadas em tom de brincadeira, desviando os servos de Deus das verdades
bíblicocêntricas. Daí surgirem perguntas esdrúxulas como estas: "Tem fogo
aí, irmão?", "Tem fogo na galeria?", "Tem fogo aqui no
altar?", etc.
Ora, eu já preguei sobre o
fogo do Espírito várias vezes.
Não há nenhum problema nisso,
pois o fogo é símbolo do Espírito Santo (1 Ts 5.19, ARA), assim como o vento
(Jo 3.8), a água (Jo 7.37-39), etc. Entretanto, o que vemos em muitos cultos é
um outro fogo, estranho, o fogo da carnalidade, da chocarrice, da falta de temor
a Deus.
Em muitos lugares, se Deus
mandasse fogo mesmo, consumiria a todos, haja vista as brincadeiras que têm
feito em reuniões em que o nome dEle é pronunciado sem nenhuma reverência.
"O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria..." (SL 111.10). "Guarda
o teu pé, quando entrares na Casa de Deus..." (Ec 5.1).
"O ESPÍRITO SANTO ME REVELA..."
Em minha época de solteiro,
eu freqüentava uma vigília na Zona Leste da cidade de São Paulo. Numa das
reuniões, certo irmão afirmou, diante de todos: "O Espírito Santo me
mostra um grande bife sobrevoando este local. Há muitos carnudos nesta
vigília". Imediatamente, o dirigente da reunião pôs-se em pé, pediu para o
irmão assentar-se e lhe disse: "Deus me revelou que o mais carnal aqui é
você".
Alguns pregadores, em nossos
dias, apesar do título que possuem, não pregam a Palavra de Deus. Sua
especialidade é gerar movimentos e mexer com as massas, apresentando
"revelações" que dizem ter recebido do Espírito Santo. Até lêem uma
passagem bíblica, no início de suas performances, mas depois o que se vê é um
animador de auditórios e uma platéia de marionetes, numa interação em que não
há lugar para a Palavra e os genuínos dons espirituais.
Há pouco tempo, eu estava em
um púlpito, em uma grande igreja, enquanto um pastor expunha a Palavra. Ao meu
lado estava um desses super-pregadores da atualidade. Vendo ele que os irmãos
recebiam a mensagem em silêncio, disse-me: "Ah, se fosse eu... Esse povão
aí já estaria dando uns glória".
E, de fato, isso aconteceu. O
dirigente do culto deu-lhe uma oportunidade, e ele fez de tudo, exceto pregar a
Palavra. E o pior é que o "povão" gostou e deu "uns
glória"...
Quem pronuncia palavras para
animar o povo, afirmando que Deus lhe revelou isso e aquilo, mentindo, a fim de
tornar-se famoso, deve se arrepender enquanto houver tempo (Ap 2.20-22).
Afinal, o próprio Senhor disse: "... o profeta que presumir soberbamente
de falar alguma palavra em meu nome, que eu lhe não tenho mandado falar, ou que
falar em nome de outros deuses, o tal profeta morrerá" (Dt 18.20). E
alguns de fato estão morrendo por causa disso, principalmente no plano
espiritual (Ap 3.1).
O povo se deixa mesmo enganar
porque é ingênuo, em sua maioria, e se empolga com elogios e mensagens
motivacionais.
Mas Deus continua dando um
tempo para os super-pregadores reconhecerem que estão errados. Que eles olhem
com seriedade para a Palavra de Deus e reconheçam que o objetivo do pregador
não é animar o povo, e sim expor a Palavra como ela é, ainda que não agrade a
muitos dos ouvintes (At 7.54-57).
"TEM SAPATO DE FOGO?"
Pregadores que não se
preocupam em expor a Palavra — pois a sua missão é movimentar as massas — se
valem de perguntas como esta: "Tem sapato de fogo aí, irmão?" Com
muita tristeza assisti a um vídeo em que alguém que já foi considerado,
unanimemente, o maior expoente da Assembléia de Deus no Brasil participa de um
espetáculo deprimente.
No tal vídeo, o pregador é
chamado por um animador de auditório, que, apertando a sua mão, pergunta-lhe:
"Pastor fulano, tem sapato de fogo? Tem sapaaato?" E ele balança a
cabeça, em sinal de aprovação. Quer saber o que aconteceu? Bastou um sopro — e
não um soco — para levá-lo à lona, quer dizer, ao chão...
Fiquei pensando: Meu Deus, um
homem que já foi um referencial para muitos jovens pregadores, um defensor das
verdades centrais da fé cristã, alguém que admirei, cujos livros e comentários
bíblicos para escola dominical eu li, caído ao chão...
E ainda acreditando que está
certo. Que Deus nos guarde, e que vigiemos, a fim de que jamais apostatemos da
fé.
"ESSA É UMA GERAÇÃO DE
APAIXONADOS"
Você já notou como os jovens
costumam empregar o verbo "adorar" para quase tudo de que gostam,
menos em relação a Deus? "Adoro cantar", "Adoro dançar",
"Adoro ouvir música", "Adoro chocolate", etc. Mas, quando
vão falar do Senhor Jesus, o único de fato digno de adoração, dizem:
"Estou apaixonado". Isso ocorre principalmente por influência de
cantores-ídolos que "adoram" empregar frases de efeito, como:
"Essa é uma geração de apaixonados" ou "Deus não rejeita um
coração apaixonado".
Paixão, por definição, é
irracional, passageira e não leva em conta princípios. A adoração, ao
contrário, é racional (Rm 12.1), verdadeira (Jo 4.23,24) e envolve tudo o que
há em nós: espírito, alma e corpo, principalmente o nosso espírito, que é a
parte mais profunda de nosso ser (1 Ts 5.23; Lc 1.46,47; Sl 57.7).
Alguém poderá perguntar:
"O que vale não é a intenção?" Na verdade, não podemos, ainda que bem
intencionados, aceitar todas e quaisquer influências do mundo. E o clichê em análise,
conquanto para muitos seja apenas uma simples questão de semântica, tem levado
os jovens à concepção distorcida da verdadeira adoração a Deus, acima de todas
as coisas, o que é muito mais que estar apaixonado!
Sei que alguém, ao ler esta
abordagem, pode não estar muito apaixonado por este livro e seu autor. Mas
espero, sinceramente, que reflita sobre a importância de adorar somente ao
Senhor Jesus e segui-lo, abandonando a postura de fã (Lc 9.23). Não adianta
nada alguém usar uma camiseta com os dizeres "Apaixonado por Jesus"
ou viver cantando "Apaixonado, apaixonado, apaixonado...", se não
andar como Jesus andou (1 Jo 2.6)!
Abandone, pois, essa canoa
furada da geração dos apaixonados! Embarque no navio cujos passageiros são os
verdadeiros adoradores, que seguem ao Senhor Jesus, que disse: "Ao Senhor,
teu Deus, adorarás e só a ele servirás..." (Mt 4.10).
"NÃO DESISTA DOS SEUS SONHOS"
Esse chavão tem sido
propagado por super-pregadores, cantores-astros, pregadores sinceros (mas mal
informados), cantores tementes a Deus (que seguem a maus exemplos) e crentes em
geral atingidos pela síndrome do papagaio. Aliás, "Os sonhos de Deus"
ou "O crente sonhador" são os temas do momento, tanto para
composições musicais como para pregações.
Vou tratar desse assunto especificamente
no capítulo 3, ao fazer a análise de uma canção que chamam de hino, mas quero
aqui deixar claro que muitos pregadores estão deixando de pregar sobre o
sacrifício vicário de Cristo, sua ressurreição, sua Segunda Vinda, para falar
sobre sonhos. Preferem pregar sobre isso a ensinar sobre o batismo com o
Espírito Santo, os dons espirituais, a renúncia, a santificação, etc.
Os animadores de auditório
gostam de usar a biografia de José (Gn 37; 39-50) para dizer que o crente é um
"sonhador". Usam frases de efeito, como "Crente sonhador não
morre enquanto os seus sonhos não se cumprirem". No entanto, os sonhos de
José foram sonhos mesmo, revelações de Deus, e não aspirações ou projetos
humanos. Bem, falaremos disso depois.
Mas fica aqui o alerta de que
o bordão em apreço é extrabíblico e antibíblico.
"OLHE PARA DENTRO DE VOCÊ"
Pregadores berram esse clichê
com naturalidade, e crentes o assimilam, reconhecendo que de fato têm valor...
Sabia que essa frase é cem por cento humanista e contrária à Palavra de Deus?
No entanto, como as pregações, nos grandes congressos, têm sido, em geral,
palestras motivacionais ministradas na base do grito, poucos se apercebem do
perigo que há na supervalorização do ser humano.
Temos algum valor em nós
mesmos, à luz da Bíblia? Que é o homem mortal? Em nossa carne não habita bem
algum (Rm 7.18).
Somos considerados
miseráveis, sujeitos a satisfazer os desejos da carne (Rm 7.19-24). O que faz a
diferença em nosso pobre vaso de barro? O precioso tesouro que nele está (2 Co
4.7). Por isso, caro leitor, não acredite nesses animadores de auditório!
Quanto a você, pregador, lembre-se de que não foi chamado para massagear egos.
Não faça massagem; entregue a mensagem! A sua missão — se é que tem compromisso
com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra — é falar a verdade (Jo 10.41).
Leve o povo a olhar para Jesus, autor e consumador da fé (Hb 12.2), e não a
olhar para dentro de si. Nada temos; nada somos. Humilhemo-nos debaixo da
potente mão do Senhor, a fim de que Ele nos exalte (1 Pe 5.6; Tg 4.6).
"LIBERE UMA PALAVRA RHEMA"
Certo escritor, já falecido —
cujas iniciais do seu nome são K.H. —, fez muitos discípulos (e alguns
fanáticos) no Brasil, apesar de nunca ter demonstrado amor e fidelidade à
Palavra de Deus. Alguém pode até duvidar do que Jesus disse, mas, se criticar
as falácias do papai H., prepare-se para os ataques dos triunfalistas de
plantão!
No Brasil, estão entre os
fiéis seguidores de K.H. um famoso telemissionário, cantores-ídolos e outros
telepregadores.
Ah, os animadores de platéia
também têm bebido dessas fontes escuras e turvas. Resultado: todos eles mandam
o povo liberar uma palavra rhema, pela qual podem pretensamente trazer à
existência o que não existe...
"Isso é uma questão de
fé", alguém argumentará. Não obstante, a fé também deve ser controlada
pela Palavra de Deus, a nossa regra de fé, de prática e de viver. A origem de
uma profecia — profecia mesmo, e não confissão positiva — não é a nossa fé.
Afinal, não é a declaração do crente que é viva, eficaz e mais penetrante do
que qualquer espada de dois gumes, e sim a Palavra de Deus (Hb 4.12), não é
mesmo?
"PROFETIZE PARA VOCÊ MESMO"
Há algum tempo, participei de
uma escola bíblica no Nordeste do Brasil, e lá estava um conhecido pregador de
massa. Suas principais características: brincalhão, contador de piadas,
cortejador, oferecido, imodesto e sem compromisso com a Palavra de Deus. Quer
saber como foi sua pregação? Um festival de gritos, tal qual uma maritaca. Mas
o povo vibrou com os seus gracejos.
O que mais me chamou atenção
na performance do tal animador foi a frase: "Profetize para você
mesmo". Ora, com quem ele aprendeu tamanho absurdo? Qual foi o profeta,
nas páginas sagradas, que profetizou para si mesmo? Nem Jesus fez isso! E a
regra bíblica de que devem falar apenas dois ou três profetas — e não todos, ao
mesmo tempo —, enquanto os outros julgam? Nada vale o que está escrito em 1
Coríntios 14?
Quem julga uma auto-profecia?
E se ela tiver origem no coração humano ou provier do Maligno? A Palavra de
Deus não diz que o coração é enganoso (Jr 17.9)? Ela não nos alerta quanto aos
espíritos enganadores (1 Tm 4.1)? Como, pois, alguém pode mandar os crentes
profetizarem para si mesmos? Só mesmo um irresponsável para fazer uma coisa
dessa.
"QUE OS DEMÔNIOS SEJAM QUEIMADOS
AGOOORAAA..."
Há pregadores que, no início
de suas performances, fazem orações exibicionistas pelas quais estimulam os que
gostam de movimentos carnais, ocos, vazios de significado, desordeiros e
indecentes. Eles dizem, nessas "orações", que os demônios ficarão
distantes do local de culto tantos quilômetros. Caso algum demônio maluco —
"pois só pode ser maluco para estar neste lugar", dizem — demore mais
que cinco segundos para se retirar, é queimado imediatamente...
Apesar das efemeridades
descritas acima, vou tentar analisar com equilíbrio a tese de que os demônios
podem ser queimados quando alguém verbera contra eles, em um culto. Em primeiro
lugar, proponho as seguintes perguntas: Os demônios entram num local de culto?
Podem ser eles arrancados de um lugar onde os crentes se ajuntam, ou Deus
permite que eles ali permaneçam?
Sabemos que o templo é apenas
um espaço físico onde nos reunimos para prestar um culto coletivo a Deus. O
Senhor Jesus age no meio daqueles que se reúnem em seu nome e habita no coração
de seus servos (Mt 18.20; Cl 1.27). No entanto, isso não significa que o
Inimigo deixa de agir na vida das pessoas que lhe dão lugar, mesmo dentro de um
espaço onde ocorre um culto a Deus.
Nem Jesus ordenou que os
demônios ficassem distantes dEle tantos quilômetros, tampouco deu-lhes alguns
segundos para que desaparecessem, a fim de que não fossem queimaaaaaados...
Não! Jesus, no auge de sua consagração ao Pai, em jejum e oração, foi tentado
pelo Maligno, mas venceu-o pela Palavra de Deus (Mt 4.1-11).
Os demônios vêem e ouvem tudo
o que acontece em um culto. E há casos em que são eles que agem no meio do
povo, e não o Senhor Jesus! Imagine o caso da igreja de Laodicéia, em que o
Senhor Jesus estava do lado de fora (Ap 3.20)! O pastor daquela igreja, sendo
um desgraçado, miserável, pobre, cego e nu, dizia: "Rico sou, e estou
enriquecido, e de nada tenho falta". Haja arrogância!
É preciso ter em mente três
definições para a palavra "igreja". Existe a Igreja como Corpo de
Cristo, a igreja local e o templo, que também costumamos chamar de
"igreja". Os demônios não entram na Igreja — com "i"
maiúsculo —, porém no espaço destinado aos cultos sim, podendo também
influenciar ou até possuir alguns indivíduos da igreja local, mesmo durante a
performance de um super-pregador.
Portanto, mais importante do
que ficar berrando ao microfone que os demônios estão sendo queimaaados, com a
intenção clara de impressionar o ingênuo povo de Deus — que tem sido enganado
por falta de conhecimento (Os 4.6) —, é ensinar os crentes a se sujeitarem a
Deus (Tg 4.7a), a fim de que, de fato, tenham poder para resistir ao Diabo (Tg
4.7b; 1 Pe 5.8,9).
"CRENTE QUE NÃO FAZ BARULHO TEM DEFEITO
DE FABRICAÇÃO"
É mesmo? Quer dizer, então,
que o crente que grita é mais crente do que o que não grita? É a maritaca
superior às aves silenciosas ou às que emitem suaves grunhidos? Quem disse que
alguém para ser pentecostal tem de ser barulhento? Quando Elias saiu da
caverna, em Horebe, o Senhor se manifestou por meio do vento que quebrava
pedras? Estava Ele no terremoto ou no fogo? Não! Ele falou ao profeta mansa e
delicadamente (1 Rs 19.11-13).
Há casos em que, de fato, há
ruído, barulho na presença de Deus (Ez 37.7). No Céu, inclusive, haverá
altissonantes vozes de louvor a Deus: "... ouvi no céu como uma grande voz
de uma grande multidão, que dizia: Aleluia! Salvação, e glória, e honra, e
poder pertencem ao Senhor, nosso Deus" (Ap 19.1).
Mas nem sempre barulho denota
manifestação do Espírito.
Não combato a liberdade de
glorificarmos a Deus, e sim o mau costume que os manipuladores de platéia têm
de mandar o povo dizer "aleluia" e "glória a Deus" enquanto
pregam.
Isso é uma prática
reprovável, pois ninguém precisa nos mandar glorificar a Deus, num culto. E se
um crente, em um culto, quiser glorificar ao Senhor em voz baixa? É ele —
repito — inferior ao que o faz como se fosse uma maritaca?
"FALE EM MISTÉRIOS, IRMÃO!"
É triste ver uma parte do
povo de Deus sendo manipulada por homens que pensam estar lidando com
fantoches! Mandam os crentes falarem em línguas estranhas a todo o tempo, como
se pudessem fazer isso por iniciativa própria. Empregam seus bordões, levando
os incautos, quais títeres, a fazerem isso e aquilo. Em sua prepotência, pensam
até que podem controlar as operações do Espírito Santo!
Ora, as línguas estranhas — a
rigor, desconhecidas de quem as pronuncia — são dadas sobrenaturalmente pelo
Espírito de Deus. É Ele quem fala por meio de nós. Nesse caso, que história é
essa de os pregadores estimularem os crentes a falarem em mistérios? Quanta
presunção! E já não é de hoje que eles fazem isso, tratando os servos de Deus
como marionetes.
Não sou contra as
manifestações espirituais. Tenho convicção de que a promessa do derramamento de
poder do Espírito é para hoje (At 2.38,39). Aliás, o Senhor sempre me tem dado
mensagens em profecia e em línguas estranhas. Não sou eu quem resolvo falar
simplesmente porque sou pentecostal! Tudo ocorre de modo sobrenatural. Ainda
que, como profeta, eu tenha autocontrole (1 Co 14.32), não falo em línguas
porque quero. O impulso é do Espírito Santo, que é soberano em suas ações (Jo
3.8).
É bom que entendamos, à luz
da Bíblia, o porquê das línguas provenientes do Espírito de Deus. Elas podem
ser dadas para edificação do crente; e, nesse caso, não há necessidade de que
as pronunciemos em voz alta (1 Co 14.2,4). Mas há também as línguas pelas quais
são transmitidas mensagens do Senhor, quer as inteligíveis — como ocorreu no
dia de Pentecostes (At 2.7-12) —, quer as que necessitam de interpretação (1 Co
14.13,26-28).
"EU QUERO OUVIR AS SUAS LÍNGUAS
ESTRANHAS"
As línguas estranhas não são
produzidas por nós, mecanicamente, atendendo à ordem de animadores de
auditório. E essa distorção até municia os inimigos do pentecostalismo, que
gostam de zombar dos dons espirituais, principalmente devido aos abusos que
ocorrem quanto às línguas estranhas. Dizem os chamados cessacionistas que
existe contradição entre o que ocorre no meio dos pentecostais com o que
aconteceu no dia de Pentecostes.
Concordo plenamente que
esteja havendo, nesses últimos dias, mau uso dos dons espirituais. Prova disso
é a banalização das línguas estranhas. Há inclusive uma "cantora" que
gravou um "hino" que mescla pretensas línguas angelicais e uma
descrição de um certo anjo de nome impublicável que habita num "lugar
estreitinho e maravilhoso".
Mas, sabe de uma coisa? O que
realmente importa é que existem de fato línguas provenientes do Espírito. A
Palavra de Deus diz que, pelo mesmo Espírito, é dada a variedade de línguas e a
interpretação destas (1 Co 12.10), as quais podem ou não ser inteligíveis por
alguém presente num auditório, como vimos acima.
Lembro-me de que, há alguns
anos, na Assembléia de Deus em Cordovil, no Rio de Janeiro, o Senhor me deu uma
mensagem em línguas que eu desconhecia totalmente. Eu nada entendi, pois elas
provieram do Espírito. Mas havia no púlpito um pastor que conhecia vários
idiomas, o qual entendeu tudo o que falei. Pedindo o microfone, ele deu a
interpretação.
— Irmãos, o Senhor falou
claramente à igreja: "Eu sou o Supremo Senhor" — disse ele. Aleluia!
Não precisamos, pois, de estímulo externo para falar noutras línguas. Ninguém
precisa nos mandar fazer isso. Como diz a Palavra de Deus, "... um só e o
mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um
como quer" (1 Co 12.11).
Esse assunto me fez lembrar
de uma expressão muito usada em nossos dias: "reteté de Jesus". Você
já ouviu alguém falar disso ou participou de um culto do reteté? Bem, esse é o
assunto do próximo capítulo.
Capítulo 2
HAJA UNÇÃO!
Se alguém ensina alguma outra
doutrina e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e
com a doutrina que é segundo a piedade, ê soberbo e nada sabe, mas delira
acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias,
blasfêmias, ruins suspeitas, contendas de homens corruptos de entendimento e
privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho. Aparta-te dos
tais. 1 Timóteo 6.3-5
A palavra "unção" é
uma das mais pronunciadas no meio pentecostal, ao lado de outras como
"fogo", "glória", "vaso", etc. Há também
expressões novas — e esdrúxulas —, como "reteté de Jesus". Se um
pregador tem eloqüência, voz potente e principalmente facilidade para animar o
auditório, todos dizem: "Fulano tem muita unção" ou "Fulano é do
reteté". Afinal, o que é unção?
Nos tempos da Antiga Aliança,
reis, profetas, sacerdotes e coisas (colunas, objetos, etc.) eram ungidos (Gn
31.13; Êx 30.26-30; 40.15; 1 Sm 10.1; 1 Rs 19.16; Sl 133). A unção simbolizava
consagração de pessoas ou coisas ao Senhor. Mas, no Novo Testamento, Jesus
afirmou, após ter lido um trecho de Isaías (61.1-2), que a profecia quanto à
unção do Espírito sobre a sua vida tinha se cumprido (Lc 4.18-21). Deus o
ungira, no plano espiritual, e isso em si já era o bastante para o cumprimento
de sua missão na Terra (At 10.38).
O derramamento de azeite
representava, antigamente, unção divina propriamente dita sobre a vida de quem
ascenderia a uma posição de destaque (Nm 3.3; 1 Sm 16.13). No entanto, hoje,
não é mais necessário ungir pessoas com azeite para consagração ou confirmação
de seus ministérios. Basta a unção do Espírito Santo (2 Co 1.21; 1 Jo 2.20,27).
Também não é preciso ungir
objetos, a fim de consagrá-los a Deus, pois o Novo Testamento menciona a unção
literal somente para os enfermos (Mc 6.13), a qual deve ser aplicada pelos
presbíteros da igreja (Tg 5.14). O azeite, além de símbolo do Espírito Santo
(Zc 4.3-6), é o ponto de contato para estimular a fé do doente. Mas o
recebimento da cura não está relacionado com a unção, e sim com a oração da fé,
em nome do Senhor: "E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o
levantará" (Tg 5.15).
UNÇÃO DA "LOUCURA DE DEUS"
De tempos em tempos aparecem
pregadores "ungidos" anunciando novidades dissociadas das Escrituras,
mas sempre afirmando que têm o aval de Deus para isso. No plano espiritual,
estão em voga as "novas unções", acompanhadas de "novas
visões". Fala-se muito em "unção da loucura de Deus", com base
em 1 Coríntios 1.25: "Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os
homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens".
Os espalhafatosos pregadores
dessa "nova unção" vêem na passagem acima a justificativa para todas
as aberrações que dizem e fazem. Alguns têm ministrado a "bênção do
depósito celestial". Prometem que as pessoas que tiverem fé encontrarão
uma grande quantia em sua conta bancária! No entanto, a suposta bênção divina
traz ao "agraciado" um grande problema. Trata-se de um autêntico
"presente de grego"!
Não pense que sou incrédulo.
Creio sim num Deus que faz até moeda aparecer na boca de um peixe! Mas, se
aparecerem, digamos, cinqüenta mil reais na conta de alguém, como fica a sua
situação em relação à Receita Federal? Como o tal declarará isso no Imposto de
Renda, haja vista não poder dizer simplesmente: "Foi Deus quem me
deu"? O Senhor nos daria uma bênção pela qual nos tornaríamos sonegadores
de impostos, infratores da lei?
Quanto à expressão
"loucura de Deus", ela foi empregada por Paulo apenas para enfatizar
o quanto os seres humanos, por mais capazes que sejam, estão aquém do
Todo-Poderoso.
Ah, e ele também mencionou a
"fraqueza de Deus". Por que esses "ungidos" não pregam
também a "unção da fraqueza de Deus"? Como se vê, o texto que
empregam não apóia as suas atitudes extravagantes e as suas ministrações
insanas.
Por outro lado, em 1 Timóteo
6.3,4 o apóstolo Paulo — ao mencionar o "obreiro" que ensina outra
(gr. heteros, "dessemelhante") doutrina e não se conforma com as sãs
palavras de nosso Senhor Jesus Cristo — chamou esse tipo de "obreiro"
de louco! E aqui é louco mesmo! Não se trata de linguagem figurada. Eis a
descrição contida no versículo 4: "é soberbo e nada sabe, mas delira
acerca de questões e contendas de palavras..." Não seria essa a loucura ou
delírio presente na vida de alguns super-pregadores?
RETETÉ DE JESUS?
Uns dizem "reteté",
e outros, "repleplé". Ninguém sabe ao certo o que significam essas
expressões onomatopaicas — que devem ter se originado de uma brincadeira de
péssimo gosto com as línguas estranhas —, usadas para identificar pretensos
cultos pentecostais. Isso mesmo, pois, nos cultos genuinamente pentecostais, há
exposição bíblica e manifestação do poder de Deus, e não brincadeiras com os
dons espirituais e mau uso deles.
O termo "reteté"
não consta de dicionários oficiais; é um neologismo. Mas há quem diga que teve
origem no italiano; relacionado com a culinária, significaria:
"mistura", "movimento", "reboliço",
"festa", "aquilo que foge da normalidade", etc. O certo é
que essa expressão esdrúxula faz o maior sucesso no meio dito pentecostal. E ai
daqueles que falam alguma coisa contra isso! São taxados de frios e inimigos do
"mover de Deus".
Mas, quer saber de uma coisa?
Está na hora de darmos uma basta nessas efemeridades e brincadeiras na casa de
Deus!
De onde tiraram essa idéia de
que um culto só é pentecostal se pessoas marcharem, pularem, contorcerem-se ou
caírem? Que negócio é esse de os crentes ficarem rodopiando pra lá e pra cá? E
os servos de Deus que estudam as Escrituras, oram, jejuam, evangelizam e se santificam?
São eles inferiores aos crentes do reteté em razão de não tomarem parte em seus
reboliços?
QUEM GOSTA DO RETETÉ?
Já estive em várias reuniões
do reteté. Os "hinos" são apresentados em ritmos como axé, com
batuques que lembram reuniões de candomblé, e muito forró. Pura carnalidade!
Pessoas rodopiam, caem, riem, berram, etc. E alguns obreiros tolerantes,
frouxos, ainda dizem que isso se trata apenas de meninice.
Ah, se o reteté fosse apenas
meninice! Bastaria ensinar os "meninos" no caminho em que devem
andar, não é mesmo?
Porém, são poucos os crentes
que se envolvem com práticas estranhas por falta de amadurecimento. A maioria
gosta desses "moveres" por carnalidade e falta de temor a Deus! E, em
alguns casos, verifica-se até apostasia decorrente de influência maligna (cf. 1
Tm 4.1).
Obreiros neófitos gostam do
tal reteté, a ponto de se indignarem contra quem estimula o povo a ler mais a
Bíblia e ser mais equilibrado. Eles dificilmente oram e, quando o fazem,
valem-se das chamadas "orações de guerra". Ordenam, determinam,
decretam... Esses anões espirituais não têm fome pela Palavra. Quando um
pregador cita as Escrituras, bocejam. O negócio deles são as efemeridades;
gostam de movimentos — da carne, é claro.
Um dia desses, em um dos
aeroportos brasileiros, eu me pus a ler a Bíblia na sala de embarque — não é
sempre que faço isso em lugares como esse —, a espera da chamada de meu vôo. De
repente, um famoso super-pregador do reteté, de mãos vazias, se aproximou.
Sentando-se ao meu lado, ele disse, num tom que me pareceu zombeteiro ou um
tanto desdenhoso: "Pois é... quem ensina precisa mesmo ler a Bíblia".
Tentei inutilmente conversar
com ele sobre o que eu estava lendo nas Escrituras, mas o seu negócio era
contar vantagens. Apresentou-me, em cerca de dez minutos, toda a sua agenda...
Depois que nos despedimos, fiquei pensando que, para manipular os ingênuos
crentes do reteté, realmente não é preciso ler a Bíblia. Basta ter à mão um
arsenal de animação de auditório, suficiente para garantir o "mover de
Deus".
UNÇÃO DA GARGALHADA
No site YouTube
(www.youtube.com) há uma infinidade de vídeos para todos os gostos. Foi lá que
encontrei vários cultos do reteté e aberrações sobre os ministérios de
super-pregadores norte-americanos que muitos crentes idolatram. Alguns deles
são gurus da confissão positiva, modismo pernicioso que, há alguns anos, tem
levado muitos crentes a abandonarem o evangelho de Cristo.
Está no YouTube para todos
verem um "culto" em que um famoso pregador — cujas iniciais do nome
são K.H. —, pouco antes de morrer, precisando ser amparado por dois obreiros
para não cair, ministrava à platéia a "unção do riso". Simplesmente,
grotesco. Todos que vêem o vídeo confirmam: "Isso é uma aberração".
Alguns se convencem de que não se trata apenas de uma histeria coletiva — há
influência demoníaca mesmo.
No tal vídeo, uma mulher
uiva, como se fosse um lobo. Pessoas caem e lançam-se umas sobre as outras,
dando gargalhadas similares àquelas que só podem ser ouvidas em filmes de
terror. Um casal sentado, ao ser fitado por K.H., cai ao chão "em câmera
lenta", como se estivesse derretendo — o semblante deles é assustador.
Os vídeos de outro não menos
famoso super-pregador, cujas iniciais do nome são B.H., também impressionam.
Vestido como um astro e parecendo um super-herói, derruba a todos os que estão
à sua frente. Ele é um show-man. Pessoas se enfileiram para receber o golpe de
seu "paletó mágico". Mas, se realmente a unção de Deus está sobre
B.H., por que não forma uma fila de paralíticos, a fim de levantá-los?
Em outro vídeo, certo
pregador brasileiro — e o principal propagador do reteté —, demonstrando total
falta de bom senso, afirma que não queria apenas receber o sopro de B.H.:
"Se o sopro dele é tão poderoso, eu queria que cuspisse sobre mim". Como
se vê, essa "nova unção" para derrubar pessoas tem contribuído muito
mais para que os super-pregadores recebam glória dos homens do que para a
glorificação do nome do Senhor Jesus.
UNÇÃO DO LEÃO
No livro Evangelhos que Paulo
Jamais Pregaria, eu fiz menção da unção dos quatro seres, por meio da qual
"adoradores" caem ao chão, rugem como leões, batem os braços como
águias, imitam bezerros, etc. Certa cantora — que tem um grande poder de
influência sobre a juventude — foi um pouco mais além. Sob a "unção do
leão", engatinhou em um palco, levando milhares de fãs ao delírio.
Em seu blog, ela afirmou o
seguinte acerca do episódio:
Saímos para a ministração às 16h.
Me vesti de acordo com o que o Espírito colocou em meu coração. Um vestido de
veludo azul que comprei há mais de 10 anos no Seminário em Dallas. Um cinto
preto largo com "cara" de autoridade. Botas pretas, assim como na
última viagem em Florianópolis, com essa mesma mensagem de força, poder,
autoridade, e conforto necessário para pular e pisar com força, profeticamente,
na cabeça do diabo (...) Meus brincos comprados em Israel, e o anel com a pedra
ametista que ganhei quando eu nasci. Olhei para mim mesma no espelho e vi uma
guerreira (...) Houve um momento em que fez um "clique". Uma mudança
na atmosfera. Depois da música "Manancial" comecei a receber palavras
proféticas... A música acompanhou... O poder de Deus era palpável, e as
palavras proféticas continuaram. Um cântico espontâneo sobre o Cordeiro e o
Leão marcou para sempre a minha vida. E a unção de autoridade foi ministrada
sobre nós (...)
De repente, começamos a celebrar,
mas foi diferente. Eu saltava e parecia que estava em um trampolim, uma cama
elástica. Se antes pulava para romper, agora eu me sentia voando, pulando muito
alto, minhas pernas esticadas iam alto, ao menos essa era a sensação, mas
depois outras pessoas confirmaram. O vento nos meus cabelos e a sensação era de
pulos muito altos. Eu sabia que algo diferente estava acontecendo. Quando pulei
uma última vez, senti que era para me assentar. Não sabia se teria forças para
me levantar outra vez. Foi quando senti o impulso, me agachei e comecei a andar
como o Leão.
Pensamentos vieram à minha mente.
Eu disse ao Senhor: "É... agora a minha reputação acabou. Agora vou ver
quem vai ficar comigo". Mas prossegui, consciente do que estava
acontecendo, e senti a direção até mesmo de onde eu deveria ir. Quando parei,
não sabia como ou que fazer ao me levantar. Ainda no chão, me ergui de meio
corpo e gritei: "Um brado de vitória ao Senhor" (sem saber se alguém
responderia), e o som foi poderoso.
A música terminou grandiosamente.
Era o Leão da Tribo de Judá.
Até que ponto os impulsos que
sentimos podem ser atribuídos ao Espírito de Deus? Dirigiria Ele alguém quanto
a efemeridades, como tipo de roupa e calçado, penteados, cinto e até os brincos
a serem usados para participar de um culto, ou melhor, show? Ou levaria Ele um
crente a andar como um quadrúpede? Não vou citar muitas passagens bíblicas para
refutar tal aberração e responder a essas perguntas. Basta lermos com meditação
1 Coríntios 14 para percebermos como essa talentosa cantora e compositora está
equivocada quanto à operação do Espírito Santo.
TRANSFERÊNCIA DE UNÇÃO
Encontrei no site de
relacionamentos Orkut, na Internet, o currículo de um super-pregador, que se
diz avivalista: "Prepare-se para receber uma transferência de unção! Deus
tem levantado uma geração de avivalistas extravagantes, pessoas como você e eu
que renderão seu espírito numa dimensão mais profunda ao Espírito Santo de
Deus, a fim de sermos agentes mobilizadores de avivamento em nossas
cidades".
Tratarei do chamado
avivamento extravagante em outro capítulo, mas o tal pregador citou algo que
tem ocorrido em algumas reuniões do reteté: transferência de unção. Pessoas se
abraçam fortemente; algumas ficam literalmente grudadas; outras encostam as
suas testas umas nas outras; e há aquelas que caem ao chão movimentando-se
violentamente.
Os defensores desse modismo
aberrante argumentam de modo equivocado que Moisés transferiu a sua unção para
setenta anciãos. Na verdade, Deus usou o seu servo como um canal para dar a
outros setenta homens a sua (de Deus) unção, por assim dizer, como se lê em
Números 11.16,17. Observe que a capacitação proveniente do Espírito, que é
imensurável, foi partilhada pelo próprio Deus com os servidores de Moisés.
E disse o SENHOR a Moisés:
Ajunta-me setenta homens dos anciãos de Israel, de quem saber que são anciãos
do povo e seus oficiais; e os trarás perante a tenda da congregação, e ali se
porão contigo. Então, eu descerei, e ali falarei contigo, e tirarei do Espírito
que está sobre ti, e o porei sobre eles; e contigo levarão a carga do povo,
para que tu sozinho o não leves.
Não há na Palavra do Senhor
apoio algum para a tal transferência de unção. Trata-se de um modismo perigoso.
Deus até nos confere poder do alto através da intercessão de seus verdadeiros
servos, obedientes à Palavra (2 Tm 1.6; At 5.12; 8.17-19), mas nunca por meio
de espetáculos de super-pregadores soberbos, antiéticos, amantes do dinheiro,
que agem segundo o que pensam e sentem, desprezando a vontade de Deus (Mt
7.21-23).
UNÇÃO DE MONTES E CIDADES
Muitos também — ignorando que
a Bíblia é a nossa regra de fé, de prática e de vida — querem agir por conta
própria quanto à unção com óleo, aplicando-a de modo indiscriminado.
Não obstante, somente o
ministério está autorizado a ungir os enfermos. Tiago, ao mencionar
presbíteros, referiu-se aos ministros chamados por Deus, vedando essa prática a
diáconos, cooperadores e membros (cf. Tg 5.14; Mc 6.13).
Certos pregadores têm
afirmado que é preciso ungir casas, carros e até cidades para que tenhamos a
bênção de Deus. Um deles conta que, ao ter chegado a uma cidade, como nenhuma
alma se entregava a Jesus, Deus lhe revelou uma nova estratégia de
evangelização — percorrer a cidade inteira de carro, derramando azeite por onde
passasse. Haja azeite! Se essa é a solução, como ungir uma cidade grande como o
Rio de Janeiro?! E se alguém resolver ungir todo o Brasil?!
Há algum tempo, seguidores de
um grupo "evangélico" resolveram, numa "atitude profética",
escalar e ungir o pico Dedo de Deus, na região serrana do Rio de Janeiro.
Outros enterram garrafas ou latas de azeite em montes, a fim de tornar o
produto da oliveira "poderoso". Depois, o empregam em suas campanhas
para ungir casas, carros, carteiras de trabalho, etc. Ungem até os enfermos no
local da enfermidade!
ESTRANHA UNÇÃO PARA OS ENFERMOS
Alguns pregadores têm
afirmado: "Eu fui chamado para pregar milagres". Na verdade, nenhum
servo de Deus foi chamado para pregar os efeitos do evangelho, e sim o próprio
evangelho (Mc 16.15). E os tais efeitos devem acontecer naturalmente, como
conseqüência da proclamação do evangelho (Mc 16.17-20), e não de maneira
induzida.
Jesus curou muitas pessoas
(Mt 8.16,17). Os apóstolos também, em nome do Senhor, fizeram obras
extraordinárias, até maiores do que algumas praticadas pelo Mestre (At 5.15,16;
19.11,12), como Ele prometera (Jo 14.12). Contudo, não há apoio bíblico para as
operações estranhas que vêm ocorrendo em nossos dias.
Certos milagreiros esfregam
óleo no local da enfermidade, para depois extrair objetos que supostamente
indicam a ocorrência de enfermidades ou "trabalhos malignos". Essas
"operações" têm gerado muita confusão no meio do povo de Deus, e não
são poucos os obreiros que fazem perguntas sobre o assunto.
Nos tempos bíblicos, o azeite
era empregado diretamente nas feridas, mas como remédio (Is 1.6; Lc 10.34).
Hoje, a unção para os doentes é apenas simbólica. Não deve ser aplicada no
local da enfermidade. E se esta for numa parte íntima? Ademais, extrair pedaços
de ossos, pedras, filetes com sangue ou algo parecido do corpo das pessoas — se
é que não se trata de fraude — tem muito mais semelhança com as chamadas
cirurgias mediúnicas do que com a manifestação de Deus.
Embora muitos milagreiros e
seus defensores recorram a versículos bíblicos isolados para se justificarem
perante o povo, não vemos na Bíblia apoio consistente às suas estranhas
práticas. Não devemos aceitar como sendo da parte de Deus qualquer operação prodigiosa,
pois a própria Palavra do Senhor nos manda testar, examinar, julgar, provar o
que ouvimos, vemos e sentimos (At 17.11; 1 Ts 5.21; 1 Co 14.29; 1 Jo 4.1).
Alguém argumentará:
"Jesus não untou os olhos de um cego com lodo feito com a sua saliva? Não
devemos restringir os métodos de curar". Oh, sim. Mas Jesus não fez
daquela prática um método para curar os enfermos. Além disso, aquele episódio
isolado não respalda toda e qualquer prática dos milagreiros da atualidade.
Quanto à cura, Jesus disse:
"... porão as mãos sobre os enfermos e os curarão" (Mc 16.18). E a
imposição de mãos, como vimos, pode incluir a unção com óleo. Esta, no entanto,
não é a condição primacial para a cura, que ocorre por meio da fé (Lc 8.48;
17.19).
Qual dos apóstolos precisou de
azeite para levantar os enfermos? Já pensou se Pedro tivesse dito ao coxo junto
à porta Formosa: "Jesus te cura depois; agora, estou sem azeite para
ungi-lo"?!
"E quanto aos dons de
curar?" — alguém perguntará. Ora, estes se referem às operações multiformes
do Espírito Santo, e não às invenções dos criativos milagreiros. Deus age como
quer.
Quando Ananias visitou a
Saulo, que estava cego, tão-somente impôs-lhe as mãos, e caíram dos olhos do
apóstolo algo semelhante a escamas (At 9.17-18). Houve um sinal visível da
cura, porém Ananias não precisou empregar um método exótico.
RETETÉ DE TORONTO
Infelizmente, pastores hoje
têm apostatado da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de
demônios (1 Tm 4.1). Mas há casos raros em que eles "desapostatam",
isto é, arrependem-se, reconhecem o seu erro. Não foi esse o conselho que Jesus
deu ao pastor da igreja em Éfeso? "Lembra-te, pois, de onde caíste, e
arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei e
tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres" (Ap 2.5).
O pastor canadense Paul
Gowdy, que abraçara várias aberrações na Igreja Aeroporto de Toronto,
arrependeu-se e escreveu, há algum tempo, uma carta, pela qual discorre sobre o
seu retorno às verdades da Palavra de Deus. Ele menciona uma série de heresias,
modismos e manifestações — chamadas por ele mesmo de demoníacas—que,
infelizmente, muitas igrejas brasileiras estão experimentando. A diferença é a
designação. Aqui, elas são conhecidas como "reteté", "unção da
loucura", etc.
Mas, na tal carta, publicada
em vários sites e blogs norte-americanos — como www.revivalschool.com e
www.discernment-ministries.org —, o pastor Gowdy diz que não foi nada bom o que
ocorreu na Igreja Aeroporto de Toronto. Ele já começa dizendo que a experiência
de Toronto para ele foi uma mistura de maldição. Segundo a sua descrição, o
resultado de todo aquele "mover" (ou, como diríamos aqui no Brasil,
"reteté") foi que a igreja praticamente se auto-destruiu, esfacelando-se:
Devoramo-nos uns aos outros com
fofocas, falando mal pelas costas, com divisões, partidarismo, críticas
ferrenhas uns dos outros, etc. Depois de três anos "inundados" orando
por pessoas, sacudindo-nos, rolando no chão, rindo, rugindo, rosnando, latindo,
ministrando na igreja Internacional do Aeroporto de Toronto, fazendo parte de
sua equipe de oração, liderando o louvor e a adoração naquele local,
praticamente vivendo ali, tornamo-nos os mais carnais, imaturos, e os crentes
mais enganados que conheci.
As manifestações dos dons
espirituais na Igreja do Aeroporto, a partir de 1994, deram lugar à tal
"bênção de Toronto".
O povo que ia à igreja deixou
de ouvir a exposição da Palavra, receber libertação e graça vindas do Senhor,
para ouvir gritos de "fogo!" e sacudir o corpo de modo estranho.
Gowdy acredita que os líderes da igreja eram pessoas sérias, que amavam o
Senhor, até que caíram no laço do engano.
Ele diz o seguinte dos
líderes da Igreja do Aeroporto e de si mesmo:
Não amaram o Senhor o suficiente
para guardar os seus mandamentos. Fracassaram por não obedecer as Escrituras, e
se desviaram porque andavam algo maior e grandioso, mais empolgante e dinâmico.
Eu também cometi este pecado. Preguei sobre esta renovação na Coréia, no Reino
Unido, nos Estados Unidos e aqui no Canadá, e estou profundamente arrependido
ao escrever este relato, e peço-lhes que vocês, a noiva e o corpo de Cristo me
perdoem, especialmente os pentecostais e carismáticos, pois todos fazem parte
de minha família teológica.
Gowdy também pergunta, num
trecho da carta: "Como fiquei tão cego assim?" Ele diz isso, ao
descrever como pessoas imitavam cachorros, faziam de conta que urinavam nas
colunas da igreja, latiam, rugiam, cacarejavam, "voavam" e se
comportavam como bêbadas. Hoje, ele não tem dúvidas de que tudo aquilo era algo
irreverente e blasfemo ao Espírito Santo.
Ele diz que ficou perturbado
com uma profecia que veio através da esposa de um dos líderes. Dizendo ter sido
arrebatada à presença do Senhor Jesus, ela afirmou que o que experimentou foi
muito melhor que sexo! "Como alguém pode comparar o amor de Deus ao
sexo?", pensou o pastor Gowdy.
Mas o que mais impressiona em
sua narrativa é o fato de ele reconhecer que os demônios agiam livremente em
meio a todo aquele reteté, por assim dizer:
Quando começamos a suspeitar de
que os demônios estavam à vontade em nossos cultos, John Arnot ensinava que
devíamos nos perguntar se eles estavam chegando ou saindo. Se está saindo
deles, está bem! John defendia o caos afirmando que não devíamos ter medo de sermos
enganados, pois se havíamos pedido ao Espírito Santo para nos encher; como
Satanás poderia nos enganar? (...)
Tais palavras eram convincentes,
mas totalmente contrárias às Escrituras, pois Jesus, Paulo, Pedro e João
alertaram-nos sobre o poder dos espíritos enganadores, especialmente nos
últimos dias. Mesmo assim, não devotamos amor a Deus para lhe obedecer a
Palavra, e, Como conseqüência, abrimo-nos à ação de espíritos mentirosos (...)
...eu rolava pelo chão, certa
noite, "bêbado no Espírito", como costumávamos dizer, e ali, cantando
e rolando no chão, comecei a cantar uma canção de ninar: "Maria tinha um
cordeiro e seu pêlo era mais alvo que a neve". Cantei esta música infantil
de maneira debochada e imediatamente alguma coisa em meu coração sussurrou que
aquilo era um demônio...
Após essa triste experiência,
Gowdy se arrependeu. "Como um demônio entrou em mim? Eu não amava a Deus?
Não era zeloso pelas coisas de Deus? Não era totalmente apaixonado por
Jesus?", questiona. Mas hoje ele não tem dúvidas de que espíritos imundos
se manifestaram através de sua vida. E, por isso, se afastou da Igreja do
Aeroporto e resolveu, anos depois, denunciar as experiências que ali viveu.
Ele também conta que pessoas
de sua ex-igreja lhe perguntara m se já havia recebido a espada dourada do
Senhor. E então lhes perguntou de que se tratava, pensando ser uma palavra
profética relacionada com as Escrituras. Mas ouviu deles a seguinte resposta:
Não, não é a Bíblia; é uma espada
invisível que somente os verdadeiramente puros poderão receber. Se for tomada
de maneira errada, então será morto pelo Senhor. Mas, se você for santo o
suficiente para recebê-la, então poderá desembainhá-la, pois ela cura aids,
câncer, etc. e produz salvação. A pessoa deve fazer gestos de ataque, imaginando
ter em suas mãos esta espada invisível, avançando sobre as pessoas enquanto
está em oração!
"O que é isso, desenho
animado?", alguém poderá perguntar. De fato, a descrição de Gowdy seria
cômica se não fosse trágica. E, infelizmente, a realidade brasileira não é
diferente. Muitos crentes empunham espadas douradas em vez da espada do
Espírito (Ef 6.17); e calçam sapatos de fogo em vez dos calçados da preparação
do evangelho da paz (Ef 6.15).
Paul Gowdy menciona outras
manifestações e heresias — que abordarei em outros capítulos desta obra — e
conclui a carta, arrependido por ter ensinado "coisas que não são
bíblicas". Diz ele: "Eu não testei os espíritos quando a Palavra
ordena que assim seja feito. Todos os que estavam ali quando estas coisas
começaram a acontecer sabem que o que escrevo é a verdade".
Destaco agora algumas das
últimas palavras contidas na carta:
... temos muitas contas a
prestar; o Senhor lhes abrirá os olhos qualquer dia desses. Imagino que quando
esta carta for publicada serei bombardeado por cartas de ambos os lados... Bem,
o Senhor conhece meu coração e por sua graça haverá de me guiar a toda verdade,
pois quero conhecer a Jesus Cristo o crucificado (...)
Creio que somos como a igreja de
Laodicéia; pensamos que somos ricos, prósperos e sem necessidade alguma, e, no
entanto não percebemos que estamos cegos e nus. Precisamos levar a sério o
conselho de Jesus comprando ouro refinado no fogo (que fala do sofrimento e não
de espíritos enganadores), vestiduras brancas para cobrir nossa nudez e colírio
para os olhos para poder ver outra vez. O Senhor nos chama ao arrependimento, e
graças ao Senhor pelo que ele é, pois nos conduzirá e nos restaurará ao Pai.
Ora, o que adianta os crentes
rirem e rolarem pelo chão dentro dos templos, se as almas continuam perdidas do
lado de fora?
Diante do exposto, cito ainda
o que está escrito em 1 Coríntios 15.1,2: "Também vos notifico, irmãos, o
evangelho que já vos tenho anunciado, o qual também recebestes e no qual também
permaneceis; pelo qual também sois salvos, se o retiverdes tal como vo-lo tenho
anunciado, se não é que crestes em vão".
DÚVIDAS SINCERAS SOBRE "NOVAS
UNÇÕES"
Pessoas sinceras e tementes a
Deus me perguntam sobre o "cair no Espírito", a "unção do
riso" e outros "moveres". São irmãos em Cristo, servos do
Senhor, que desejam aprender a cada dia a sã doutrina. Perguntam, não para
tentar me pôr em apuros, mas porque querem ter um posicionamento definido,
seguro, sobre o assunto.
O motivo da dúvida desses
irmãos é compreensível, pois, quando estudamos sobre o avivamento de Azusa
Street, em Los Angeles (1906), e acerca do início da Assembléia de Deus no
Brasil (1911), são comuns as menções a momentos em que irmãos caíam sob o poder
de Deus ou riam sem parar.
É claro que as experiências
relacionadas com o Movimento Pentecostal — ainda que envolvam santos como
William Seymour, Gunnar Vingren e Daniel Berg — não devem ser supervalorizadas,
a ponto de as equipararmos às incontestáveis verdades da Bíblia (Gl 1.6; 1 Co
4.6; 15.1,2). Respeito esses pioneiros do pentecostalismo clássico, mas a minha
fonte primária de autoridade continua sendo a Palavra de Deus.
Como disse Bryan Chapell,
"Sem uma autoridade suprema em defesa da verdade, toda luta humana não tem
valor fundamental, e a própria vida torna-se fútil. Tendências modernas de
pregação que negam a autoridade da Palavra, em nome da sofisticação
intelectual, conduzem a um subjetivismo desesperador em que as pessoas fazem o
que é direito a seus próprios olhos — situação cuja futilidade a Escritura já
anunciou claramente (Jz 21.21)" (Pregação Cristocêntrica, Editora Cultura
Cristã, p.23).
A Bíblia é um Livro de
princípios, e estes devem ser considerados antes de qualquer análise de
manifestações, independentemente das pessoas nelas envolvidas. E há vários
princípios relacionados com o culto genuinamente pentecostal em 1 Coríntios 14.
Citarei apenas alguns:
1) O propósito principal das
manifestações do Espírito em um culto é a edificação do povo de Deus
(vv.4,5,12). Os risos intermináveis e as quedas que temos visto hoje edificam?
2) A faculdade do intelecto
não pode ser desprezada no culto em que o Espírito Santo age (vv.15,20).
Ninguém de fato usado pelo Espírito perde os sentidos, deixa de raciocinar,
etc.
3) O culto a Deus não deve
levar os incrédulos a pensarem que os crentes estão loucos (v.23). O que pensam
os não-crentes que assistem a certos cultos do reteté, em que pessoas caem ao
chão, rindo sem parar e rolando umas sobre as outras?
4) Deve haver ordem e
decência no culto; tudo deve ocorrer a seu tempo: louvor, exposição da Palavra,
manifestações do Espírito (vv.26-28,40). Um culto que não tem ordem nem
decência é dirigido pelo Espírito?
5) No culto, deve haver
julgamento, a fim de se evitar falsificações (v.29).
6) Haja vista o espírito do
profeta estar sujeito ao próprio profeta, é inadmissível que aconteçam
manifestações consideradas do Espírito Santo em que pessoas fiquem fora de si
(v.32).
7) O Deus que se manifesta no
culto não é Deus de confusão, senão de paz (v.33).
8) Se alguém cuida ser
profeta ou espiritual, deve reconhecer os mandamentos do Senhor (v.37). O
leitor está disposto a submeter-se aos mandamentos do Senhor? Ou é um daqueles
que, irresponsavelmente, dizem: "Não podemos pôr Deus em uma
caixinha"?
GUNNAR VINGREN: "NÃO ME ENVOLVAM
NISSO"
Como explicar as experiências
da Rua Azusa? E os relatos contidos no Diário do Pioneiro de Gunnar Vingren,
editado pela CPAD? As informações contidas nesse livro — que, repito, não é a
Bíblia — têm como objetivo enfatizar que a glória de Deus era tão intensa,
naqueles dias, a ponto de ser impossível permanecer de pé, em alguns momentos.
E a alegria era tão grande, que irmãos riam continuamente, externando tal
alegria, mas permaneciam conscientes.
O que aconteceu no tempo dos
pioneiros não pode ser comparado aos atuais "moveres", verdadeiras
aberrações. Na Azusa e em Belém, as pessoas envolvidas nas manifestações
citadas estudavam a Bíblia, oravam, jejuavam, tinham um bom testemunho e se
submetiam inteiramente à vontade de Deus.
Não havia naquelas reuniões
super-pregadores, paletó mágico, sopro ungido, sapato de fogo, etc. E mais: o
nome de Jesus Cristo era glorificado!
Muitos pensam que Deus se
manifesta derrubando pessoas. Isso é um engodo! Lembremo-nos de que quem lança
pessoas ao chão à moda dos super-pregadores é o Diabo (Mc 9.17-27; Lc 4.35).
Jesus a ninguém derruba. Mas alguém pode cair por não suportar a glória da sua
presença, como aconteceu com o apóstolo João.
Reconheço que alguém, em um
culto pentecostal, possa até sentir a glória de Deus de modo tão intenso, a
ponto de não suportar ficar de pé. Isso já aconteceu com pessoas piedosas e
tementes a Deus. João, o apóstolo, em Apocalipse 1.17, afirmou, referindo-se ao
Senhor Jesus: "E, quando o vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre
mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; eu sou o Primeiro e o Último".
Da experiência vivida por
João (Ap 1) extraímos verdades importantes:
1) Ele não perdeu, em momento
algum, a consciência. Haja vista ouvir claramente a mensagem de Jesus. Não foi
um transe ou algo parecido.
2) Ele também não caiu ao
chão estrebuchando-se ou debatendo-se.
3) Ele caiu diante da
presença real de Jesus Cristo glorificado. Quem poderia, diante de tamanha
glória, permanecer sobre seus pés?
4) João caiu aos pés de
Cristo. Muitos não caem de joelhos, mas são derrubados, caindo para trás, de
costas.
Permaneçamos, pois, em pé
diante do Senhor e valorizemos a genuína manifestação do Espírito Santo,
baseada inteiramente na Palavra de Deus. Lembremo-nos de que nós temos a unção
do Santo e sabemos tudo (1 Jo 2.20).
Espero você no próximo
capítulo, a fim de apresentar-lhe análises de hinos estranhos...
Capítulo 3
MAIS HINOS ESTRANHOS
A palavra de Cristo habite em
vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns
aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao Senhor com
graça em vosso coração. Colossenses 3.16
Tem sido um grande problema
em nossos cultos o chamado "período de louvor" — um verdadeiro
festival de cantoria e dança, em muitos lugares —, que ocupa praticamente o
tempo todo das reuniões.
Geralmente, o culto começa
com um momento de louvor. Depois, em alguns lugares, cânticos do hinário. Em
seguida, participação dos grupos musicais, dos cantores, avisos... Quanto tempo
é dedicado à exposição da Palavra? Bem, depois de todos cantarem, o tempo que
sobrar é para a pregação...
Mas não vou falar agora de
liturgia; há um capítulo específico sobre isso nesta obra. Falarei sobre
algumas letras de canções tidas como hinos de louvor a Deus — dando
continuidade no assunto desenvolvido em um dos capítulos do livro Erros que os
Pregadores Devem Evitar — e discorrerei sobre danças e coreografias, procurando
responder às perguntas que venho recebendo sobre esses assuntos.
Para quem é o nosso culto? A
quem devemos cantar louvores, bem como tocar bem e com júbilo? Quais são as
nossas motivações ao compor ou entoar hinos no templo, destinado ao culto ao
Senhor? Estamos mesmo louvando a Deus, ou as letras de nossas composições nada
têm de louvor a Jesus? Pretendo responder a essas perguntas à luz da Bíblia
neste capítulo.
Eu sei que, ao analisar
letras de "hinos", estarei mexendo num vespeiro, uma vez que as
canções de maior sucesso e apelo comercial são as que priorizam efemeridades, e
não o louvor a Deus. Além disso, boa parte dos cantores evangélicos segue ao
caminho dos "louvores" de auto-ajuda. Eles animam o público com
canções desprovidas de sólido fundamento bíblico, promovendo um outro
evangelho, que prioriza as preferências e necessidades das pessoas, e não a
vontade do Senhor.
ATENÇÃO, SONHADORES APAIXONADOS!
Atenção, atenção, geração de
"sonhadores apaixonados", vou logo avisando que esta análise da
conhecida canção "Sonhos de Deus" poderá deixá-los um tanto
irritados! Mas peço-lhes que sejam imparciais e valorizem o que a infalível
Palavra de Deus tem a dizer (1 Pe 1.24,25), a menos que não queiram mais andar
segundo a Bíblia.
Muitos cantam de cor:
"Se tentaram matar os teus sonhooos, sufocando o teu coraçããão; se
lançaram você numa covaaa; e ferido perdeu a visããão..." Nessa canção,
somos retratados como pessoas que pensam ser pobres em razão de desconhecerem o
potencial que têm dentro de si. Ela tem como objetivo apresentar uma mensagem
motivacional, de auto-ajuda, cuja característica principal é mostrar que o
crente, se pensar positivo e usar palavras convictas, torna-se forte, podendo
mudar todas as circunstâncias e trazer à existência o que não existe.
Ah, como as palavras dessa
canção nos animam e nos motivam! Percebemos, ao cantá-la, que não há limites
para um sonhador. Tudo lhe é possível... Sabe o que é isso? Humanismo!
Antropocentrismo puro! Essa canção realmente agrada uma boa parte dos crentes e
está de acordo com as mensagens da moda, que giram em torno de
"sonhos", isto é, projetos que estão em nosso coração.
A Palavra de Deus nos alerta
quanto ao perigo de confiarmos em nosso coração (Jr 17.9). Em nenhuma parte
dela somos estimulados a "sonhar os sonhos de Deus". É óbvio que
podemos ter projetos, aspirações, "sonhos". O perigo está em
acreditar que todas essas aspirações provêm do Senhor. É claro que Ele nos
revela algumas coisas mediante sonhos de verdade, quando dormimos (Gn 37.5,9;
Mt 2.12), mas isso nada tem que ver com "sonhos de Deus que jamais vão
morrer".
"E a promessa de sonhos
para os crentes de hoje, em decorrência do derramamento do Espírito
Santo?" — alguém perguntará. Ora, a promessa diz respeito a sonhos de
verdade (revelações de Deus), e não a "sonhos" no sentido de desejos
e aspirações (Jl 2.28,29).
CUIDADO COM OS SEUS "SONHOS"
Interessante como os
super-pregadores e os cantores-ídolos gostam de basear as suas mensagens
motivacionais na biografia de José. Eles só não atentam para o fato de que
aquele servo de Deus nunca foi um "sonhador"! Os seus irmãos o
chamaram de "sonhador-mor" (Gn 37.19), mas os seus sonhos foram
revelações de Deus, e não "sonhos", projetos (Gn 37.5-10). Muitos
pensam que ele ficava o tempo todo "sonhando" de olhos abertos:
"Ah, se eu fosse o governador do Egito!" Que engano!
Mas a canção em apreço também
diz: "Não desista; não pare de crer; os sonhos de Deus jamais vão
morrer". Essa invencionice de que os nossos projetos são "sonhos de
Deus" lamentavelmente tem desviado o povo do Senhor da verdade, que é uma
só para os nossos dias: qualquer pessoa que diz servir a Deus deve se humilhar,
e orar, e buscar a sua face, e se converter (2 Cr 7.14), ao invés de ficar
"sonhando os sonhos de Deus".
Se todos os
"sonhos" ou planos de Davi tivessem se concretizado, seguindo à
"profecia de auto-ajuda" de Natã (2 Sm 7.3), ele não teria cumprido a
vontade de Deus! E olha que o principal rei de Israel tinha um bom
"sonho": construir a Casa de Deus em Jerusalém. Felizmente, o Senhor
usou o próprio profeta Natã — que errara, ao dizer a Davi que devia fazer tudo
o que estava em seu coração — para desfazer a falaciosa "profecia
motivacional" (vv.3-17).
Todos nós temos aspirações ou
"sonhos", porém é preciso tomar muito cuidado com esse modismo de
atribuir todo e qualquer desejo do coração ao Senhor. A Bíblia diz: "Do
homem são as preparações do coração, mas do Senhor a resposta da boca. Todos os
caminhos do homem são limpos aos seus olhos, mas o Senhor pesa os
espíritos" (Pv 16.1,2).
DESISTA DE CANTAR ESSA CANÇÃO!
Muitos não conseguem — ou não
querem — enxergar que as verdades centrais da fé cristã estão perdendo espaço
para a supervalorização do ser humano. Somos tão importantes assim, a ponto de
um culto ser voltado todo para o nosso "eu"?
Ora, os cânticos que entoamos
devem ser em louvor a Deus (Sl 136.1-3; 138.1,2), e a nossa maior pregação deve
ser Jesus Cristo crucificado (1 Co 1.22,23; Fp 3.18). O que passar disso com
certeza faz parte do plano diabólico de, nos últimos dias, desviar os crentes
da sã doutrina (1 Tm 4.1; 2 Tm 4.1-5).
Mas prossegue a canção:
"Não desista; não pare de lutar; não pare de adorar". Oh, até que
enfim uma ênfase à adoração... Mesmo assim, sem nenhuma especificidade.
Simplesmente, "não pare de adorar". Adorar a quem? Adorar como?
Adorar com quê? Cantando essa "canção" de auto-ajuda, recheada de
humanismo? Que Deus nos ajude a tirar do nosso meio esse perigoso
antropocentrismo, que nos afasta cada vez mais da vontade do Senhor,
levando-nos a confiar em nossas "palavras mágicas" e em nossos
"sonhos".
Alguém pode pensar que estou
exagerando. Mas a composição em análise enfatiza o que qualquer palestrante ou
livros seculares de auto-ajuda dizem. Ela parece mesmo ter sido inspirada em
livros como Nunca Desista de seus Sonhos ou Você É Insubstituível. Não há
nenhuma menção à vontade de Deus e à sua grandeza; não se faz referência à obra
salvífica realizada na cruz por Jesus Cristo, tampouco à vida de santificação e
renúncia que o crente deve ter nesta vida, ante a iminente volta do Senhor (cf.
Lc 9.23; Hb 12.14; 1 Jo 3.1-3).
Quem não gosta de ouvir elogios
e palavras animadoras? Ah, como é bom ouvir uma mensagem que nos motiva a ser
felizes nesta vida, que nos estimula a usar toda a "nossa força" para
mudar este mundo! Contudo, não se anime tanto! Nada somos em nós mesmos! Temos
de nos humilhar debaixo da potente mão do Senhor (1 Pe 5.6; Sl 138.6; Ef 6.10).
Nada de auto-ajuda! Precisamos é da ajuda do alto!
VOCÊ É O "CARA"
Diz ainda a canção em
análise: "Levanta teus olhos e vê; Deus está restaurando os teus sonhos; e
a tua visão". Meu Deus! Não agüento mais tantas palavras de auto-ajuda!
Alguém argumentará: "Viu, irmão Ciro? A canção fala de Deus. Por que ser
tão crítico?"
Oh, sim, é verdade; há uma
referência a Deus! Mas não se anime tanto... Observe que Ele é mencionado
restaurando os "teus" sonhos, a "tua" visão. Afinal, o que
vale mesmo é o que "você" sente, o que "você" pensa, o que
"você" sonha... Você, você, você! "Você é o cara", como
diria um famoso jogador de futebol...
Que visão Deus estaria
restaurando? Visão de quê? A Palavra do Senhor nos manda olhar para Jesus,
autor e consumador de nossa fé (Hb 12.1,2). No entanto, depois de tanta ênfase
ao ser humano, a composição em apreço só pode estar incentivando o crente a
olhar para dentro de si mesmo e contemplar as suas potencialidades e a sua capacidade
de "sonhar" os "sonhos de Deus", e não olhar para o Senhor
Jesus, não é mesmo? Por falar em Jesus, o nome dEle não aparece nenhuma vez
nessa canção!
A última parte do
"hino" em análise diz: "Recebe a cura; recebe a unção; unção de
ousadia; unção de conquista; unção de multiplicação". Recebe, recebe,
recebe! Viva o humanismo!
Não é preciso mais adorar a
Deus em espírito e em verdade. Com o modismo que se instalou no meio do povo de
Deus, de todos acharem que podem profetizar na hora em que bem entendem, temo
que esta parte da composição fomente mais ainda essa prática descabida e
antibíblica. De acordo com a Palavra, nem todos são profetas; devem profetizar
dois ou três, enquanto os outros julgam (1 Co 12.29; 14.29).
Devido ao falacioso e também
pernicioso movimento da confissão positiva, muitos crentes acreditam que há
poder próprio em suas declarações de fé e acham que podem abrir e fechar portas
por meio de palavras de ordem; e pensam que têm o poder de determinar,
decretar, etc. Isso contraria a Palavra de Deus (Hb 4.12; Jo 14.13; Jr 33.3; Tg
5.17).
O crente deve pedir, suplicar
e rogar (Mt 7.7,8; Jr 23.19), e não determinar, decretar e profetizar quando
bem entende.
Ezequiel profetizou,
pronunciando a Palavra de Deus, conforme se lhe deu ordem, e não porque se
considerava "a boca de Deus na Terra" (Ez 37.1-10).
"Bendito serei no campo;
bendito serei; por onde eu passar; onde eu tocar abençoado será, quando eu
obedecer a sua voz". Boa conclusão! A obediência é de novo enfatizada,
como no começo. Além disso, assevera-se que o crente não deve ser apenas
abençoado, e sim uma bênção, um canal de bênçãos para os que estão à sua volta
(Gn 12.1-3). De fato, o crente fiel — que atentamente ouve o Espírito Santo —,
por onde quer que passe, influencia pessoas; negócios prosperam, igrejas são
abençoadas, etc.
PARA QUEM DEVEMOS CANTAR?
No livro de Salmos, principal
referencial das Escrituras sobre música e louvor, os salmistas, em suas
composições, seguem, grosso modo, a uma das premissas abaixo:
1) Dirigem palavras de louvor
ou oração diretamente a Deus (3.7; 6.1; 7.1; 9.1; 30.1, etc).
2) Falam de si mesmos, mas em
relação à grandeza do Senhor (18.2; 23.1; 42.1; 73.2,23; 103.1; 104.1, etc).
3) Mencionam a magnificência
do Criador (19.1; 24.1, etc).
4) Estimulam todos a louvarem
ao Senhor (95.1; 107.1; 112.1; 113.1, etc).
5) Mencionam as
bem-aventuranças que existem para o justo, em contraste com o ímpio (1.1,2;
36.1, etc).
As canções tidas como hinos
não cumprem nenhuma das proposições acima. Não exaltam a Deus de forma alguma.
São voltadas para o ser humano, com elogios e mensagens triunfalistas, do tipo
auto-ajuda barata. Outro problema é que algumas letras desses "hinos"
até mencionam o Senhor, porém o apresentam como um ser mitológico ou um
super-herói. Prova disso é uma canção muito entoada pelos jovens cuja letra nos
leva a pensar no Robocop: "Braço de ferro, punho de aço..."
São insuportáveis as canções
com mensagens mais ou menos assim: "Você é ungido, escolhido, ...ido,
...ido e ...ido".
Observe que é o ser humano
quem recebe todos os elogios e palavras de ânimo. Podemos chamar isso de louvor
a Deus? É claro que não. Mas, sabe o que está em voga no momento?
Compor para o Diabo...
NOVA MODA: COMPOR PARA SATANÁS
Lembro-me de que a minha
irmã, quando eu era menino, cantava um corinho que mudava de assunto
bruscamente, cujo refrão mencionava o Tentador: "Jerusalém, que bonita é;
ruas de ouro, mar de cristal... Vamos pisar, meus irmãos, vamos pisar na cabeça
do Diabo se Jesus nos conceder". Noutra parte, a cômica letra dizia:
"Jesus aumenta um pouquinho a minha fé e também me dá poder pra pisar em
Lúcifer".
Não é de hoje que o ingênuo
povo de Deus — não na sua totalidade, é claro — vibra com letras ofensivas ao
Inimigo e outras efemeridades, em vez de palavras de louvor ao Senhor.
Mas os compositores da
atualidade estão inovando. Agora, eles verberam diretamente contra o Diabo!
Certa vocalista e líder de um
grupo idolatrado por boa parte da juventude evangélica, ao falar sobre um
megashow que se realizaria na Praça da Apoteose (Rio de Janeiro), em julho de
2007, demonstrou o quanto está enganada sobre algumas de suas motivações para
compor os seus "hinos":
... em uma madrugada em que eu
estava irritada com tantas afrontas de satanás... Eu compuz (sic), pela primeira
vez, uma música para ele. Eu fiz questão de falar, zombar e declarar que se ele
pensa que eu vou parar, é melhor ele desistir. Maior é o que está em mim.
Ela se referiu à canção
"Mais que Vencedor", por meio da qual dirige palavras e gestos
ofensivos diretamente ao Diabo.
Para ser honesto, a letra em
si não chega a ser tão ofensiva. Em compensação, a parte gestual, bem como as
danças e coreografias "proféticas" fazem-nos ter a impressão de que,
durante a apresentação do "louvor", está-se "malhando um Judas".
É correto estimular o povo de
Deus a verberar contra o Diabo? Que edificação uma letra com ofensas ou
desafios (ainda que indiretos) ao príncipe das trevas pode trazer ao povo de
Deus? É correto compor e cantar "hinos" para zombar dele?
Não devemos apenas exaltar o
nome do Senhor, além de cantar as suas misericórdias e os seus juízos?
MAIS QUE VENCEDOR? TENHO DÚVIDAS...
Sabemos que o Diabo já está
julgado (Jo 16.11). Mas ele só será esmagado debaixo de nossos pés no futuro
(Rm 16.20; Ap 20.1-3,10). Por isso, a nossa postura deve ser de resistência,
com as armas que recebemos de Deus (2 Co 10.4,5; Ef 6.10-18), e não de ofensa
ao príncipe das trevas (1 Pe 5.8,9). E essa oposição deve ocorrer por meio de
sujeição a Deus (Tg 4.7), e não mediante xingamentos ao Adversário.
Cantores-ídolos e animadores
de auditório gostam de frases de efeito como: "O Diabo está debaixo dos
meus pés. Se quiserem vê-lo, olhem para a sola do meu sapato". Dizem que
amarram Satanás e o esmagam, e propagam a idéia de que devemos achincalhá-lo,
referindo-se a ele como um ser fraco, incapaz, que nada pode fazer contra os
servos de Deus.
Entretanto, precisamos ser
realistas e equilibrados. Não podemos ignorar que o Inimigo tem permissão para
investir contra a vida dos salvos: "Eis que o diabo lançará alguns de vós
na prisão, para que sejais tentados..." (Ap 2.10). Em 2 Coríntios 2.11,
está escrito:"... não ignoramos os seus ardis". Além disso, o
apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, asseverou: "Pelo que bem
quisemos, uma e outra vez, ir ter convosco, pelo menos eu, Paulo, mas Satanás
no-lo impediu" (1 Ts 2.18).
Devemos andar como Jesus
andou (1 Jo 2.6). E Ele, ao ser tentado pelo Inimigo, valeu-se apenas da
Palavra de Deus, sem ofendê-lo ou chamá-lo para a briga. Tão somente disse
"Está escrito" e citou a Palavra (Mt 4.1-11). Da mesma forma, o
arcanjo Miguel, que talvez seja mais poderoso do que o próprio Satanás, não
ousou pronunciar juízo de maldição contra ele (Jd v.9). Quem somos nós para
fazer isso?
O grande problema dessa ilusória
canção é que ela leva até crentes com a vida em pecado a se sentirem vitoriosos
sobre o Inimigo! Contudo, se não se arrependerem, passando a andar segundo a
vontade de Deus, estarão perdendo tempo!
Seus gritos não serão
melhores do que os de torcedores de futebol! E o Adversário continuará rindo
deles! Lembra-se de Sansão? Pensou que venceria os inimigos como dantes,
ignorando os seus pecados contra Deus... Que decepção!
O DIABO AGRADECE A PREFERÊNCIA!
Confesso que consigo ver
poucas diferenças entre um show dito evangélico e um espetáculo mundano. Tanto
num quanto noutro há palco, parafernália musical, platéia animada e
irreverente, luzes coloridas, danças, além de vocalista e músicos se
comportando como astros. Onde estão as diferenças?
Hoje, é praticamente
impossível distinguir um culto (culto?) evangélico (evangélico?) de um show
(show?) mundano (mundano?). Quem estaria imitando quem?
Um dia desses, certo repórter
da televisão referiu-se a um "culto evangélico" da seguinte forma,
enquanto o cinegrafista mostrava jovens vestidos com roupas pretas, calçando
coturnos, bem como exibindo tatuagens e piercings: "Você pensa que essa
multidão veio assistir a um show dos Guns'n'Roses? Não, eles vão participar de
um culto evangélico!"
Deus rejeita esses shows
pretensamente evangélicos, ainda que sejam realizados por pessoas aparentemente
bem-intencionadas (Am 5.23; Jo 4.23,24; Is 29.13; 1 Jo 2.15-17; Rm 12.1,2).
Muitos pensam que Ele os aprova em razão da grande quantidade de pessoas que
deles participam. Que engano! A Palavra de Deus nos alerta quanto ao fato de
serem poucos os fiéis (Sl 12.1; 101.6; Mt 25.1-13) e menciona maiorias
perigosas (Mt 7.21-23; 24.12; Jo 6.60-69; 2 Co 2.17). Não nos esqueçamos de que
a porta para a vida é estreita, e o caminho também (Mt 7.13,14).
Não bastasse toda a
parafernália mencionada, no megashow realizado na Apoteose houve uma encenação
em que um rapaz se passou pelo Inimigo, enquanto a vocalista do grupo simulou
pisá-lo. Além disso, danças e coreografias também muito parecidas com as de
espetáculos mundanos animaram a grande festa evangélica. Evangélica? Tenho
dúvidas...
Milhares de pessoas vibraram
e dançaram ao som de ritmos eletrizantes, entoando a canção "Mais que
Vencedor" e outras. Mas, com toda a sinceridade, a despeito de a cantora e
seu grupo terem demonstrado que envergonharam as hostes das trevas em praça
pública, tenho certeza de que o Diabo gostou de muita coisa do que ali
aconteceu, haja vista ter sido ele o protagonista da festa!
Satanás ri dessas canções que
o tornam ainda mais popular no mundo do qual é príncipe (1 Jo 5.19; 2 Co 4.4).
Desprovidas de fundamento bíblico, só servem para confundir as pessoas.
São "hinos" que não
promovem o evangelho cristocêntrico, haja vista não darem a ele a merecida
ênfase. Ao priorizarem a ofensa ao Inimigo, levam o crente a pensar que
achincalhá-lo é melhor do que pronunciar palavras de louvor ao Senhor Jesus.
DESCOBRIRAM A AMÉRICA!
Não escrevi este livro — nem
os anteriores — para agradar ou atacar pessoas, e sim para expor a verdade à
luz da Bíblia. Quero falar agora sobre a dança. E o meu posicionamento acerca
disso já é conhecido, pois já o expus em minhas obras Evangelhos que Paulo
Jamais Pregaria e Perguntas Intrigantes que os Jovens Costumam Fazer, ambas
editadas pela CPAD, em artigos para periódicos desta editora e também em meu
weblog (cirozibordi.blogspot.com). Mas quero pontificar alguns argumentos,
acrescentando outros pormenores.
Ao longo da História, a dança
nunca esteve presente na liturgia das igrejas cristãs. No Brasil, também não
víamos isso há alguns anos. Uma ou outra pessoa falava em "dança no
Espírito", e outras cantavam, sem dançar, o famoso corinho "Se o
Espírito de Deus se move em mim, eu danço como Davi".
Todavia, esse assunto sempre
foi controvertido, e a liderança, de maneira geral, não aceitava a dança como
parte integrante do culto a Deus.
De uns tempos para cá, alguém
descobriu a América! Muita gente pensa ter encontrado uma "verdade
cristalina" na Bíblia: a dança faz parte do culto coletivo ao Senhor.
"Deus nos libertou da escravidão, e temos de adorá-lo também com a nossa
arte", dizem alguns defensores desse modismo. E por aí vai. Não há mais
limites! Onde vamos parar? Nos Estados Unidos, já ocorre até luta livre em
alguns "cultos". E o Brasil não está longe disso.
Algumas igrejas são mais
moderadas e têm apenas uma coreografia simples. Outras... meu Deus! A cada dia,
perde-se o temor. Ainda não vi, para ser sincero, porém não duvido de que já
haja "cultos" em que jovens dancem rebolando até ao chão, como
ocorrem em bailes funk. A bem da verdade, nas chamadas "baladas"
gospel isso já acontece...
Há poucos anos, os jovens
passavam a noite em vigília, orando, estudando a Palavra. Assim era no meu
tempo, e eu não sou velho (tenho apenas 37 anos). Hoje, a juventude vai para a
"balada". Tudo isso graças ao incentivo de líderes inescrupulosos,
sem compromisso com a Palavra de Deus, movidos por outros interesses, como
dinheiro e fama. É como se dissessem: "É melhor o jovem pecar aqui do que no
mundo". Ignoram que, para seguir a Cristo, é preciso negar-se a si mesmo
(Lc 9.23) e não se conformar com este mundo (Rm 12.1,2).
HAJA MINISTÉRIO!
Além das muitas unções, para
todos os gostos, há também diversos ministérios... De fato, a Palavra de Deus
diz que há diversidade de ministérios (1 Co 12.5), mas não nos esqueçamos de
que isso alude à maneira multiforme de o Espírito Santo atuar. Essa menção de
modo algum apóia todo e qualquer ministério inventado por pessoas que querem
fazer prevalecer as suas preferências pessoais.
Pessoas se entristecem e
outras se indignam contra mim pelo fato de eu me posicionar contra a dança.
Contudo, eu nada tenho contra pessoas e instituições, bem como respeito cada
sistema de culto. Por graça de Deus, tenho ministrado a Palavra de Deus em
algumas igrejas que me convidam. Por que eu seria indelicado a ponto de ir a
tais igrejas para criticá-las quanto a isso e àquilo? Eu só faço isso quando
recebo uma orientação do Espírito. Nesses casos, eu falo mesmo, pois, que
pregador ou profeta seria eu se só falasse o que o povo gosta de ouvir?!
Os defensores da dança citam
Miriã e Davi, mas as atitudes e ações destes, conquanto não tenham sido
reprovadas por Deus, deram-se fora do culto coletivo a Deus. Foram atos
patrióticos, isolados, pelos quais extravasaram a sua alegria. Daí o próprio
Davi, ao organizar o culto, juntamente com Asafe, não ter feito nenhuma menção
à dança, estabelecendo apenas cantores e músicos (1 Cr 25.1).
Reafirmo, pois, que não há
base bíblica para se introduzir danças e coreografias no culto, tampouco
chamá-las de ministério, como muitas igrejas estão fazendo. Reconheço que
existem exceções, como as coreografias infantis, feitas de maneira esporádica
ou em ocasiões especiais. Mas o problema é que, em muitos casos, as exceções
têm se transformado em regra, gerando modismos injustificáveis.
A DANÇA TEM APOIO BÍBLICO?
Do jeito que a dança é
propagada e defendida hoje, fica a impressão de que há várias passagens
bíblicas que a apoiam.
Porém, não existe sequer um
versículo nos mandando ou nos autorizando a dançar na casa de Deus! No Novo
Testamento não há nenhum incentivo à sua introdução no culto. Os dois únicos
textos que poderiam ser usados como incentivo à dança estão nos Salmos 149 e
150, no Antigo Testamento. Mas não são passagens que falam propriamente da
dança no culto da igreja do Senhor.
Alguns exagetas discutem se o
termo original traduzido em algumas versões em português para
"dança", nos textos acima, significa flauta ou harpa. Entretanto,
mesmo aceitando se que os Salmos 149 e 150 aludem à dança entre os hebreus — o
que não seria nenhuma novidade (Jz 11.34; Ec 3.4; Lm 5.15) —, eles nada têm que
ver, diretamente, com o culto do Novo Testamento. Lembre-se de que a mensagem
da Bíblia se dirige a três povos: judeus, gentios e igreja (1 Co 10.32). E nem
sempre um mandamento pode ser considerado "universal", isto é, para
todos.
Se aplicarmos a nós o que
dizem os tais Salmos, na íntegra, teremos de louvar a Deus com uma espada na
mão e tomar vingança das nações, literalmente! "Estejam na sua garganta os
altos louvores de Deus e espada de dois fios, nas suas mãos, para tomarem
vingança das nações e darem repreensões aos povos, para prenderem os seus reis
com cadeias e os seus nobres, com grilhões de ferro" (Sl 149.6-8).
Alguém dirá: "Ora, irmão
Ciro, não exagere. Tudo isso pode ser aplicado de maneira figurada". É
mesmo? Então por que a dança deve ser aplicada de modo literal? Por que
empunhar uma espada e tomar vingança das nações é figurado, e dançar não?! Por
que não consideramos, então, que devemos dançar espiritualmente, e não com o
corpo? Interessante como é fácil priorizar preferências pessoais, para depois
encontrar na Bíblia versículos isolados em apoio a invencionices!
MIRIÃ OU SALOMÉ?
Um dia desses, ouvi de uma
irmã algo que me fez refletir. Ao demonstrar preocupação quanto ao que vem
acontecendo em nossos cultos, ela verberou: "Irmão Ciro, o pessoal
justifica-se quanto a danças e coreografias citando a dança de Miriã. Mas o que
vemos nas igrejas hoje está muito mais para Salomé do que para Miriã" —
concluiu, referindo-se à sensual dança da filha de Herodias, que teve como
prêmio a cabeça de João Batista (Mt 14.6-10).
Muitos têm citado 1 Coríntios
6.20 como apoio à dança no culto. Dizem que devemos glorificar a Deus com o
corpo. Sabe 0 que é isso, em
Hermenêutica? Torcer a Palavra de Deus, fazendo-a dizer o que não diz. A
simples leitura do contexto da passagem é suficiente para demonstrar que ela
nada fala acerca da dança. Leiamos os versículos 18 a 20:
Fugi da prostituição. Todo o
pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o
seu próprio corpo. Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito
Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?
Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo
e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.
O que é glorificar a Deus com
o corpo? Significa não pecar contra o Senhor por meio do corpo! Somos o templo
do Espírito, pertencemos a Ele, e nosso corpo nunca deve ser profanado por
qualquer impureza ou mal, proveniente da imoralidade, nos pensamentos, desejos,
atos, imagens, literaturas (2 Tm 2.22; 1 Jo 2.14-17; Sl 101.3). O texto em
apreço, pois, não é uma "carta branca" para "louvar" com a
dança e outras expressões corporais.
POR QUE DIZER "NÃO" À DANÇA?
Não há base bíblica para o
que chamam hoje de "adoração através da dança" ou "adoração
extravagante", etc. Sei que há igrejas mais moderadas e reverentes. Mas
tenho de ser franco: qualquer tipo de dança é prejudicial ao culto. Por quê?
Primeiro porque não tem apoio da Palavra de Deus. Segundo, porque ela sempre
foi uma manifestação para agradar uma platéia, e não a Deus. Lembra-se da filha
de Herodias? Ela dançou para o público e agradou Herodes. Deus é exaltado por
meio de cânticos, e não de danças (Sl 57.7).
Sei que me acusarão de
"quadrado"... Dirão que eu não conheço outras culturas, que nunca saí
do Brasil. Bem, Deus já me permitiu fazer algumas viagens, e eu também gosto de
estudar costumes e cultura dos povos. Gosto muito de missiologia e tenho plena
convicção de que é impossível fazer missões sem uma transculturação. No
entanto, até que ponto um servo de Deus deve submeter-se à cultura de um povo?
Ora, a Palavra de Deus deve
nos guiar (Sl 119.105), e é preciso renúncia para seguir ao Senhor Jesus (Lc
9.23). Nesse caso, o fato de a dança ao som dos tambores fazer parte da cultura
africana não obriga os crentes africanos a adotarem a dança em seu culto ao
Senhor. Da mesma maneira, não é por que o brasileiro gosta de samba, que os
nossos cultos necessitam desse elemento.
A dança no culto não é uma
questão cultural. Nas Escrituras não há — repito — nenhuma passagem que apóie a
dança no culto neotestamentário. "Ah, mas eu quero dançar, gosto de fazer
isso e tenho certeza de que Deus a receberá", alguém poderá argumentar.
Tudo bem. Dance! Assuma a responsabilidade diante de Deus. Mas não venha dizer
que o culto precisa de danças e coreografias para agradar ao Senhor. As nossas
reuniões sobreviveram sem esses elementos durante muito tempo.
Em várias igrejas, as danças
e coreografias só vêm sendo incorporadas ao culto porque lhes falta o
principal: salmo, doutrina, revelação, língua e interpretação (1 Co 14.26). Um
culto não pode sobreviver sem a genuína manifestação do Espírito, a Palavra de
Deus e os verdadeiros louvores. Sem dança e coreografia, ele subsiste — sempre
subsistiu, ao longo da História — e fica até melhor, reverente, com mais tempo
para a exposição bíblica. O problema é que hoje os cultos são feitos para
agradar pessoas, e não a Deus. Os gostos pessoais prevalecem, infelizmente.
Se nos conscientizarmos de
que o culto é para Deus, e não para pessoas; e se nos convencermos de que a
maneira de Deus falar, no culto, não é pelas danças e coreografias, e sim pela
Palavra, tudo ficará mais fácil. Leia Apocalipse 19.1-7. Nesta passagem temos
um exemplo de como deve ser o culto a Deus, na presença dEle. Não há nenhuma
menção à dança. O culto deve ser reverente e com palavras de louvor.
Como seria bom se
compositores, cantores e pregadores entendessem que não devemos ir além do que
está escrito na Palavra de Deus (1 Co 4.6)! Mas você, caro leitor, pode ajudar
alguém a compreender isso, que, aliás, é o assunto do próximo capítulo. Afinal,
como aqueles que estão enganados poderão entender as Escrituras, se alguém lhas
não ensinar?
Capítulo 4
NÃO ULTRAPASSEIS O
QUE ESTÁ ESCRITO
Jesus, porém, respondendo,
disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus. Mateus
22.29
Neste capítulo, quero
denunciar uma postura que muitos crentes estão assumindo nos últimos dias, a de
se apegar cegamente a líderes, pregadores, escritores, grupos, denominações,
etc, esquecendo-se de que a nossa fonte de autoridade é a Palavra de Deus (Sl
119.105). Seguem ao que seus gurus dizem, mesmo que sejam heresias. E ainda
ficam irritados quando alguém combate a tais falácias.
É inadmissível ver pessoas
que se dizem cristãs desprezarem o que está escrito na Bíblia. Por isso, o
apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, afirmou: "... não
ultrapasseis o que está escrito (1 Co 4.6, ARA). Esta ênfase das Escrituras é
uma evidência de que não temos permissão para seguir a doutrinas ou movimentos
que não tenham o apoio da Palavra de Deus, que é — e sempre será — a nossa
regra de fé, de prática e de viver.
ESTÁ OU NÃO ESTÁ ESCRITO?
Muitos crentes que não têm
mais a Bíblia como a sua primacial fonte de autoridade, preferindo priorizar a
sua lógica e as suas argumentações filosóficas, podem estar pensando, precipitadamente:
"Se não devemos ultrapassar o que está escrito, podemos praticar
livremente o que não está registrado nas Escrituras".
Há "mestres" da
atualidade afirmando que, se a Bíblia não diz "não" explicitamente a
certas doutrinas, práticas e modismos duvidosos, então temos liberdade para
adotá-los sem nenhum peso na consciência, haja vista sermos livres. Segundo
eles, a Bíblia não diz "não" para dança, bailes, heavy metal, funk...
Por que não dançar? Por que
permitir — dizem — que o "espírito de religiosidade" tome conta de
nosso pensamento?
Bem, de acordo com essa
argumentação meramente filosófica, seguir ao cristianismo resume-se em abraçar
o relativismo ou o liberalismo. Afinal, quem quiser poderá usar drogas ou fumar
um cigarrinho à vontade, uma vez que a Palavra de Deus supostamente não condena
de modo explícito tais coisas. E mais: quem desejar, poderá dirigir a mais de
150 km/h numa auto-estrada sem nenhuma preocupação (a despeito das leis de
trânsito), posto que as Escrituras "não condenam" o excesso de
velocidade...
A BÍBLIA É UM LIVRO DE PRINCÍPIOS
Não há nas Escrituras
determinadas especificidades devido ao fato de os seus 66 livros terem sido
escritos primeiramente ao povo dos tempos vetero e neotestamentários. Se
fizermos uma análise histórico-cultural, entenderemos que naquela época ainda
não haviam sido descobertos o cigarro, a maconha, os times de futebol, os
bailes funk, etc. Mas há um outro aspecto, ainda mais importante, relacionado
com essa questão.
A maioria dos crentes hoje só
pensa em promessas. Isso se dá, em grande parte, devido à superficialidade das
pregações e sua ênfase humanista, que leva o povo de Deus a só pensar em
receber, receber e receber. A Bíblia não é apenas um Livro de promessas. Ela
também contém mandamentos e princípios (Lc 1.5,6; Gn 26.4).
Se atentarmos não só para os
mandamentos, mas para os princípios gerais da Palavra de Deus, assimilaremos
naturalmente o que agrada ou não ao Senhor, mesmo que não haja uma menção
expressa a isso ou àquilo. Quais são esses princípios? São muitos. E precisamos
nos debruçar sobre a Palavra, a fim de, a cada dia, sabermos como nos conduzir
diante de Deus e dos homens. Citarei apenas alguns.
Princípio da renúncia. O que
Jesus disse em Lucas 9.23? "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si
mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me". Negar-se a si mesmo é abrir
mão de, ou pôr em segundo plano (conforme o caso), tudo aquilo que pode depor
contra a nossa comunhão com Jesus (Mt 10.37-39).
E aqui, com certeza, estão
hábitos, vícios, costumes, amizades, etc, ainda que não condenados
explicitamente pela Bíblia.
Para seguir ao Senhor, não
temos que dar vazão às nossas vontades pecaminosas, e sim renunciá-las (Hb
12.4). Jesus não obriga ninguém a segui-lo, mas quem deseja fazer isso deve
estar pronto para renunciar a muitos prazeres da vida (2 Tm 2.22).
Princípio da santificação. A
Palavra de Deus diz que devemos seguir a paz com todos e a santificação, se
quisermos ver o Senhor (Hb 12.14). E santificar-se implica se separar de várias
coisas mundanas, inclusive as não mencionadas claramente no texto sagrado (2 Tm
2.20,21).
Princípio do inconformismo. O
crente que se preza segue ao princípio contido em Romanos 12.1,2. Em que
consiste esse preceito? Em não nos conformarmos com o mundo. Este — que não é o
planeta Terra nem seus habitantes, e sim uma influência, um sistema filosófico
comandado por Satanás (2 Co 4.4; 1 Jo 5.19) — é inimigo de Deus e de seu povo
(Tg 4.4).
Amar as coisas do mundo,
mesmo aquelas não mencionadas no Livro Santo, é pecado (1 Jo 2.15-17).
REGRA DE FÉ, DE PRÁTICA E DE VIVER
A Bíblia é um Livro muito
mais importante do que se imagina. Ela nos orienta quanto a tudo, pois é a
Palavra de Deus (Sl 119.105; 2 Tm 3.16,17). Muitos a têm apenas como regra de
fé, mas ela também deve regular as nossas práticas e controlar toda a nossa
vida. Se nos orientarmos por suas promessas, mandamentos e princípios, seremos
vitoriosos em todas as áreas da vida.
Mas há crentes que não querem
respeitar os mandamentos e preceitos das Escrituras. Preferem andar como bem
entendem. E estão enganados quanto às inovações que têm adotado. Pensam que
podem desfrutar de tudo o que há no mundo sem nenhum problema; alguns até usam
como álibi a palavrinha mágica "gospel".
Se tudo o que a Bíblia
aparentemente não condenasse de modo explícito ou textualmente fosse permitido,
não haveria limites para pecar! E teriam sentido as falaciosas pregações da
atualidade, como esta: "Quer dançar um funk? Dance! Desde que seja em um
baile freqüentado só por cristãos, não há problema! Aproveite! Divirta-se pra
valer na balada gospel. Rompa com toda religiosidade".
Mas...
QUEM DISSE QUE NÃO ESTÁ ESCRITO?
Considerando os princípios
acima, chegamos à conclusão de que aquilo que parece não estar na Bíblia, na
verdade pode estar, mas de outra maneira, indiretamente. Nas páginas sagradas
há grupos de coisas que, mesmo não sendo chamadas de pecado, de modo explícito,
levam o crente a errar o alvo.
São coisas inconvenientes,
dominadoras, embaraçosas, parecidas com pecados, não edificantes, semelhantes a
obras da carne mencionadas claramente, que não glorificam ao Senhor.
Coisas inconvenientes. A
Palavra de Deus diz que todas as coisas são lícitas, mas nem todas convém (1 Co
6.12a). Temos livre-arbítrio e, se quisermos, podemos pecar à vontade. Por que
não fazemos isso? Porque conhecemos os princípios que regem a vida cristã e
rejeitamos as coisas inconvenientes.
Coisas que dominam (1 Co
6.12b). Há muitas coisas que não estão registradas na Bíblia, mas que podem nos
dominar, levando-nos ao erro. Quer exemplos? Primeiro: futebol (já fui um
torcedor fanático em minha adolescência e sei que se trata de algo que domina).
Segundo: novelas e filmes. Terceiro: Internet e seu pacote (MSN, Orkut, blog,
YouTube, etc). Todas essas coisas, conquanto lícitas, podem se tornar
inconvenientes e dominadoras.
Coisas que embaraçam. Em
Hebreus 12.1 vemos que devemos deixar o pecado e os embaraços. Há inúmeras
coisas embaraçosas que não estão registradas claramente na Bíblia. Por isso,
Paulo disse a Timóteo: "Ninguém que milita se embaraça com o negócio desta
vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra" (2 Tm 2.4).
Coisas parecidas com pecados.
A Palavra afirma que devemos nos abster de toda aparência do mal (1 Ts 5.22).
Isso é subjetivo, porém fazer algo que deponha contra esse princípio denota ir
além do que está escrito. Quem freqüenta lugares destinados à prática de atos
pecaminosos, só pelo fato de estar lá, ainda que não esteja propriamente na
roda dos escarnecedores, aparenta estar. Lembre-se de que Isaías confessou
tanto o pecado de pronunciar palavras impuras como o de ouvi-las, passivamente
(Is 6.5).
Coisas que não edificam (1 Co
10.23). São geralmente as coisas feitas no tempo certo e de modo errado, ou de
maneira correta, mas fora de tempo (Ec 8.6). Se praticarmos essas coisas não
edificantes, também ultrapassaremos o que está escrito.
Coisas pecaminosas
semelhantes às registradas na Bíblia. Quando mencionou as obras da carne, Paulo
finalizou dizendo "... e coisas semelhantes a estas" (Gl 5.21). Há
pecados não mencionados na Palavra de Deus textualmente, mas condenados por
ela! Basta perguntarmos o que é semelhante a prostituição, impureza, lascívia,
etc.
Coisas que não glorificam a
Deus (1 Co 10.31). Há coisas que não glorificam a Deus, a despeito de não
estarem mencionadas de maneira direta na Bíblia. Um texto que nos ajuda a
compreender esse princípio é Filipenses 4.8. Leia este versículo e aplique-o à
sua vida antes de pensar em fazer uma tatuagem, ouvir rock e outros estilos
musicais, dançar, seguir a mensagens de auto-ajuda e a modismos, ao invés do
evangelho de Cristo...
ENSINAMENTOS QUE ULTRAPASSAM O QUE ESTÁ
ESCRITO
Há muitos ensinamentos que
ultrapassam o que está escrito, gerando excessos e exageros. Por exemplo, o
jejum é bíblico (Mt 17.21; At 14.23), mas tem sido mal compreendido, em nossos
dias. Já ouvi falar de pastores que estimulam os crentes a fazerem jejum de
certo refrigerante, chocolate, etc, com o objetivo de receberem bênçãos. Tomam
como base o exemplo de Daniel (10.3), não observando que o profeta teve uma
atitude de renúncia à contaminação idolátrica da Babilônia (Dn 1.8).
Outros dizem que a
participação da Ceia do Senhor não quebra um jejum, chamando o pão e o vinho de
alimentação espiritual. Isso é um exagero, uma espiritualização que não leva a
nada. No momento em que ingerimos o pedaço de pão — que, embora símbolo do
corpo de Jesus, é alimento —, quebramos sim o jejum. O que podemos manter,
nesse caso, é a consagração a Deus.
Falando de consagração e
jejum, há um livro em que certo autor relata os seus quarenta dias de jejum!
Ele apresenta fotos de cada dia, para provar o quanto sofreu — quase morreu! —
para realizar tal proeza. Mas, qual é o propósito disso? Jesus jejuou quarenta
dias e não disse nada a ninguém. Por quê? Porque a nossa consagração pessoal a
Deus deve ser realizada em segredo, e não para receber glória dos homens (Mt
6.16-18; Lc 18.12).
Os jejuns de Moisés e Elias
não devem servir de exemplo quanto à forma correta de jejuar, pois eles foram
sustentados por Deus, de modo sobrenatural (Êx 34.28; 1 Rs 19.8).
Fisiologicamente, um jejum que ultrapassa três dias é prejudicial à saúde. Deus
não exige tal sacrifício, e sim uma atitude de obediência, acompanhada de obras
de justiça (Ec 5.1; Is 58.3-6). Realizar sacrifícios exagerados também é
ultrapassar o que está escrito.
EXPERIÊNCIAS QUE ULTRAPASSAM O QUE ESTÁ
ESCRITO
Além de ensinamentos, há
experiências que ultrapassam o que está escrito na Palavra de Deus, depondo
contra ela. Tenho ouvido histórias impressionantes e analiso todas elas segundo
a Bíblia. Ouço irmãos dizendo que "receberam" mensagens proféticas de
aves ou de animais; que foram arrebatados ao Céu e ao Inferno e viram caixinhas
com as pontas dos cabelos das irmãs; que conversaram com Paulo, Maria e outros
heróis da fé...
No livro Evangelhos que Paulo
Jamais Pregaria trato dessa questão de maneira pormenorizada, salientando que
toda e qualquer experiência deve ser submetida à Palavra de Deus.
Não devemos ir além do que
está escrito. Embora a Bíblia mencione arrebatamentos em espírito (2 Co 12.1-4;
Ap 1), tudo o que ocorre hoje deve ser provado (1 Jo 4.1; 1 Ts 5.21). Mesmo as
experiências que envolvam anjos devem ser testadas pela Palavra (Gl 1.8).
Há super-pregadores que se
valem de João 14.12 para justificar todas as suas experiências exóticas. Fazer
isso também é ultrapassar o que está escrito, posto que a citação isolada dessa
passagem é feita com a intenção de combater à tese baseada na analogia geral da
própria Bíblia de que ela é a nossa regra de fé, de prática e de viver.
O fato de Jesus ter dito que
faríamos obras maiores refere-se à quantidade de obras, e não à qualidade
delas. Não se trata de um aval para fenômenos como óleo na mão, dentes de ouro,
ouro nos dentes, emagrecimento e crescimento de cabelo. Veja a explicação sobre
a frase "... aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço e as
fará maiores do que estas..." (Jo 14.12) no capítulo 8 desta obra.
Aliás, falando nisso, volto a
me reportar à "bênção de Toronto" e ao pastor Paul Gowdy, que, depois
de abandonar a Igreja Aeroporto de Toronto, escreveu uma carta (mencionada no
capítulo 2 desta obra) denunciando ensinamentos e fenômenos antibíblicos.
Quanto aos dentes de ouro,
Gowdy declarou:
Pessoas de nossa congregação
abriam a boca umas para as outras procurando os dentes de ouro que Deus
colocara ali, para provar o quanto nos amava. Durante os anos que ali fiquei só
ouvi uma vez uma mensagem de arrependimento pregada por um conferencista de
Hong Kong, Jack Pullinger. A mensagem passou alto, bem acima de nossas cabeças,
como um balão de gás; não estávamos ali para nos arrepender, e sim para fazer
"festa ao Senhor"!
Isso é uma grande verdade. Os
super-pregadores que "distribuem" dentes de ouro para o povo nunca
pregam sobre o arrependimento; eles não priorizam o evangelho cristocêntrico.
Vivem dizendo: "Eu fui
chamado para pregar milagres". Isso é ultrapassar o que está escrito, pois
não fomos chamados para pregar milagres, que são, na verdade, o efeito da
pregação do evangelho de Cristo (Mc 16.15-18).
Tenho ouvido testemunhos de
irmãos que participam dessas "cruzadas de milagres". Um depoimento me
chamou atenção. O irmão disse que achou estranha a liturgia do culto, pois um
conhecido milagreiro pronunciou vários impropérios contra um pastor, presente
no local, o qual demonstrara não concordar com as estranhas manifestações. O
irmão, um novo convertido, também disse que passou mais tempo olhando para a
boca da sua esposa procurando dentes do que cultuando a Deus...
Bem, no capítulo 7 voltaremos
a esse assunto, pois quero, inclusive, analisar um certo "avivamento
extravagante"...
AOS FÃS DO PAPAI H., COM CARINHO
Sempre recebo e-mails e
mensagens anônimas dos amantes, fãs, fanáticos e ardorosos defensores de um
famoso escritor, cujas iniciais do nome são K.H. Alguns comentários são
desafiadores, e outros, um tanto ameaçadores. Os remetentes me acusam de falar
mal do papai H., que, aliás, já partiu para eternidade.
Em primeiro lugar, peço
perdão aos seguidores de K.H. por eu amar a Jesus Cristo e sua Palavra,
considerando-a a fonte máxima de autoridade. Sinceramente, lamento que esses
irmãos valorizem tanto o que um homem mortal falou, em detrimento do que dizem
as Escrituras. Não são estas a Palavra de Deus? Ou têm os escritos do papai H.
mais valor que a Bíblia Sagrada?
Os seguidores de K.H. não
suportam ouvir críticas contra os seus escritos. Mas a Bíblia, que está acima
de qualquer ser da Terra ou do mundo espiritual (Gl 1.6-12), diz que não
podemos ultrapassar o que está escrito (1 Co 4.6, ARA). Nesse caso, proponho
aos que seguem aos ensinos de tal "mestre" que façam agora uma
comparação entre o que ele afirmou e o que as infalíveis Escrituras dizem.
Muitas razões me levam a não
concordar com as afirmações do senhor K.H. Porém, analisarei apenas nove
motivos pelos quais pontifico que a Palavra de Deus não apóia as idéias
triunfalistas do autor cujas iniciais do nome aqui são citadas.
Primeiro motivo. K.H.
afirmou: "Na realidade, eis o que é a vida eterna: Deus comunicando toda a
sua natureza, substância e ser aos nossos espíritos... Louvado seja Deus! Tenho
a vida e a natureza de Deus. Tenho dez vezes mais sabedoria e entendimento do
que o restante da classe" (Zoe: A Própria Vida de Deus, Graça Editorial,
pp. 10,29).
Jesus definiu assim a vida
eterna: "E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus
verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17.3). Esse conhecimento
de Deus não implica receber toda a sua natureza. Caso contrário, seríamos
oniscientes, onipresentes, onipotentes e imutáveis! Segundo a Bíblia,
participamos, sim, da natureza divina quanto a seus atributos comunicáveis:
amor, bondade, fidelidade, etc. (2 Pe 1.4-9). Mas isso não eqüivale a ter
"toda a sua natureza".
Segundo motivo. O papai H.
também disse: "Deus nos fez tão semelhantes a si mesmo quanto lhe foi
possível. Fez-nos para pertencer à sua própria categoria... O Senhor fez o
homem como o seu substituto aqui na terra. Ele constituiu-o como rei para
governar tudo o que tinha vida. Vivia em termos de igualdade com o
Criador" (Zoe: A Própria Vida de Deus, Graça Editorial, pp.50,51).
Nunca vivemos em termos de
igualdade com o Criador!
Fomos feitos à imagem de
Deus, conforme a sua semelhança (Gn 1.26), porém isso não implica possuir os
atributos exclusivos da deidade. H., pois, corrobora a sua tese de que o crente
tem "toda a natureza divina", numa tentativa de convencer os seus
leitores a se comportarem como deuses na Terra. Pode, porventura, o vaso
assemelhar-se ao Oleiro? Haja presunção!
JESUS PROVOU A MORTE ESPIRITUAL?
Terceiro motivo. Eis outra
afirmação do senhor K.H.: "O Senhor é um Deus de fé. Tudo o que tinha a
fazer, fê-lo pela Sua Palavra" (Zoe: A Própria Vida de Deus, Graça
Editorial, p.51).
Que Deus comunica-nos a fé
não há dúvidas (Rm 10.17; At 16.14). Mas Ele não precisa de fé. Fé em quem? Fé
para quê, se é o Todo-Poderoso?
Deus criou todas as coisas
pelo poder da sua Palavra (Hb 11.3), mas o senhor H. tenta convencer os seus
leitores de que a Palavra do Senhor, na verdade, foi uma confissão positiva,
uma palavra rhema. Daí os seus seguidores costumarem citar, equivocadamente,
esse versículo de modo errado: "Pela fé, os mundos foram criados pela
palavra de Deus", ao invés de: "Pela fé, entendemos que os mundos,
pela palavra de Deus, foram criados". A fé, nesse caso, é nossa, para
entender, e não do Todo-Poderoso!
Quarto motivo. O papai H.
declarou: "Jesus se tornou como nós éramos: separado de Deus. Porque
provou a morte espiritual por todos os homens. Seu espírito, seu homem
interior, foi para o inferno em nosso lugar... A morte física não removeria os
nossos pecados. Provou a morte por todo homem — a morte espiritual" (O
Nome de Jesus, Graça Editorial, p.25).
De onde alguém pode ter
tirado tamanha inverdade! Teria Jesus se separado de Deus em razão de possuir
uma vida pecaminosa? Ora, morte espiritual implica afastar-se do Senhor em
decorrência do pecado (Is 59.2; Rm 3.23), e Jesus nunca pecou. Ele foi feito
pecado por nós (2 Co 5.21), e não pecador, e levou em seu corpo os nossos
pecados sobre o madeiro (1 Pe 2.24), recebendo em sua carne a punição que a nós
convinha (Is 53.4,5). Isso jamais pode ser equiparado à morte espiritual, haja
vista o Senhor nunca ter pecado (Hb 4.15).
Jesus não se tornou como nós
éramos, pois isso implicaria reconhecer que Ele se fez pecador, e não pecado.
Quando estudamos, sem preconceito, com calma e em oração, os textos de 2
Coríntios 5 e Filipenses 2.6-8, desaparecem as dúvidas quanto ao fato de o
Senhor ter-se feito pecado, levando sobre si todos os nossos pecados, e não
pecador, morrendo espiritualmente. Mas essa afirmação falaciosa de K.H. não foi
por acaso; ele tinha em mente outras heresias ainda maiores.
ONDE JESUS TRIUNFOU?
Quinto motivo. "Lá
embaixo na masmorra do sofrimento — lá nos fundos do próprio inferno — Jesus
satisfez as reivindicações da Justiça para todos nós, individualmente, porque
ele morreu como nosso substituto" (O Nome de Jesus, Graça Editorial, p.28)
— declarou o papai H. Infelizmente, há muitos super-pregadores e
cantores-ídolos, discípulos do papai H., afirmando que Jesus abriu as nossas
cadeias e nos resgatou no Inferno! Entretanto, como eu já disse em outros
livros — principalmente, Erros que os Pregadores Devem Evitar —, Jesus não foi
ao Inferno (nesse caso, o Hades) para sofrer em nosso lugar. Seu triunfo
ocorreu na cruz, no Gólgota, onde deu o brado da vitória (Jo 19.30). Ele foi ao
Hades como vencedor (1 Pe 3.19, gr.), e não para sofrer em nosso lugar e ser
torturado por demônios (Cl 2.14,15; Hb 2.14).
Sexto motivo. K.H. também
disse: "Nem o próprio Senhor Jesus tem uma posição melhor diante de Deus
do que você e eu temos. Talvez alguém suponha que eu esteja usurpando algo de
Cristo. Não! Ele continua a desfrutar da mesma glória junto ao Pai. Estou
apenas falando dos direitos que nós temos" (Zoe: A Própria Vida de Deus,
Graça Editorial, p.79).
Que direitos temos nós? Se
não fosse a graça de Deus, nada teríamos (Rm 6.23; Ef 2.8-10). E que negócio é
esse de que nem Jesus tem uma posição melhor do que a nossa?! Que Deus nos
guarde desse humanismo exacerbado; dessa ausência de humildade; e dessa falta
de reconhecimento de que o Senhor não dá a sua glória a outrem (Sl 138.6; Is
42.8). Humilhemo-nos debaixo da potente mão do Altíssimo (1 Pe 5.6; Tg 4.6).
QUE BLASFÊMIA!
Sétimo motivo. "O pecado
separa de Deus. A morte espiritual significa a separação de Deus. No momento em
que Adão pecou, ficou separado de Deus... A morte espiritual significa mais do
que a separação de Deus. A morte espiritual significa ter a natureza de
Satanás" — afirmou H, em sua famosa obra O Nome de Jesus (Graça Editorial,
p.26).
De fato, o pecado separa o
homem de Deus (Is 59.1,2), deixando-o à mercê do Inimigo (Hb 2.14). No entanto,
K.H., ao fazer a comparação acima, fê-la para, em seguida, afirmar, de modo
blasfemo, que o Senhor Jesus, ao morrer duas vezes — física e espiritualmente
—, assumiu na cruz a natureza de Satanás!
Oitavo motivo. K.H.
asseverou: "Jesus é a primeira pessoa que já nasceu de novo. Por que o seu
espírito precisava nascer de novo? Porque ficou alienado de Deus. Lembra-se
como ele exclamou na cruz: 'Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?'"
(O Nome de Jesus, Graça Editorial, p.25).
Como Jesus teria sido o
primeiro a nascer de novo, se Ele mesmo pregava o novo nascimento? Ele falou
dessa obra, operada pelo Espírito Santo (Tt 3.5), a Nicodemos: "O que é
nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te
maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo" (Jo 3.6,7).
Jesus é o próprio Salvador,
Justo e Santo, que morreu por injustos e pecadores. Mesmo antes de seu
sacrifício vicário, já oferecia a salvação, o novo nascimento, aos pecadores
(Jo 10.9; Mt 11.28-30). Ele podia perdoar pecados (Lc 5.23-26), bem como curar
enfermos e expulsar demônios, em cumprimento do que está escrito em Isaías 53
(Mt 8.14-17), promessa que só se cumpriu cabalmente na cruz (1 Pe 2.24; Cl
2.14).
Nono motivo. O papai H.
declarou: "Quando a pessoa nasce de novo, toma sobre si a natureza de Deus
— que é vida e paz. A natureza do diabo é ódio e mentiras... Jesus provou a
morte — a morte espiritual — por todos os homens... Jesus se fez pecado. Seu
espírito foi separado de Deus, e ele desceu para o inferno em nosso lugar"
(O Nome de Jesus, Graça Editorial, p.27).
Observem como H., de maneira
blasfema, afirma, com todas as letras, que Jesus, posto que teria morrido
espiritualmente, assumiu a natureza do Diabo. Somente por essa única declaração
todo crente que se preza deveria rejeitar qualquer escrito desse "mestre
da fé", fazendo-o constar de sua lista pessoal — eu tenho a minha! — de
falsos profetas e enganadores do povo de Deus. Afirmar que o Cordeiro imaculado
e incontaminado (1 Pe 1.18,19) assumiu a natureza do Maligno chega a ser
ultrajante.
Diante do exposto, como pode
haver pregadores em nosso tempo propagando as falácias do falecido Kenneth
Hagin? Ih, me desculpe! Não era para eu citar o nome do escritor...
AOS FÃS DE B.H., COM AMOR
Atualmente, não há no mundo
um evangelista (evangelista?) tão famoso quanto o palestino naturalizado
norte-americano cujas iniciais do nome são B.H. As suas "pregações",
no entanto, não costumam ter conteúdo evangelístico. Ele dificilmente menciona
o nome de Jesus, e o ponto alto de suas ministrações são algumas manifestações
estranhas, que ocorrem devido à "nova unção" que está sobre a sua
vida.
Ouço com freqüência irmãos
dizendo: "Eu já li os livros do pastor B.H. Mudaram a minha vida!" E
eu fico pensando: "Devem ter mudado a vida deles para pior". Por que
penso assim?
Porque conheço as heresias
que esse pregador-ídolo vem propagando em todo o mundo por meio de ministrações
ao vivo, DVDs e livros, todos eles best-sellers.
B.H., infelizmente, a
despeito de sua fama, tem virado as costas para a Bíblia. Sinceramente, não sei
se um dia ele amou esse Livro, pois ele até com mortos conversa. Haja vista
reconhecer que as falecidas Kathryn Kuhlman e Aimee Semple McPherson ainda
contribuem para o seu ministério, e que delas recebe unção! Muitos dos seus
desvios da Palavra de Deus estão documentados na primorosa obra Cristianismo em
Crise, de Hank Hanegraaff, editada pela CPAD.
Esse super-pregador diz que
anda "no mundo sobrenatural" e vê "coisas que nunca seremos
capazes de entender". Além disso, conversa normalmente com santos
falecidos. Ele admitiu, há alguns anos, em seu programa televisivo This is your
day, que Kuhlman apareceu a ele juntamente com o próprio Jesus e lhe revelou
acontecimentos futuros! Aliás, no Brasil também há "pastores"
embarcando nessa canoa furada...
B.H. chegou a admitir que,
num certo dia, um homem idoso de quase dois metros de altura apareceu diante
dele. Ao perguntar ao Senhor acerca desse misterioso homem, que tinha uma barba
brilhante, olhos azuis e roupa branca, ouviu supostamente dEle a surpreendente
resposta: "Este é o profeta Elias".
K.H. E B.H. ANDARAM DE MÃOS DADAS
Infelizmente, muitos crentes,
por não conhecerem toda a verdade acerca de B.H., consideram-no um verdadeiro
deus.
Por isso, menciono abaixo
nove motivos para convencer aqueles que cegamente têm seguido aos ensinamentos
desse superpregador a abandonarem os seus enganos.
Primeiro motivo. B.H.
declarou que Jesus "... assumiu a natureza de Satanás, para que todos
quantos tinham a natureza de Satanás pudessem participar da natureza de
Deus" — declaração citada no já mencionado excelente trabalho crítico de
Hank Hanegraaff (Cristianismo em Crise, CPAD, p.166). Como se vê, as suas
concepções sobre a obra de Cristo assemelham-se às do papai H.
Segundo motivo. Ele ensina
que o homem é um pequeno deus. E afirmou: "Eu sou 'um pequeno messias'
caminhando sobre a Terra" (idem, p.119). Mais uma vez fica evidente a
semelhança entre os discursos de B.H. e K.H. Seria coincidência?
Ou ambos beberam das mesmas
fontes escuras e turvas mencionadas em 1 Timóteo 4.1?
Terceiro motivo. B.H., em seu
livro Good Morning, Holy Spirit (p.56), afirma que, em uma de suas supostas
conversas com o Espírito Santo, o Consolador teria implorado para que ele
ficasse em sua presença: "... por favor, mais cinco minutos; apenas mais
cinco minutos". Davi, um homem segundo o coração de Deus, orou assim:
"Não me lances da tua presença e não retires de mim o teu Espírito
Santo" (Sl 51.11). Quem somos nós, para pensarmos que o Deus Espírito
implorará para ficarmos em sua presença?
Quarto motivo. Defendendo a
teologia da prosperidade, pela qual afirma que a pobreza é uma maldição, ele
disse que Jó era carnal e mau (Cristianismo em Crise, p.103), ignorando o
enfático testemunho de Deus acerca de seu servo: "Observaste tu a meu
servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem sincero e reto,
temente a Deus, e desviando-se do mal" (Jó 1.8). Quem está com razão?
Quinto motivo. Propagador
também da falaciosa confissão positiva, B.H. declarou: "Nunca, jamais, em
tempo algum, vão ao Senhor e digam: 'Se for da tua vontade...' Não permitam que
essas palavras destruidoras da fé saiam da boca de vocês". (idem, p.295).
Ora, e o que Jesus ensinou em Mateus 6.9,10: "Portanto, vós orareis assim:
Pai nosso... Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu".
B.H. AMEAÇA OS INOCENTES
Sexto motivo. Ao ser
criticado, B.H. disse que gostaria de ter "uma arma do Espírito" para
explodir a cabeça de seus críticos.
Além disso, proferiu palavras
funestas contra aqueles que refutam as suas heresias. As ameaças abaixo,
extraídas do livro supracitado (p.376), foram dirigidas ao Instituto Cristão de
Pesquisas dos EUA:
Agora eu estou apontando meu dedo
para vocês com o tremendo poder de Deus sobre mim... Ouçam isto! Existem homens
e mulheres no sul da Califórnia me atacando. E sob a unção que lhes falo agora.
Vocês colherão o que estão
semeando em suas próprias crianças se não pararem... E seus filhos e filhas
sofrerão (...)
Vocês estão me atacando no rádio
todas as noites — vocês pagarão e suas crianças também. Ouçam isto dos lábios
dum servo de Deus. Vocês estão em perigo. Arrependam-se! Ou o Deus Altíssimo
moverá a sua mão. Não toqueis nos meus ungidos...
AS TRIVIALIDADES DE B.H.
Sétimo motivo. O
super-pregador B.H. ensina que a Trindade é composta de nove pessoas, pois o
Pai, o Filho e o Espírito Santo possuem, cada um, espírito, alma e corpo
(citado em Cristianismo em Crise, p.375). Bem, os teólogos costumam divergir
quanto às teses do dicotomismo e do tricotomismo em relação ao ser humano, mas
B.H. foi muito além, criando o que podemos chamar de "triplotricotomismo
divino". Haja imaginação!
Oitavo motivo. Ele afirmou
que o Espírito Santo lhe revelou que as mulheres foram originalmente criadas
para dar à luz pelo lado. Todavia, por causa do pecado, passaram a dar à luz
pela parte mais baixa de seu corpo (idem, p.373). Sem comentários...
Nono motivo. B.H. também
asseverou que o homem, em princípio, voava da mesma forma que os pássaros.
Segundo ele, Adão podia voar até à lua pela sua própria vontade: "Adão era
um superser (...) costumava voar. Naturalmente, como poderia ter domínio sobre
as aves, sem ser capaz de fazer o que elas fazem?" (idem, p.128). Como se
vê, Benny Hinn é o rei das efemeridades! Ih, citei o nome do escritor de
novo...
QUAL É O SEGREDO DOS TRIUNFALISTAS?
Assisti, há algum tempo, ao
vídeo de auto-ajuda que deu origem ao livro O Segredo, de Ronda Byrne e sua
equipe de colaboradores. Também fiz uma análise do mencionado best-seller, pelo
qual Byrne afirma que os seres humanos estão evoluindo para se tornarem
pequenos deuses andando na terra. Além disso, enfatiza a cobiça material e a
responsabilidade das pessoas por todos os sucessos e tragédias da vida.
Qual é O Segredo? Para Byrne
e sua equipe, cada um de nós exerce um poder de atração sobre tudo o que
acontece em nossas vidas. Nada acontece por acaso, mas como produto de causa e
efeito. Isso significa que podemos ser responsabilizados pela felicidade em
nossas vidas. É interessante como a linguagem e os passos para se obter bens e
curas, apresentados em O Segredo assemelham-se às pregações de B.H., K.H. e
seus discípulos triunfalistas brasileiros: "Pense. Acredite. Receba".
Você já observou como os
telebispos e telepastores proponentes das falaciosas confissão positiva e
teologia da prosperidade dizem que todo mundo pode ser, fazer ou ter tudo o que
quiser? Afirmam eles: "Você pode ter saúde, dinheiro e felicidade...
Quanto você quer ganhar por mês? Você atrai para si todas as coisas. Em que
casa você quer morar? Com que tipo de pessoa quer casar? Sonhe. Acredite nos
seus sonhos. E receba a sua bênção. Tudo depende de você".
MAIOR EVANGELISTA DO SÉCULO?
"Pense, acredite e
receba" — diz O Segredo. Não são praticamente esses os passos ensinados
por um famoso telemissionário que lidera uma igreja que tem "graça"
no nome, mas despreza a graça de Deus ao pregar a fé na fé, triunfalista, e não
o evangelho de Cristo? Também não é isso que prega o super-bispo da igreja que,
conquanto tenha "Reino de Deus" na denominação, não busca o Reino de
Deus e sua justiça, construindo, antes, um império na Terra com o dinheiro dos
ingênuos fiéis?
O rico e o milionário, quer
dizer, o bispo e o missionário, que começaram juntos, se separaram e comandam
os seus próprios impérios. E agora — ainda que não admitam — disputam para
saber quem é o maior evangelista do século! Um já começou a assumir isso
publicamente. O outro é mais modesto ou menos imodesto. Mas eu tenho para mim
que nenhum dos dois deveria requerer tal título...
Primeiro, porque um homem de
Deus de verdade não busca títulos. Ele sabe que não é o título que faz a
pessoa; é esta, com as suas obras, que faz aquele. E, como dizem as Escrituras,
"Louve-te o estranho, e não a tua boca, o estrangeiro, e não os teus
lábios" (Pv 27.2).
Mas, quer saber qual é a
principal razão por que nenhum dos dois pode se considerar sequer um
evangelista? Nenhum deles tem pregado a Cristo! Reúnem multidões, porém são
incapazes de anunciar o verdadeiro evangelho. Por que não fazem como o grande
evangelista Pedro, cuja mensagem, no dia de Pentecostes, começou com "A
Jesus Nazareno" e terminou com "Deus o fez Senhor e Cristo" (At
2.22-36)? Por que não pregam como Estevão, que, em vez de falar em sua defesa,
preferiu falar do Justo (At 7.52)?
Os pretensos evangelistas
deste século buscam a própria glória. Um deles assume publicamente ser
favorável ao assassinato de inocentes. Ao ser perguntado sobre o porquê de a
rede de televisão do tal bispo ser pró-aborto, um de seus homens fortes
declarou: "Foi uma orientação direta do senhor..." — Ops! Quase citei
o nome de novo. — "... que nos pediu que conscientizássemos a sociedade da
importância de a mulher poder decidir sobre o seu próprio destino"
(revista Veja, edição 2.029, de 10 de outubro de 2007, pp.88,89).
Esse mesmo senhor, dono dessa
grande emissora, enquanto eu escrevo esta obra, está construindo uma mansão, um
verdadeiro paraíso na Terra, na cidade de Campos do Jordão, em São Paulo. É uma
casa com dois mil metros quadrados, avaliada em seis milhões de reais! Conforme
noticiaram revistas de circulação nacional, como a Veja, o imóvel possui 35
cômodos, distribuídos em quatro andares, dezoito suítes, todas equipadas com
banheiras de hidromassagem...
Por meio de uma escada, do
seu quarto o famoso bispo terá acesso a um mirante do qual se descortina uma
vista aprazível da cidade. A casa conta com adega (!), sala de cinema (!),
quadra de squash e elevador. Eis a "humilde" casa do que foi
considerado recentemente, num grande ajuntamento de pessoas, o maior o
evangelista do século! Não seria melhor chamar esse bispo de um dos maiores
enganadores de todos os tempos?!
Bem, para eu não perder a
inspiração, vou mudar de assunto... No próximo capítulo quero falar um pouco
sobre a necessidade da "hermelética" na vida do pregador. Você sabe o
que é isso?
Capítulo 5
O PREGADOR E A
HERMELÉTICA
E leram o livro, na Lei de
Deus, e declarando e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse.
Neemias 8.8
Não se assuste com a palavra
"hermelética". Criei-a, em 2005, para enfatizar a necessidade de os
pregadores se lançarem aos estudos da Hermenêutica e da Homilética,
considerando ambas as matérias imprescindíveis. É comum dizermos que é
obrigatório ao pregador conhecer a arte e a ciência de preparar e pregar
sermões. No entanto, igualmente compulsório deve ser o domínio das técnicas de
interpretação da Bíblia. Daí o neologismo "Hermelética".
Certo pregador me indagou:
"O irmão gosta muito de Hermenêutica, não é mesmo?" Respondi-lhe que
sim e aproveitei para lhe fazer outra pergunta: "E o irmão, também gosta
dessa matéria?" Ao que ele me disse, para minha surpresa: "Não, não
me interesso nem um pouco pela interpretação da Bíblia; o meu negócio é
pregar". Fiquei preocupado com essa afirmação, pois, se um mensageiro de
Deus não se interessa pela exegese bíblica, como poderá expor a verdade aos
seus ouvintes?
POR QUE A HERMENÊUTICA É NECESSÁRIA?
John F. MacArthur Jr.
afirmou: "Um recente best-seller evangélico alerta os leitores a se
colocarem de prontidão contra pregadores cuja ênfase está no interpretar as
Escrituras e não no aplicá-las. Espere um pouco. Isto é um conselho sábio? Não,
de modo algum. Não existe o perigo da doutrina ser irrelevante; a verdadeira
ameaça é a abordagem não-doutrinária em busca de relevância sem doutrina. O
cerne de tudo que é verdadeiramente prático encontra-se no ensino das
Escrituras" (Com Vergonha do Evangelho, Editora Fiel, p.91).
Escrevi este capítulo com o
objetivo de enfatizar que existem quatro coisas imprescindíveis a todo
pregador, nesta ordem: fidelidade a Deus, que nos dá a mensagem (Jo 7.16; 1 Co
11.23); interpretação correta das Escrituras (2 Tm 2.15), levando-se em conta
os princípios da Hermenêutica; exposição bíblica de acordo com a Homilética (Is
50.4); e comportamento ético diante dos ouvintes (At 2.22a; 7.2a).
O que é Hermenêutica? Robert
H. Stein, em sua obra Guia Básico para Interpretação da Bíblia, editado pela
CPAD (p.19), definiu:
Normalmente, o termo
"hermenêutica" assusta as pessoas. Mas isso não deveria acontecer. A
palavra se origina do termo grego "hermeneuein", o qual significa
"explicar" ou "interpretar". Na Bíblia, é usado em João
1.42 e 9.7, Hebreus 7.2 e Lucas 24.27. Na versão Revista e Corrigida, o último
texto traz o seguinte: "E, começando por Moisés e por todos os profetas,
explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras... "A palavra
traduzida em uma versão por "explicar" e em outra por
"expor" é "[di]hermeneuein".
Como eu já disse no livro
Erros que os Pregadores Devem Evitar, editado pela CPAD, essa matéria é a arte
e a ciência de interpretar textos. O termo está associado à mitologia
greco-romana. Hermes (Mercúrio), filho de Zeus (Júpiter), era o deus do
comércio, das lutas, dos exercícios olímpicos e de tudo que demandasse
habilidade e destreza. Era também o intérprete da mensagem de Zeus. Daí
Hermenêutica.
Como matéria teológica, a
Hermenêutica serve à Exegese.
Juntas, formam a chamada
Teologia Exegética, que enfatiza o emprego das regras hermenêuticas, aliadas à
aplicação de matérias como Filologia Sagrada, Introdução Bíblica, Teologia
Histórica, Teologia Bíblica e Teologia Sistemática, na interpretação das
Escrituras.
PARA QUE SERVE A HOMILÉTICA?
Todo pregador deve saber que
há dois lados na exposição da Palavra de Deus: o divino e o humano (1 Co 11.23;
2 Tm 2.15). Uma parte não substitui a outra — ambas são necessárias —, mas a
divina é a mais importante (1 Co 2.1-5). Em Isaías 50.4, vemos esses dois
aspectos. O profeta disse que Deus lhe deu uma língua erudita, enfatizando o
lado divino. E também afirmou: "... para que eu saiba dizer, a seu tempo,
uma boa palavra ao que está cansado".
A Homilética é uma ciência
que ajuda os pregadores a conhecerem as regras essenciais à exposição da
Palavra do Senhor, principalmente no lado humano. É uma matéria definida como a
arte e a ciência de preparar e pregar sermões religiosos. Trata-se do estudo
das maneiras de se confeccionar esboços de mensagens cristãs e apresentá-las de
modo adequado aos ouvintes.
Por meio dessa matéria, o
pregador orienta-se quanto à postura ética diante do público e aprende a lidar
com os mais diversos tipos de ouvinte: indiferentes, egoístas, ignorantes,
eruditos, curiosos, sinceros, etc. No entanto, ainda que a platéia deva ser
respeitada pelo pregador, isso não é um impedimento para a transmissão da
verdade, pois a prioridade do pregador deve ser agradar aquEle que lhe deu a
mensagem (At 7.54-56; Ez 2.3-8).
O estudo da Homilética ajuda
o pregador a falar de forma elegante, precisa e fluente, de modo a convencer ou
comover o ouvinte. Porém, isso não deve invalidar o aspecto espiritual; é a
Palavra de Deus que atinge o coração dos ouvintes (Hb 4.12).
Da mesma forma, o fato de
essa matéria levar em conta aspectos como evolução da língua, ambiente cultural
e recursos tecnológicos não altera o conteúdo da mensagem (1 Pe 1.24,25).
HERMENÊUTICA + HOMILÉTICA = CASAMENTO
PERFEITO
Dominar as técnicas de
oratória e conhecer bem a Homilética não é o suficiente para ser um pregador
bem-sucedido. Todas essas ferramentas só têm eficácia quando postas em prática
por um pregador expositivo piedoso e fiel à fonte primacial de autoridade, a
Palavra do Senhor. Além disso, é necessário atentar com diligência para os
preceitos de interpretação constantes da Hermenêutica Bíblica.
O pregador expositivo precisa
conhecer e saber aplicar com perícia os tais princípios de interpretação das
Escrituras. Ele não deve escolher entre Homilética e Hermenêutica, como se
essas ciências fossem antagônicas ou opcionais. Não! Sem interpretação correta
das Escrituras não há pregação expositiva!
Ralph Pviggs, em seu Guia do
Pastor (Editora Vida, p.49), disse o seguinte sobre a "Hermelética":
A Hermenêutica é a ciência da
interpretação. Existem certas leis básicas e fundamentais que governam a
interpretação, e que se tornam evidentes por si mesmas. O conhecimento dessas
regras e o uso cuidadoso delas evitam ao estudante da Bíblia cair em
interpretações tolas e extravagantes da Palavra de Deus. Vale a pena, ao futuro
ministro, empregar tempo nesse estudo das leis da Hermenêutica Sagrada, até
dominá-las convenientemente (...)
Intimamente ligado ao estudo da
teologia pastoral é o estudo da Homilética. O pastor deve pregar, e a
Homilética lhe ensina como fazê-lo. Há vários tipos de sermões, assim como a
maneira correta e a errada de pregar. Essa é uma ciência indispensável ao
pregador.
UFA! QUASE ME TORNEI UM ANIMADOR DE PLATÉIA!
Quando comecei a pregar,
ainda em minha adolescência, preocupava-me em excesso com as reações do
público. Queria que houvesse manifestação positiva dos ouvintes durante a
preleção, e elogios depois dela. Eu estava certo de que a minha missão era
pregar a Palavra de Deus, mas, ao mesmo tempo, agia como se essa tarefa
consistisse em deixar o povo satisfeito. Por isso, debruçava-me sobre vários
livros de Homilética, a fim de saber como agradar o auditório.
Só percebi o meu desvio
quanto à motivação para pregar quando ingressei no seminário teológico. Apesar
disso, não foram as aulas que me fizeram ver a pregação com outros olhos, pois
os professores de Homilética também costumam priorizar o lado humano,
salientando a importância de o pregador saber falar bem e dentro do tempo,
respeitando os ouvintes. Dois fatores foram decisivos para a minha
"transformação": ter conhecido o pastor Valdir Bícego, de saudosa
memória, e, por providência divina, ter lido alguns livros de verdadeiros
homens de Deus.
Certo dia, quando eu
retornava do seminário, um colega de sala — infelizmente, não me lembro do seu
nome — me indicou a clássica obra O Guia do Pastor, de Ralph Riggs (citada
acima). Este foi um dos livros pelos quais o Senhor levou-me a uma mudança
radical de atitude quanto à pregação. Creio que foi nessa mesma época que li
também O Homem que Deus Usa, de Oswald Smith.
Mediante a leitura desses
livros e o contato quase semanal com o saudoso pastor Valdir Bícego,
despertei-me para o estudo de outra ciência igualmente necessária ao ministério
do pregador vocacionado por Deus: a Hermenêutica. Além disso, e principalmente,
convenci-me de que o compromisso do pregador da Palavra de Deus é, acima de
tudo, com o Deus da Palavra. E, desde então, conquanto eu respeite o povo do
Senhor e os ouvintes em geral, me empenho em ser fiel àquEle que dá a Palavra.
O QUE NÃO É PREGAÇÃO EXPOSITIVA?
É preciso ter em mente o que
é pregação expositiva, segundo o modelo bíblico. Mas, antes disso, discorrerei
sobre o que não é pregação expositiva. Afinal, quando conhecemos o lado
negativo das coisas, passamos a valorizar ainda mais o positivo.
Não é palestra motivacional.
Muitas falações tidas como pregações priorizam a motivação das pessoas. São
mensagens como "Você já nasceu vencedor" ou "Quando você
levantar da cama, olhe para o espelho e diga 'Eu sou vencedor' por três
vezes". Um dia desses ouvi certo pregador dizendo ao povo: "Entre
milhões de espermatozóides, somente um fecundou o óvulo de sua mãe. Você já
nasceu vencedor".
É claro que o fator
motivacional está embutido na pregação do evangelho, mas não devemos confundir
a exposição das verdades da fé cristã com a apresentação de conceitos que
melhoram a auto-estima. Será que a mensagem de Jesus ao pastor de Laodicéia, contida
em Apocalipse 3.17,18, visava à melhora de sua auto-estima, ou ao seu
arrependimento? O Senhor o motivou a abandonar o pecado.
Não é palestra de psicologia.
Torna-se comum, a cada dia, nas igrejas, a exposição de conceitos da psicologia
como se fossem verdades bíblicas. Ora, a psicologia estuda a alma, com as suas
faculdades. Mas o único livro que trata da parte mais profunda do ser humano, o
seu espírito, é a Bíblia. A despeito de a mencionada ciência ter a sua
importância, a tentativa de mesclar os seus conceitos aos princípios das
Escrituras gera um jugo desigual. A pregação expositiva, como veremos, consiste
mesmo em exposição da Palavra de Deus (1 Ts 2.13).
Não é exposição para promover
entretenimento. Tenho assistido com tristeza a espetáculos promovidos por
super-pregadores, cuja "pregação" resume-se a mandar o povo fazer
isso e aquilo. O arsenal de manipulação de auditórios de que eles dispõem é
impressionante. Um deles, depois de empregar todo o seu repertório de
olhe-para-o-seu-irmão-e-diga-isso-e-aquilo, disse à ingênua platéia:
"Encoste a sua testa na testa do seu irmão e olhe bem dentro dos olhos
dele e diga..."
Onde nós vamos parar? Imagine
o que aconteceria se um marido descrente chegasse a um "culto" e
visse a sua esposa com a testa encostada à testa de um irmão? O que pensaria
esse marido? E... como ele reagiria? Por isso, é melhor expor as Escrituras,
ainda que não haja reação imediata do público. Aliás, se a Palavra é a semente,
por que sempre queremos uma resposta rápida do auditório? Cabe aos pregadores
espalhar a semente, e ao Espírito Santo — conforme o tipo de terreno — fazê-la
prosperar (Mt 13.18-23; Jo 16.8-11).
Não é exposição de sabedoria
humana. Pregar não é uma demonstração de sabedoria ou conhecimento. Há
pregadores que, ao microfone, esquecem-se de que devem ministrar a Palavra de
Deus e discorrem sobre os seus conhecimentos de filosofia, cultura, arte,
cinema, etc. Todos ficam admirados... mas, qual foi a mensagem de Deus? Embora
Paulo tivesse um vasto cabedal, as suas palavras aos coríntios não foram
"... persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de
poder" (1 Co 2.4).
Há expoentes que falam de
tudo; menos da Palavra de Deus. Sabem de cor letras de canções, roteiros de
filmes... Ah, e já leram livros e mais livros! Nada tenho contra quem possui um
grande interesse cultural, mas o maior conhecimento do pregador deve ser
bíblico, a menos que faça parte do grupo mencionado em Jeremias 6.10: "A
quem falarei e testemunharei, para que ouça? Eis que os seus ouvidos estão
incircuncisos e não podem ouvir; eis que a palavra do SENHOR é para eles coisa
vergonhosa; não gostam dela".
E você, caro leitor, aprecia
a Palavra de Deus? Tem prazer em lê-la e nela meditar de dia e de noite? E as
suas pregações, são exposições das Escrituras ou de sabedoria humana? Que
façamos nossas as palavras de Paulo, em 1 Coríntios 1.17,18: "Porque
Cristo enviou-me... não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se
não faça vã. Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para
nós, que somos salvos, é o poder de Deus".
Não é exposição impecável à
luz da Homilética. Certo pregador, que seguia à risca aos princípios
homiléticos, porém era incapaz de fazer uma prédica de improviso, passou por
grande dificuldade. Ele não teve o cuidado de fixar seu arcabouço à Bíblia, e o
vento gerado por um ventilador junto ao púlpito levou para longe a sua
"inspiração"... Felizmente, um atencioso irmão apanhou o papel e o
entregou discretamente ao mensageiro. Antes, curioso, deu uma olhadinha no
esboço e deparou-se com a frase: "Aqui, chorar".
Conquanto a Homilética seja
uma ferramenta imprescindível ao pregador, este não deve se tornar um escravo
dela. Pregadores há que a valorizam além da conta, esquecendo-se de depender do
Senhor. Em Atos 4.33, está escrito: "E os apóstolos davam, com grande
poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia
abundante graça".
A pregação pode ser
homileticamente impecável, com introdução, desenvolvimento e conclusão
humanamente perfeitos. Contudo, se não houver graça de Deus no pregador,
teremos apenas um belo discurso — sem graça —, como o de Herodes, o qual levou
o povo a exclamar: "Voz de Deus, e não de homem!" (At 12.22). A nossa
mensagem precisa ter graça e vida provenientes do Espírito Santo (Jo 1.14; 1 Co
2.1-5).
O QUE É PREGAÇÃO EXPOSITIVA?
Sei que as definições que
apresentarei não satisfarão aos super-pregadores, haja vista apreciarem os
itens negativos acima. Para eles, o que importa é agradar o povo e se tornarem
cada vez mais famosos e populares. Agem como se fossem humoristas, grandes
comunicadores e palestrantes de auto-ajuda. No entanto, as definições que
mencionarei agora são baseadas inteiramente na Palavra de Deus.
E exposição da Palavra de
Deus. Não deve haver rodeios ou quaisquer artifícios para agradar o público. O
pregador deve expor a Palavra, pois é isso que traz o conhecimento da vontade
do Senhor (Sl 119.130), gerando no coração dos ouvintes a fé (Rm 10.17; At
16.14). Infelizmente, expoentes há que ignoram o fato de a Palavra de Deus ser
proveitosa para ensinar, redargüir, corrigir e instruir em justiça (2 Tm
3.16,17).
Em 1 Pedro 4.11, está
escrito: "Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus..." Não
existe outra alternativa. É inadmissível um obreiro não pregar as Escrituras e
ainda desculpar-se, dizendo: "Cada um tem uma ferramenta. Eu não fui
chamado para pregar citando a Bíblia. Eu sou um contador de histórias, um
avivalista". Ora, como foram as pregações contidas no livro de Atos? Pedro
não explanou a Palavra, na primeira pregação pentecostal? Estêvão e Filipe não
expuseram o que está escrito? E Paulo, o que fez?
Não é o mensageiro que decide
sobre o que falar. A mensagem não é dele, e sim de Deus. Quanto a isso, o
Senhor Jesus afirmou: "A minha doutrina não é minha, mas daquele que me
enviou" (Jo 7.16). E, por isso, pôde dirigir-se ao Pai com estas palavras:
"porque lhes dei as palavras que me deste..." (Jo 17.8).
O Mestre não pregou nada além
do que recebeu do Pai celestial. E é isso que devem fazer os pregadores: não
expor nada além do que está escrito na Palavra da verdade (Mt 4.4; Jo 17.17).
É explanação cristocêntrica.
Pregar a Palavra de Deus não significa citar versículos sem correlação. Tudo o
que pregamos em relação à Bíblia deve estar atrelado ao seu Personagem central:
o Senhor Jesus Cristo: "Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam
sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os
judeus e loucura para os gregos" (1 Co 1.22,23).
John F. MacArthur Jr. afirmou:
"... pregar a Palavra nem sempre é fácil. A mensagem que somos convocados
a pregar é ofensiva. O próprio Cristo é uma pedra de tropeço e rocha de
escândalo (Rm 9.33; 1 Pe 2.8). A mensagem da cruz é uma pedra de tropeço para
alguns (1 Co 1.23; Gl 5.11) e loucura para outros (1 Co 1.23) (...)
Por que você acha que Paulo
escreveu 'não me envergonho do evangelho' (Rm 1.16)? Certamente porque há
muitos cristãos que estão envergonhados da própria mensagem que são ordenados a
proclamar" (Com Vergonha do Evangelho, Editora Fiel, pp.28,29).
Muitas mensagens, em nossos
dias, aparentemente bíblicas, não são cristocêntricas. Há faladores — e não
pregadores — que citam passagens isoladas, porém não mencionam Cristo e sua
obra. Suas mensagens são humanistas, motivacionais, psicologizantes. Dizem-se
pentecostais, ignorando que a verdadeira pregação pentecostal é a que enfatiza
o nome de Jesus e sua obra (Mc 16.15-18; At 2.22-36; 8.30-37; 9.15; 17.18).
É exposição da verdade, ainda
que o povo não goste. Como vimos acima, há quem não goste da Palavra (Jr 6.10;
Rm 10.16), embora isso não a invalide nem enfraqueça a sua influência sobre
aqueles que lhe abrem o coração. Por isso, caro pregador, jamais abra mão da
Palavra da verdade (2 Tm 2.15-18; Jr 1.17). Deus não está nada satisfeito com
esses faladores que ocupam os púlpitos, em grandes festividades, para dizer
tudo o que o povo quer ouvir.
Leiamos Jeremias 14.13-15:
Então disse eu: Ah! Senhor
JEOVÁ, eis que os profetas lhes dizem: Não vereis espada e não tereis fome; antes,
vos darei paz verdadeira neste lugar. E disse-me o SENHOR: Os profetas
profetizam falsamente em meu nome; nunca os enviei, nem lhes dei ordem, nem
lhes falei; visão falsa, e adivinhação, e vaidade, e o engano do seu coração
são o que eles profetizam. Portanto, assim diz o SENHOR acerca dos profetas que
profetizam em meu nome, sem que eu os tenha mandado, e dizem que nem espada,
nem fome haverá nesta terra: À espada e à fome serão consumidos esses profetas.
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