este é meu blog pessoal,bem vindo

quinta-feira, 31 de maio de 2012

erros que os pregadores cometem



erros que pregadores cometem    extraido  do   livro  de Ciro Sanches

Capítulo 1

A SÍNDROME DO PAPAGAIO... E DA MARITACA


A língua dos sábios adorna a sabedoria, mas a boca dos tolos derrama a estultícia. Provérbios 15.2

Há alguns anos, eu e um amigo conversávamos em sua casa sobre pregações e pregadores. Num momento de descontração, começamos a imitar alguns famosos animadores de auditório da época, e ele acabou gravando em áudio uma das minhas performances humorísticas...
Como eu jamais citaria a Bíblia ou o nome do Senhor em uma brincadeira, empreguei na "pregação" vários chavões de auto-ajuda, elogiei o público — formado por meu amigo, nossas esposas e filhas — e narrei a conhecida historinha do vaga-lume perseguido por uma cobra. Ao concluir o meu "sermão", perguntei: "Vocês sabem por que muitos nos perseguem? Porque não suportam ver a nossa luz brilhar". E finalizei, com voz alterada: "Brilhem, brilhem, briiilheeem..."
Passado algum tempo, esse meu amigo, sem dizer quem era o "pregador", apresentou a gravação que fizemos a alguns colegas de ministério, que reagiram de maneira surpreendente. Em vez de considerarem engraçada a "pregação", maravilharam-se da eloqüência de quem falava. E perguntaram: "Quem é este pregador? Ele fala com muita unção! Como podemos convidá-lo? Ele é daqui mesmo?"
Confesso que, num primeiro momento, ri dessa história. Diverti-me com meu amigo, dizendo-lhe que me senti lisonjeado com os comentários e que, a partir daquele momento, mudaria o meu modo de pregar, a fim de agradar aos que gostam de ouvir berros ao microfone e clichês que massageiam os egos.
Contudo, refletindo melhor, cheguei à conclusão de que não havia razão para rir. Isso porque a falta de discernimento tem aumentado, e a maioria dos pregadores jovens está seguindo aos maus exemplos dos animadores de platéia.

"RECEEEBAAA..."

No livro Erros que os Pregadores Devem Evitar, discorri sobre a síndrome do papagaio, que tem levado os servos de Deus a repetirem, sem nenhuma reflexão, o que dizem os super-pregadores, bem como os cantores-ídolos, isto é, pregadores e cantores que se comportam como astros, recusando-se a andar segundo a Palavra de Deus. E, agindo assim, arrebanham uma legião de fãs ou crentes nominais, que não seguem a Jesus Cristo.
Analisarei, neste primeiro capítulo, alguns chavões — expressões prontas, repetidas mecânica e irrefletidamente — tidos como bíblicos. Mas também tratarei de outra síndrome, a da maritaca, ave da família do papagaio cuja característica principal é o grito estridente.
Muitos ajuntamentos da atualidade não têm ordem alguma, e os pregadores, cantores e outros tão-somente exibem-se para uma platéia de crentes interesseiros, ávidos por bênçãos, cujo comportamento assemelha-se ao de fãs diante de seus ídolos. Como vimos na narrativa fictícia que abre este livro, boa parte dos cultos de nosso tempo não passa no controle de qualidade constante de 1 Coríntios 14.
É lamentável constatar que hoje os pregadores jovens não reproduzem apenas os clichês dos famosos animadores de auditório. Eles imitam também os trejeitos deles, a sua entonação de voz e, principalmente, os seus ensurdecedores berros ao microfone. Mas tenho de admitir, com tristeza: o povo de Deus, em razão de sua simplicidade, entusiasma-se com gritos do tipo "Receeebaaa..." ou "Profetiiizaaa..."
Não bastassem os gritos ensurdecedores — que sem dúvida fazem parte das obras da carne (Ef 4.31) —, há pregadores que, ao berrarem os seus clichês, ainda fazem movimentos estranhos, como se estivessem desferindo golpes de artes marciais...

"QUANTOS VIERAM BUSCAR UMA BÊNÇÃO?"

Esse chavão tem sido usado para abrir congressos e cultos públicos em geral. Mas a pergunta deveria ser outra: "Quantos vieram adorar a Deus?", haja vista o propósito principal do culto ao Senhor: adorá-lo na beleza da sua santidade. Infelizmente, obreiros que empregam esse clichê estão sentados na tribuna — alguns há dezenas de anos — e ainda não aprenderam o que é um culto.
Não preciso fazer aqui uma ampla explanação teológica para definir o culto a Deus. Trata-se do que apresentamos ao Senhor Jesus e a maneira como fazemos isso, quer individual, quer coletivamente (Rm 12.1,2; Mq 6.6-8; Sl 42.1,2). Individualmente, nunca termina, pois devemos cultuar ao Senhor em todo o tempo (1 Ts 5.17; Sl 1.1-3; 2 Co 4.6). Afinal, servimos a Ele e o adoramos em espírito (Rm 1.9; Jo 4.23,24).
Coletivamente, o culto também é para o Senhor, embora isso raramente aconteça em nossos dias. É claro que Deus nos abençoa e nos responde no templo ou onde quer que nos reunamos (Sl 73.16,17; Mt 18.19,20), mas os nossos ajuntamentos não devem ocorrer para sermos elogiados e recebermos bênçãos. Também não devemos ir ao templo apenas para pregar, cantar ou tocar um instrumento.
O pregador, o cantor e o músico precisam ter em mente que, antes de serem isso ou aquilo, devem ser crentes em Jesus e verdadeiros adoradores (Jo 4.23,24). Nesse caso, a sua prioridade é adorar ao Senhor, e não pregar, cantar ou tocar um instrumento. Se todos os obreiros do Senhor se conscientizassem disso, nunca ficariam tristes por não terem tido uma oportunidade para pregar em um culto.
Certa irmã mandou um bilhetinho para um pastor: "Desejo cantar um hino para Jesus". Como havia muitas participações de conjuntos, além dos hinos congregacionais, antes da pregação — que em muitos lugares tem sido substituída por peças teatrais ou "empurrada" para o fim do culto por causa de intermináveis cantorias—, a tal irmã não foi chamada para cantar. O pastor pregou e, após os avisos finais, concluiu a reunião.
Insatisfeita, a irmã que fizera o pedido dirigiu-se ao obreiro e lhe disse:
— Pastor, por que o irmão não me chamou? Eu queria cantar um hino para Jesus.
— Então, cante, irmã — respondeu o pastor.
— Ah, pastor, o povo já foi embora...
— Mas a irmã não deseja cantar para Jesus?
Precisamos refletir sobre as nossas motivações ao comparecermos a uma reunião no templo. Tomemos como base para isso 1 Coríntios 14.26, e não as nossas vontades. Temos ido ao templo para adorar a Deus e ouvir a sua Palavra? Ou para receber bênçãos e apresentar "louvores" e "pregações" ao povo?

"TEM FOGO AÍ, IRMÃO?"

Os pastores, os chamados ministros de louvor e principalmente os super-pregadores ou cantores-ídolos se valem do recurso de fazer perguntas à platéia ou elogiá-la, a fim de cativá-la. Mandam as pessoas fazerem isso e aquilo, como se os irmãos fossem marionetes ou títeres. Concordo que uma e outra pergunta sejam até cabíveis em uma reunião. Também não estou propondo o engessamento da liturgia. Mas o que temos visto hoje ultrapassa a todos os limites da tolerância.
Como as futilidades têm tomado conta de muitas reuniões tidas como cultos a Deus! Você já percebeu como tudo é de fogo? Varão de fogo. Sapato de fogo. Canela de fogo. Língua de fogo.
E essas efemeridades são usadas em tom de brincadeira, desviando os servos de Deus das verdades bíblicocêntricas. Daí surgirem perguntas esdrúxulas como estas: "Tem fogo aí, irmão?", "Tem fogo na galeria?", "Tem fogo aqui no altar?", etc.
Ora, eu já preguei sobre o fogo do Espírito várias vezes.
Não há nenhum problema nisso, pois o fogo é símbolo do Espírito Santo (1 Ts 5.19, ARA), assim como o vento (Jo 3.8), a água (Jo 7.37-39), etc. Entretanto, o que vemos em muitos cultos é um outro fogo, estranho, o fogo da carnalidade, da chocarrice, da falta de temor a Deus.
Em muitos lugares, se Deus mandasse fogo mesmo, consumiria a todos, haja vista as brincadeiras que têm feito em reuniões em que o nome dEle é pronunciado sem nenhuma reverência. "O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria..." (SL 111.10). "Guarda o teu pé, quando entrares na Casa de Deus..." (Ec 5.1).

"O ESPÍRITO SANTO ME REVELA..."

Em minha época de solteiro, eu freqüentava uma vigília na Zona Leste da cidade de São Paulo. Numa das reuniões, certo irmão afirmou, diante de todos: "O Espírito Santo me mostra um grande bife sobrevoando este local. Há muitos carnudos nesta vigília". Imediatamente, o dirigente da reunião pôs-se em pé, pediu para o irmão assentar-se e lhe disse: "Deus me revelou que o mais carnal aqui é você".
Alguns pregadores, em nossos dias, apesar do título que possuem, não pregam a Palavra de Deus. Sua especialidade é gerar movimentos e mexer com as massas, apresentando "revelações" que dizem ter recebido do Espírito Santo. Até lêem uma passagem bíblica, no início de suas performances, mas depois o que se vê é um animador de auditórios e uma platéia de marionetes, numa interação em que não há lugar para a Palavra e os genuínos dons espirituais.
Há pouco tempo, eu estava em um púlpito, em uma grande igreja, enquanto um pastor expunha a Palavra. Ao meu lado estava um desses super-pregadores da atualidade. Vendo ele que os irmãos recebiam a mensagem em silêncio, disse-me: "Ah, se fosse eu... Esse povão aí já estaria dando uns glória".
E, de fato, isso aconteceu. O dirigente do culto deu-lhe uma oportunidade, e ele fez de tudo, exceto pregar a Palavra. E o pior é que o "povão" gostou e deu "uns glória"...
Quem pronuncia palavras para animar o povo, afirmando que Deus lhe revelou isso e aquilo, mentindo, a fim de tornar-se famoso, deve se arrepender enquanto houver tempo (Ap 2.20-22). Afinal, o próprio Senhor disse: "... o profeta que presumir soberbamente de falar alguma palavra em meu nome, que eu lhe não tenho mandado falar, ou que falar em nome de outros deuses, o tal profeta morrerá" (Dt 18.20). E alguns de fato estão morrendo por causa disso, principalmente no plano espiritual (Ap 3.1).
O povo se deixa mesmo enganar porque é ingênuo, em sua maioria, e se empolga com elogios e mensagens motivacionais.
Mas Deus continua dando um tempo para os super-pregadores reconhecerem que estão errados. Que eles olhem com seriedade para a Palavra de Deus e reconheçam que o objetivo do pregador não é animar o povo, e sim expor a Palavra como ela é, ainda que não agrade a muitos dos ouvintes (At 7.54-57).

"TEM SAPATO DE FOGO?"

Pregadores que não se preocupam em expor a Palavra — pois a sua missão é movimentar as massas — se valem de perguntas como esta: "Tem sapato de fogo aí, irmão?" Com muita tristeza assisti a um vídeo em que alguém que já foi considerado, unanimemente, o maior expoente da Assembléia de Deus no Brasil participa de um espetáculo deprimente.
No tal vídeo, o pregador é chamado por um animador de auditório, que, apertando a sua mão, pergunta-lhe: "Pastor fulano, tem sapato de fogo? Tem sapaaato?" E ele balança a cabeça, em sinal de aprovação. Quer saber o que aconteceu? Bastou um sopro — e não um soco — para levá-lo à lona, quer dizer, ao chão...
Fiquei pensando: Meu Deus, um homem que já foi um referencial para muitos jovens pregadores, um defensor das verdades centrais da fé cristã, alguém que admirei, cujos livros e comentários bíblicos para escola dominical eu li, caído ao chão...
E ainda acreditando que está certo. Que Deus nos guarde, e que vigiemos, a fim de que jamais apostatemos da fé.

"ESSA É UMA GERAÇÃO DE APAIXONADOS"

Você já notou como os jovens costumam empregar o verbo "adorar" para quase tudo de que gostam, menos em relação a Deus? "Adoro cantar", "Adoro dançar", "Adoro ouvir música", "Adoro chocolate", etc. Mas, quando vão falar do Senhor Jesus, o único de fato digno de adoração, dizem: "Estou apaixonado". Isso ocorre principalmente por influência de cantores-ídolos que "adoram" empregar frases de efeito, como: "Essa é uma geração de apaixonados" ou "Deus não rejeita um coração apaixonado".
Paixão, por definição, é irracional, passageira e não leva em conta princípios. A adoração, ao contrário, é racional (Rm 12.1), verdadeira (Jo 4.23,24) e envolve tudo o que há em nós: espírito, alma e corpo, principalmente o nosso espírito, que é a parte mais profunda de nosso ser (1 Ts 5.23; Lc 1.46,47; Sl 57.7).
Alguém poderá perguntar: "O que vale não é a intenção?" Na verdade, não podemos, ainda que bem intencionados, aceitar todas e quaisquer influências do mundo. E o clichê em análise, conquanto para muitos seja apenas uma simples questão de semântica, tem levado os jovens à concepção distorcida da verdadeira adoração a Deus, acima de todas as coisas, o que é muito mais que estar apaixonado!
Sei que alguém, ao ler esta abordagem, pode não estar muito apaixonado por este livro e seu autor. Mas espero, sinceramente, que reflita sobre a importância de adorar somente ao Senhor Jesus e segui-lo, abandonando a postura de fã (Lc 9.23). Não adianta nada alguém usar uma camiseta com os dizeres "Apaixonado por Jesus" ou viver cantando "Apaixonado, apaixonado, apaixonado...", se não andar como Jesus andou (1 Jo 2.6)!
Abandone, pois, essa canoa furada da geração dos apaixonados! Embarque no navio cujos passageiros são os verdadeiros adoradores, que seguem ao Senhor Jesus, que disse: "Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás..." (Mt 4.10).

"NÃO DESISTA DOS SEUS SONHOS"

Esse chavão tem sido propagado por super-pregadores, cantores-astros, pregadores sinceros (mas mal informados), cantores tementes a Deus (que seguem a maus exemplos) e crentes em geral atingidos pela síndrome do papagaio. Aliás, "Os sonhos de Deus" ou "O crente sonhador" são os temas do momento, tanto para composições musicais como para pregações.
Vou tratar desse assunto especificamente no capítulo 3, ao fazer a análise de uma canção que chamam de hino, mas quero aqui deixar claro que muitos pregadores estão deixando de pregar sobre o sacrifício vicário de Cristo, sua ressurreição, sua Segunda Vinda, para falar sobre sonhos. Preferem pregar sobre isso a ensinar sobre o batismo com o Espírito Santo, os dons espirituais, a renúncia, a santificação, etc.
Os animadores de auditório gostam de usar a biografia de José (Gn 37; 39-50) para dizer que o crente é um "sonhador". Usam frases de efeito, como "Crente sonhador não morre enquanto os seus sonhos não se cumprirem". No entanto, os sonhos de José foram sonhos mesmo, revelações de Deus, e não aspirações ou projetos humanos. Bem, falaremos disso depois.
Mas fica aqui o alerta de que o bordão em apreço é extrabíblico e antibíblico.

"OLHE PARA DENTRO DE VOCÊ"

Pregadores berram esse clichê com naturalidade, e crentes o assimilam, reconhecendo que de fato têm valor... Sabia que essa frase é cem por cento humanista e contrária à Palavra de Deus? No entanto, como as pregações, nos grandes congressos, têm sido, em geral, palestras motivacionais ministradas na base do grito, poucos se apercebem do perigo que há na supervalorização do ser humano.
Temos algum valor em nós mesmos, à luz da Bíblia? Que é o homem mortal? Em nossa carne não habita bem algum (Rm 7.18).
Somos considerados miseráveis, sujeitos a satisfazer os desejos da carne (Rm 7.19-24). O que faz a diferença em nosso pobre vaso de barro? O precioso tesouro que nele está (2 Co 4.7). Por isso, caro leitor, não acredite nesses animadores de auditório! Quanto a você, pregador, lembre-se de que não foi chamado para massagear egos. Não faça massagem; entregue a mensagem! A sua missão — se é que tem compromisso com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra — é falar a verdade (Jo 10.41). Leve o povo a olhar para Jesus, autor e consumador da fé (Hb 12.2), e não a olhar para dentro de si. Nada temos; nada somos. Humilhemo-nos debaixo da potente mão do Senhor, a fim de que Ele nos exalte (1 Pe 5.6; Tg 4.6).

"LIBERE UMA PALAVRA RHEMA"

Certo escritor, já falecido — cujas iniciais do seu nome são K.H. —, fez muitos discípulos (e alguns fanáticos) no Brasil, apesar de nunca ter demonstrado amor e fidelidade à Palavra de Deus. Alguém pode até duvidar do que Jesus disse, mas, se criticar as falácias do papai H., prepare-se para os ataques dos triunfalistas de plantão!
No Brasil, estão entre os fiéis seguidores de K.H. um famoso telemissionário, cantores-ídolos e outros telepregadores.
Ah, os animadores de platéia também têm bebido dessas fontes escuras e turvas. Resultado: todos eles mandam o povo liberar uma palavra rhema, pela qual podem pretensamente trazer à existência o que não existe...
"Isso é uma questão de fé", alguém argumentará. Não obstante, a fé também deve ser controlada pela Palavra de Deus, a nossa regra de fé, de prática e de viver. A origem de uma profecia — profecia mesmo, e não confissão positiva — não é a nossa fé. Afinal, não é a declaração do crente que é viva, eficaz e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e sim a Palavra de Deus (Hb 4.12), não é mesmo?

"PROFETIZE PARA VOCÊ MESMO"

Há algum tempo, participei de uma escola bíblica no Nordeste do Brasil, e lá estava um conhecido pregador de massa. Suas principais características: brincalhão, contador de piadas, cortejador, oferecido, imodesto e sem compromisso com a Palavra de Deus. Quer saber como foi sua pregação? Um festival de gritos, tal qual uma maritaca. Mas o povo vibrou com os seus gracejos.
O que mais me chamou atenção na performance do tal animador foi a frase: "Profetize para você mesmo". Ora, com quem ele aprendeu tamanho absurdo? Qual foi o profeta, nas páginas sagradas, que profetizou para si mesmo? Nem Jesus fez isso! E a regra bíblica de que devem falar apenas dois ou três profetas — e não todos, ao mesmo tempo —, enquanto os outros julgam? Nada vale o que está escrito em 1 Coríntios 14?
Quem julga uma auto-profecia? E se ela tiver origem no coração humano ou provier do Maligno? A Palavra de Deus não diz que o coração é enganoso (Jr 17.9)? Ela não nos alerta quanto aos espíritos enganadores (1 Tm 4.1)? Como, pois, alguém pode mandar os crentes profetizarem para si mesmos? Só mesmo um irresponsável para fazer uma coisa dessa.

"QUE OS DEMÔNIOS SEJAM QUEIMADOS AGOOORAAA..."

Há pregadores que, no início de suas performances, fazem orações exibicionistas pelas quais estimulam os que gostam de movimentos carnais, ocos, vazios de significado, desordeiros e indecentes. Eles dizem, nessas "orações", que os demônios ficarão distantes do local de culto tantos quilômetros. Caso algum demônio maluco — "pois só pode ser maluco para estar neste lugar", dizem — demore mais que cinco segundos para se retirar, é queimado imediatamente...
Apesar das efemeridades descritas acima, vou tentar analisar com equilíbrio a tese de que os demônios podem ser queimados quando alguém verbera contra eles, em um culto. Em primeiro lugar, proponho as seguintes perguntas: Os demônios entram num local de culto? Podem ser eles arrancados de um lugar onde os crentes se ajuntam, ou Deus permite que eles ali permaneçam?
Sabemos que o templo é apenas um espaço físico onde nos reunimos para prestar um culto coletivo a Deus. O Senhor Jesus age no meio daqueles que se reúnem em seu nome e habita no coração de seus servos (Mt 18.20; Cl 1.27). No entanto, isso não significa que o Inimigo deixa de agir na vida das pessoas que lhe dão lugar, mesmo dentro de um espaço onde ocorre um culto a Deus.
Nem Jesus ordenou que os demônios ficassem distantes dEle tantos quilômetros, tampouco deu-lhes alguns segundos para que desaparecessem, a fim de que não fossem queimaaaaaados... Não! Jesus, no auge de sua consagração ao Pai, em jejum e oração, foi tentado pelo Maligno, mas venceu-o pela Palavra de Deus (Mt 4.1-11).
Os demônios vêem e ouvem tudo o que acontece em um culto. E há casos em que são eles que agem no meio do povo, e não o Senhor Jesus! Imagine o caso da igreja de Laodicéia, em que o Senhor Jesus estava do lado de fora (Ap 3.20)! O pastor daquela igreja, sendo um desgraçado, miserável, pobre, cego e nu, dizia: "Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta". Haja arrogância!
É preciso ter em mente três definições para a palavra "igreja". Existe a Igreja como Corpo de Cristo, a igreja local e o templo, que também costumamos chamar de "igreja". Os demônios não entram na Igreja — com "i" maiúsculo —, porém no espaço destinado aos cultos sim, podendo também influenciar ou até possuir alguns indivíduos da igreja local, mesmo durante a performance de um super-pregador.
Portanto, mais importante do que ficar berrando ao microfone que os demônios estão sendo queimaaados, com a intenção clara de impressionar o ingênuo povo de Deus — que tem sido enganado por falta de conhecimento (Os 4.6) —, é ensinar os crentes a se sujeitarem a Deus (Tg 4.7a), a fim de que, de fato, tenham poder para resistir ao Diabo (Tg 4.7b; 1 Pe 5.8,9).

"CRENTE QUE NÃO FAZ BARULHO TEM DEFEITO DE FABRICAÇÃO"

É mesmo? Quer dizer, então, que o crente que grita é mais crente do que o que não grita? É a maritaca superior às aves silenciosas ou às que emitem suaves grunhidos? Quem disse que alguém para ser pentecostal tem de ser barulhento? Quando Elias saiu da caverna, em Horebe, o Senhor se manifestou por meio do vento que quebrava pedras? Estava Ele no terremoto ou no fogo? Não! Ele falou ao profeta mansa e delicadamente (1 Rs 19.11-13).
Há casos em que, de fato, há ruído, barulho na presença de Deus (Ez 37.7). No Céu, inclusive, haverá altissonantes vozes de louvor a Deus: "... ouvi no céu como uma grande voz de uma grande multidão, que dizia: Aleluia! Salvação, e glória, e honra, e poder pertencem ao Senhor, nosso Deus" (Ap 19.1).
Mas nem sempre barulho denota manifestação do Espírito.
Não combato a liberdade de glorificarmos a Deus, e sim o mau costume que os manipuladores de platéia têm de mandar o povo dizer "aleluia" e "glória a Deus" enquanto pregam.
Isso é uma prática reprovável, pois ninguém precisa nos mandar glorificar a Deus, num culto. E se um crente, em um culto, quiser glorificar ao Senhor em voz baixa? É ele — repito — inferior ao que o faz como se fosse uma maritaca?

"FALE EM MISTÉRIOS, IRMÃO!"

É triste ver uma parte do povo de Deus sendo manipulada por homens que pensam estar lidando com fantoches! Mandam os crentes falarem em línguas estranhas a todo o tempo, como se pudessem fazer isso por iniciativa própria. Empregam seus bordões, levando os incautos, quais títeres, a fazerem isso e aquilo. Em sua prepotência, pensam até que podem controlar as operações do Espírito Santo!
Ora, as línguas estranhas — a rigor, desconhecidas de quem as pronuncia — são dadas sobrenaturalmente pelo Espírito de Deus. É Ele quem fala por meio de nós. Nesse caso, que história é essa de os pregadores estimularem os crentes a falarem em mistérios? Quanta presunção! E já não é de hoje que eles fazem isso, tratando os servos de Deus como marionetes.
Não sou contra as manifestações espirituais. Tenho convicção de que a promessa do derramamento de poder do Espírito é para hoje (At 2.38,39). Aliás, o Senhor sempre me tem dado mensagens em profecia e em línguas estranhas. Não sou eu quem resolvo falar simplesmente porque sou pentecostal! Tudo ocorre de modo sobrenatural. Ainda que, como profeta, eu tenha autocontrole (1 Co 14.32), não falo em línguas porque quero. O impulso é do Espírito Santo, que é soberano em suas ações (Jo 3.8).
É bom que entendamos, à luz da Bíblia, o porquê das línguas provenientes do Espírito de Deus. Elas podem ser dadas para edificação do crente; e, nesse caso, não há necessidade de que as pronunciemos em voz alta (1 Co 14.2,4). Mas há também as línguas pelas quais são transmitidas mensagens do Senhor, quer as inteligíveis — como ocorreu no dia de Pentecostes (At 2.7-12) —, quer as que necessitam de interpretação (1 Co 14.13,26-28).

"EU QUERO OUVIR AS SUAS LÍNGUAS ESTRANHAS"

As línguas estranhas não são produzidas por nós, mecanicamente, atendendo à ordem de animadores de auditório. E essa distorção até municia os inimigos do pentecostalismo, que gostam de zombar dos dons espirituais, principalmente devido aos abusos que ocorrem quanto às línguas estranhas. Dizem os chamados cessacionistas que existe contradição entre o que ocorre no meio dos pentecostais com o que aconteceu no dia de Pentecostes.
Concordo plenamente que esteja havendo, nesses últimos dias, mau uso dos dons espirituais. Prova disso é a banalização das línguas estranhas. Há inclusive uma "cantora" que gravou um "hino" que mescla pretensas línguas angelicais e uma descrição de um certo anjo de nome impublicável que habita num "lugar estreitinho e maravilhoso".
Mas, sabe de uma coisa? O que realmente importa é que existem de fato línguas provenientes do Espírito. A Palavra de Deus diz que, pelo mesmo Espírito, é dada a variedade de línguas e a interpretação destas (1 Co 12.10), as quais podem ou não ser inteligíveis por alguém presente num auditório, como vimos acima.
Lembro-me de que, há alguns anos, na Assembléia de Deus em Cordovil, no Rio de Janeiro, o Senhor me deu uma mensagem em línguas que eu desconhecia totalmente. Eu nada entendi, pois elas provieram do Espírito. Mas havia no púlpito um pastor que conhecia vários idiomas, o qual entendeu tudo o que falei. Pedindo o microfone, ele deu a interpretação.
— Irmãos, o Senhor falou claramente à igreja: "Eu sou o Supremo Senhor" — disse ele. Aleluia! Não precisamos, pois, de estímulo externo para falar noutras línguas. Ninguém precisa nos mandar fazer isso. Como diz a Palavra de Deus, "... um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer" (1 Co 12.11).
Esse assunto me fez lembrar de uma expressão muito usada em nossos dias: "reteté de Jesus". Você já ouviu alguém falar disso ou participou de um culto do reteté? Bem, esse é o assunto do próximo capítulo.



Capítulo 2

HAJA UNÇÃO!


Se alguém ensina alguma outra doutrina e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com a doutrina que é segundo a piedade, ê soberbo e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, contendas de homens corruptos de entendimento e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho. Aparta-te dos tais. 1 Timóteo 6.3-5

A palavra "unção" é uma das mais pronunciadas no meio pentecostal, ao lado de outras como "fogo", "glória", "vaso", etc. Há também expressões novas — e esdrúxulas —, como "reteté de Jesus". Se um pregador tem eloqüência, voz potente e principalmente facilidade para animar o auditório, todos dizem: "Fulano tem muita unção" ou "Fulano é do reteté". Afinal, o que é unção?
Nos tempos da Antiga Aliança, reis, profetas, sacerdotes e coisas (colunas, objetos, etc.) eram ungidos (Gn 31.13; Êx 30.26-30; 40.15; 1 Sm 10.1; 1 Rs 19.16; Sl 133). A unção simbolizava consagração de pessoas ou coisas ao Senhor. Mas, no Novo Testamento, Jesus afirmou, após ter lido um trecho de Isaías (61.1-2), que a profecia quanto à unção do Espírito sobre a sua vida tinha se cumprido (Lc 4.18-21). Deus o ungira, no plano espiritual, e isso em si já era o bastante para o cumprimento de sua missão na Terra (At 10.38).
O derramamento de azeite representava, antigamente, unção divina propriamente dita sobre a vida de quem ascenderia a uma posição de destaque (Nm 3.3; 1 Sm 16.13). No entanto, hoje, não é mais necessário ungir pessoas com azeite para consagração ou confirmação de seus ministérios. Basta a unção do Espírito Santo (2 Co 1.21; 1 Jo 2.20,27).
Também não é preciso ungir objetos, a fim de consagrá-los a Deus, pois o Novo Testamento menciona a unção literal somente para os enfermos (Mc 6.13), a qual deve ser aplicada pelos presbíteros da igreja (Tg 5.14). O azeite, além de símbolo do Espírito Santo (Zc 4.3-6), é o ponto de contato para estimular a fé do doente. Mas o recebimento da cura não está relacionado com a unção, e sim com a oração da fé, em nome do Senhor: "E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará" (Tg 5.15).

UNÇÃO DA "LOUCURA DE DEUS"

De tempos em tempos aparecem pregadores "ungidos" anunciando novidades dissociadas das Escrituras, mas sempre afirmando que têm o aval de Deus para isso. No plano espiritual, estão em voga as "novas unções", acompanhadas de "novas visões". Fala-se muito em "unção da loucura de Deus", com base em 1 Coríntios 1.25: "Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens".
Os espalhafatosos pregadores dessa "nova unção" vêem na passagem acima a justificativa para todas as aberrações que dizem e fazem. Alguns têm ministrado a "bênção do depósito celestial". Prometem que as pessoas que tiverem fé encontrarão uma grande quantia em sua conta bancária! No entanto, a suposta bênção divina traz ao "agraciado" um grande problema. Trata-se de um autêntico "presente de grego"!
Não pense que sou incrédulo. Creio sim num Deus que faz até moeda aparecer na boca de um peixe! Mas, se aparecerem, digamos, cinqüenta mil reais na conta de alguém, como fica a sua situação em relação à Receita Federal? Como o tal declarará isso no Imposto de Renda, haja vista não poder dizer simplesmente: "Foi Deus quem me deu"? O Senhor nos daria uma bênção pela qual nos tornaríamos sonegadores de impostos, infratores da lei?
Quanto à expressão "loucura de Deus", ela foi empregada por Paulo apenas para enfatizar o quanto os seres humanos, por mais capazes que sejam, estão aquém do Todo-Poderoso.
Ah, e ele também mencionou a "fraqueza de Deus". Por que esses "ungidos" não pregam também a "unção da fraqueza de Deus"? Como se vê, o texto que empregam não apóia as suas atitudes extravagantes e as suas ministrações insanas.
Por outro lado, em 1 Timóteo 6.3,4 o apóstolo Paulo — ao mencionar o "obreiro" que ensina outra (gr. heteros, "dessemelhante") doutrina e não se conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo — chamou esse tipo de "obreiro" de louco! E aqui é louco mesmo! Não se trata de linguagem figurada. Eis a descrição contida no versículo 4: "é soberbo e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras..." Não seria essa a loucura ou delírio presente na vida de alguns super-pregadores?

RETETÉ DE JESUS?

Uns dizem "reteté", e outros, "repleplé". Ninguém sabe ao certo o que significam essas expressões onomatopaicas — que devem ter se originado de uma brincadeira de péssimo gosto com as línguas estranhas —, usadas para identificar pretensos cultos pentecostais. Isso mesmo, pois, nos cultos genuinamente pentecostais, há exposição bíblica e manifestação do poder de Deus, e não brincadeiras com os dons espirituais e mau uso deles.
O termo "reteté" não consta de dicionários oficiais; é um neologismo. Mas há quem diga que teve origem no italiano; relacionado com a culinária, significaria: "mistura", "movimento", "reboliço", "festa", "aquilo que foge da normalidade", etc. O certo é que essa expressão esdrúxula faz o maior sucesso no meio dito pentecostal. E ai daqueles que falam alguma coisa contra isso! São taxados de frios e inimigos do "mover de Deus".
Mas, quer saber de uma coisa? Está na hora de darmos uma basta nessas efemeridades e brincadeiras na casa de Deus!
De onde tiraram essa idéia de que um culto só é pentecostal se pessoas marcharem, pularem, contorcerem-se ou caírem? Que negócio é esse de os crentes ficarem rodopiando pra lá e pra cá? E os servos de Deus que estudam as Escrituras, oram, jejuam, evangelizam e se santificam? São eles inferiores aos crentes do reteté em razão de não tomarem parte em seus reboliços?

QUEM GOSTA DO RETETÉ?

Já estive em várias reuniões do reteté. Os "hinos" são apresentados em ritmos como axé, com batuques que lembram reuniões de candomblé, e muito forró. Pura carnalidade! Pessoas rodopiam, caem, riem, berram, etc. E alguns obreiros tolerantes, frouxos, ainda dizem que isso se trata apenas de meninice.
Ah, se o reteté fosse apenas meninice! Bastaria ensinar os "meninos" no caminho em que devem andar, não é mesmo?
Porém, são poucos os crentes que se envolvem com práticas estranhas por falta de amadurecimento. A maioria gosta desses "moveres" por carnalidade e falta de temor a Deus! E, em alguns casos, verifica-se até apostasia decorrente de influência maligna (cf. 1 Tm 4.1).
Obreiros neófitos gostam do tal reteté, a ponto de se indignarem contra quem estimula o povo a ler mais a Bíblia e ser mais equilibrado. Eles dificilmente oram e, quando o fazem, valem-se das chamadas "orações de guerra". Ordenam, determinam, decretam... Esses anões espirituais não têm fome pela Palavra. Quando um pregador cita as Escrituras, bocejam. O negócio deles são as efemeridades; gostam de movimentos — da carne, é claro.
Um dia desses, em um dos aeroportos brasileiros, eu me pus a ler a Bíblia na sala de embarque — não é sempre que faço isso em lugares como esse —, a espera da chamada de meu vôo. De repente, um famoso super-pregador do reteté, de mãos vazias, se aproximou. Sentando-se ao meu lado, ele disse, num tom que me pareceu zombeteiro ou um tanto desdenhoso: "Pois é... quem ensina precisa mesmo ler a Bíblia".
Tentei inutilmente conversar com ele sobre o que eu estava lendo nas Escrituras, mas o seu negócio era contar vantagens. Apresentou-me, em cerca de dez minutos, toda a sua agenda... Depois que nos despedimos, fiquei pensando que, para manipular os ingênuos crentes do reteté, realmente não é preciso ler a Bíblia. Basta ter à mão um arsenal de animação de auditório, suficiente para garantir o "mover de Deus".

UNÇÃO DA GARGALHADA

No site YouTube (www.youtube.com) há uma infinidade de vídeos para todos os gostos. Foi lá que encontrei vários cultos do reteté e aberrações sobre os ministérios de super-pregadores norte-americanos que muitos crentes idolatram. Alguns deles são gurus da confissão positiva, modismo pernicioso que, há alguns anos, tem levado muitos crentes a abandonarem o evangelho de Cristo.
Está no YouTube para todos verem um "culto" em que um famoso pregador — cujas iniciais do nome são K.H. —, pouco antes de morrer, precisando ser amparado por dois obreiros para não cair, ministrava à platéia a "unção do riso". Simplesmente, grotesco. Todos que vêem o vídeo confirmam: "Isso é uma aberração". Alguns se convencem de que não se trata apenas de uma histeria coletiva — há influência demoníaca mesmo.
No tal vídeo, uma mulher uiva, como se fosse um lobo. Pessoas caem e lançam-se umas sobre as outras, dando gargalhadas similares àquelas que só podem ser ouvidas em filmes de terror. Um casal sentado, ao ser fitado por K.H., cai ao chão "em câmera lenta", como se estivesse derretendo — o semblante deles é assustador.
Os vídeos de outro não menos famoso super-pregador, cujas iniciais do nome são B.H., também impressionam. Vestido como um astro e parecendo um super-herói, derruba a todos os que estão à sua frente. Ele é um show-man. Pessoas se enfileiram para receber o golpe de seu "paletó mágico". Mas, se realmente a unção de Deus está sobre B.H., por que não forma uma fila de paralíticos, a fim de levantá-los?
Em outro vídeo, certo pregador brasileiro — e o principal propagador do reteté —, demonstrando total falta de bom senso, afirma que não queria apenas receber o sopro de B.H.: "Se o sopro dele é tão poderoso, eu queria que cuspisse sobre mim". Como se vê, essa "nova unção" para derrubar pessoas tem contribuído muito mais para que os super-pregadores recebam glória dos homens do que para a glorificação do nome do Senhor Jesus.

UNÇÃO DO LEÃO

No livro Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria, eu fiz menção da unção dos quatro seres, por meio da qual "adoradores" caem ao chão, rugem como leões, batem os braços como águias, imitam bezerros, etc. Certa cantora — que tem um grande poder de influência sobre a juventude — foi um pouco mais além. Sob a "unção do leão", engatinhou em um palco, levando milhares de fãs ao delírio.
Em seu blog, ela afirmou o seguinte acerca do episódio:

Saímos para a ministração às 16h. Me vesti de acordo com o que o Espírito colocou em meu coração. Um vestido de veludo azul que comprei há mais de 10 anos no Seminário em Dallas. Um cinto preto largo com "cara" de autoridade. Botas pretas, assim como na última viagem em Florianópolis, com essa mesma mensagem de força, poder, autoridade, e conforto necessário para pular e pisar com força, profeticamente, na cabeça do diabo (...) Meus brincos comprados em Israel, e o anel com a pedra ametista que ganhei quando eu nasci. Olhei para mim mesma no espelho e vi uma guerreira (...) Houve um momento em que fez um "clique". Uma mudança na atmosfera. Depois da música "Manancial" comecei a receber palavras proféticas... A música acompanhou... O poder de Deus era palpável, e as palavras proféticas continuaram. Um cântico espontâneo sobre o Cordeiro e o Leão marcou para sempre a minha vida. E a unção de autoridade foi ministrada sobre nós (...)
De repente, começamos a celebrar, mas foi diferente. Eu saltava e parecia que estava em um trampolim, uma cama elástica. Se antes pulava para romper, agora eu me sentia voando, pulando muito alto, minhas pernas esticadas iam alto, ao menos essa era a sensação, mas depois outras pessoas confirmaram. O vento nos meus cabelos e a sensação era de pulos muito altos. Eu sabia que algo diferente estava acontecendo. Quando pulei uma última vez, senti que era para me assentar. Não sabia se teria forças para me levantar outra vez. Foi quando senti o impulso, me agachei e comecei a andar como o Leão.
Pensamentos vieram à minha mente. Eu disse ao Senhor: "É... agora a minha reputação acabou. Agora vou ver quem vai ficar comigo". Mas prossegui, consciente do que estava acontecendo, e senti a direção até mesmo de onde eu deveria ir. Quando parei, não sabia como ou que fazer ao me levantar. Ainda no chão, me ergui de meio corpo e gritei: "Um brado de vitória ao Senhor" (sem saber se alguém responderia), e o som foi poderoso.
A música terminou grandiosamente. Era o Leão da Tribo de Judá.

Até que ponto os impulsos que sentimos podem ser atribuídos ao Espírito de Deus? Dirigiria Ele alguém quanto a efemeridades, como tipo de roupa e calçado, penteados, cinto e até os brincos a serem usados para participar de um culto, ou melhor, show? Ou levaria Ele um crente a andar como um quadrúpede? Não vou citar muitas passagens bíblicas para refutar tal aberração e responder a essas perguntas. Basta lermos com meditação 1 Coríntios 14 para percebermos como essa talentosa cantora e compositora está equivocada quanto à operação do Espírito Santo.

TRANSFERÊNCIA DE UNÇÃO

Encontrei no site de relacionamentos Orkut, na Internet, o currículo de um super-pregador, que se diz avivalista: "Prepare-se para receber uma transferência de unção! Deus tem levantado uma geração de avivalistas extravagantes, pessoas como você e eu que renderão seu espírito numa dimensão mais profunda ao Espírito Santo de Deus, a fim de sermos agentes mobilizadores de avivamento em nossas cidades".
Tratarei do chamado avivamento extravagante em outro capítulo, mas o tal pregador citou algo que tem ocorrido em algumas reuniões do reteté: transferência de unção. Pessoas se abraçam fortemente; algumas ficam literalmente grudadas; outras encostam as suas testas umas nas outras; e há aquelas que caem ao chão movimentando-se violentamente.
Os defensores desse modismo aberrante argumentam de modo equivocado que Moisés transferiu a sua unção para setenta anciãos. Na verdade, Deus usou o seu servo como um canal para dar a outros setenta homens a sua (de Deus) unção, por assim dizer, como se lê em Números 11.16,17. Observe que a capacitação proveniente do Espírito, que é imensurável, foi partilhada pelo próprio Deus com os servidores de Moisés.

E disse o SENHOR a Moisés: Ajunta-me setenta homens dos anciãos de Israel, de quem saber que são anciãos do povo e seus oficiais; e os trarás perante a tenda da congregação, e ali se porão contigo. Então, eu descerei, e ali falarei contigo, e tirarei do Espírito que está sobre ti, e o porei sobre eles; e contigo levarão a carga do povo, para que tu sozinho o não leves.

Não há na Palavra do Senhor apoio algum para a tal transferência de unção. Trata-se de um modismo perigoso. Deus até nos confere poder do alto através da intercessão de seus verdadeiros servos, obedientes à Palavra (2 Tm 1.6; At 5.12; 8.17-19), mas nunca por meio de espetáculos de super-pregadores soberbos, antiéticos, amantes do dinheiro, que agem segundo o que pensam e sentem, desprezando a vontade de Deus (Mt 7.21-23).

UNÇÃO DE MONTES E CIDADES

Muitos também — ignorando que a Bíblia é a nossa regra de fé, de prática e de vida — querem agir por conta própria quanto à unção com óleo, aplicando-a de modo indiscriminado.
Não obstante, somente o ministério está autorizado a ungir os enfermos. Tiago, ao mencionar presbíteros, referiu-se aos ministros chamados por Deus, vedando essa prática a diáconos, cooperadores e membros (cf. Tg 5.14; Mc 6.13).
Certos pregadores têm afirmado que é preciso ungir casas, carros e até cidades para que tenhamos a bênção de Deus. Um deles conta que, ao ter chegado a uma cidade, como nenhuma alma se entregava a Jesus, Deus lhe revelou uma nova estratégia de evangelização — percorrer a cidade inteira de carro, derramando azeite por onde passasse. Haja azeite! Se essa é a solução, como ungir uma cidade grande como o Rio de Janeiro?! E se alguém resolver ungir todo o Brasil?!
Há algum tempo, seguidores de um grupo "evangélico" resolveram, numa "atitude profética", escalar e ungir o pico Dedo de Deus, na região serrana do Rio de Janeiro. Outros enterram garrafas ou latas de azeite em montes, a fim de tornar o produto da oliveira "poderoso". Depois, o empregam em suas campanhas para ungir casas, carros, carteiras de trabalho, etc. Ungem até os enfermos no local da enfermidade!

ESTRANHA UNÇÃO PARA OS ENFERMOS

Alguns pregadores têm afirmado: "Eu fui chamado para pregar milagres". Na verdade, nenhum servo de Deus foi chamado para pregar os efeitos do evangelho, e sim o próprio evangelho (Mc 16.15). E os tais efeitos devem acontecer naturalmente, como conseqüência da proclamação do evangelho (Mc 16.17-20), e não de maneira induzida.
Jesus curou muitas pessoas (Mt 8.16,17). Os apóstolos também, em nome do Senhor, fizeram obras extraordinárias, até maiores do que algumas praticadas pelo Mestre (At 5.15,16; 19.11,12), como Ele prometera (Jo 14.12). Contudo, não há apoio bíblico para as operações estranhas que vêm ocorrendo em nossos dias.
Certos milagreiros esfregam óleo no local da enfermidade, para depois extrair objetos que supostamente indicam a ocorrência de enfermidades ou "trabalhos malignos". Essas "operações" têm gerado muita confusão no meio do povo de Deus, e não são poucos os obreiros que fazem perguntas sobre o assunto.
Nos tempos bíblicos, o azeite era empregado diretamente nas feridas, mas como remédio (Is 1.6; Lc 10.34). Hoje, a unção para os doentes é apenas simbólica. Não deve ser aplicada no local da enfermidade. E se esta for numa parte íntima? Ademais, extrair pedaços de ossos, pedras, filetes com sangue ou algo parecido do corpo das pessoas — se é que não se trata de fraude — tem muito mais semelhança com as chamadas cirurgias mediúnicas do que com a manifestação de Deus.
Embora muitos milagreiros e seus defensores recorram a versículos bíblicos isolados para se justificarem perante o povo, não vemos na Bíblia apoio consistente às suas estranhas práticas. Não devemos aceitar como sendo da parte de Deus qualquer operação prodigiosa, pois a própria Palavra do Senhor nos manda testar, examinar, julgar, provar o que ouvimos, vemos e sentimos (At 17.11; 1 Ts 5.21; 1 Co 14.29; 1 Jo 4.1).
Alguém argumentará: "Jesus não untou os olhos de um cego com lodo feito com a sua saliva? Não devemos restringir os métodos de curar". Oh, sim. Mas Jesus não fez daquela prática um método para curar os enfermos. Além disso, aquele episódio isolado não respalda toda e qualquer prática dos milagreiros da atualidade.
Quanto à cura, Jesus disse: "... porão as mãos sobre os enfermos e os curarão" (Mc 16.18). E a imposição de mãos, como vimos, pode incluir a unção com óleo. Esta, no entanto, não é a condição primacial para a cura, que ocorre por meio da fé (Lc 8.48; 17.19).
Qual dos apóstolos precisou de azeite para levantar os enfermos? Já pensou se Pedro tivesse dito ao coxo junto à porta Formosa: "Jesus te cura depois; agora, estou sem azeite para ungi-lo"?!
"E quanto aos dons de curar?" — alguém perguntará. Ora, estes se referem às operações multiformes do Espírito Santo, e não às invenções dos criativos milagreiros. Deus age como quer.
Quando Ananias visitou a Saulo, que estava cego, tão-somente impôs-lhe as mãos, e caíram dos olhos do apóstolo algo semelhante a escamas (At 9.17-18). Houve um sinal visível da cura, porém Ananias não precisou empregar um método exótico.

RETETÉ DE TORONTO

Infelizmente, pastores hoje têm apostatado da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios (1 Tm 4.1). Mas há casos raros em que eles "desapostatam", isto é, arrependem-se, reconhecem o seu erro. Não foi esse o conselho que Jesus deu ao pastor da igreja em Éfeso? "Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres" (Ap 2.5).
O pastor canadense Paul Gowdy, que abraçara várias aberrações na Igreja Aeroporto de Toronto, arrependeu-se e escreveu, há algum tempo, uma carta, pela qual discorre sobre o seu retorno às verdades da Palavra de Deus. Ele menciona uma série de heresias, modismos e manifestações — chamadas por ele mesmo de demoníacas—que, infelizmente, muitas igrejas brasileiras estão experimentando. A diferença é a designação. Aqui, elas são conhecidas como "reteté", "unção da loucura", etc.
Mas, na tal carta, publicada em vários sites e blogs norte-americanos — como www.revivalschool.com e www.discernment-ministries.org —, o pastor Gowdy diz que não foi nada bom o que ocorreu na Igreja Aeroporto de Toronto. Ele já começa dizendo que a experiência de Toronto para ele foi uma mistura de maldição. Segundo a sua descrição, o resultado de todo aquele "mover" (ou, como diríamos aqui no Brasil, "reteté") foi que a igreja praticamente se auto-destruiu, esfacelando-se:

Devoramo-nos uns aos outros com fofocas, falando mal pelas costas, com divisões, partidarismo, críticas ferrenhas uns dos outros, etc. Depois de três anos "inundados" orando por pessoas, sacudindo-nos, rolando no chão, rindo, rugindo, rosnando, latindo, ministrando na igreja Internacional do Aeroporto de Toronto, fazendo parte de sua equipe de oração, liderando o louvor e a adoração naquele local, praticamente vivendo ali, tornamo-nos os mais carnais, imaturos, e os crentes mais enganados que conheci.

As manifestações dos dons espirituais na Igreja do Aeroporto, a partir de 1994, deram lugar à tal "bênção de Toronto".
O povo que ia à igreja deixou de ouvir a exposição da Palavra, receber libertação e graça vindas do Senhor, para ouvir gritos de "fogo!" e sacudir o corpo de modo estranho. Gowdy acredita que os líderes da igreja eram pessoas sérias, que amavam o Senhor, até que caíram no laço do engano.
Ele diz o seguinte dos líderes da Igreja do Aeroporto e de si mesmo:

Não amaram o Senhor o suficiente para guardar os seus mandamentos. Fracassaram por não obedecer as Escrituras, e se desviaram porque andavam algo maior e grandioso, mais empolgante e dinâmico. Eu também cometi este pecado. Preguei sobre esta renovação na Coréia, no Reino Unido, nos Estados Unidos e aqui no Canadá, e estou profundamente arrependido ao escrever este relato, e peço-lhes que vocês, a noiva e o corpo de Cristo me perdoem, especialmente os pentecostais e carismáticos, pois todos fazem parte de minha família teológica.

Gowdy também pergunta, num trecho da carta: "Como fiquei tão cego assim?" Ele diz isso, ao descrever como pessoas imitavam cachorros, faziam de conta que urinavam nas colunas da igreja, latiam, rugiam, cacarejavam, "voavam" e se comportavam como bêbadas. Hoje, ele não tem dúvidas de que tudo aquilo era algo irreverente e blasfemo ao Espírito Santo.
Ele diz que ficou perturbado com uma profecia que veio através da esposa de um dos líderes. Dizendo ter sido arrebatada à presença do Senhor Jesus, ela afirmou que o que experimentou foi muito melhor que sexo! "Como alguém pode comparar o amor de Deus ao sexo?", pensou o pastor Gowdy.
Mas o que mais impressiona em sua narrativa é o fato de ele reconhecer que os demônios agiam livremente em meio a todo aquele reteté, por assim dizer:

Quando começamos a suspeitar de que os demônios estavam à vontade em nossos cultos, John Arnot ensinava que devíamos nos perguntar se eles estavam chegando ou saindo. Se está saindo deles, está bem! John defendia o caos afirmando que não devíamos ter medo de sermos enganados, pois se havíamos pedido ao Espírito Santo para nos encher; como Satanás poderia nos enganar? (...)
Tais palavras eram convincentes, mas totalmente contrárias às Escrituras, pois Jesus, Paulo, Pedro e João alertaram-nos sobre o poder dos espíritos enganadores, especialmente nos últimos dias. Mesmo assim, não devotamos amor a Deus para lhe obedecer a Palavra, e, Como conseqüência, abrimo-nos à ação de espíritos mentirosos (...)
...eu rolava pelo chão, certa noite, "bêbado no Espírito", como costumávamos dizer, e ali, cantando e rolando no chão, comecei a cantar uma canção de ninar: "Maria tinha um cordeiro e seu pêlo era mais alvo que a neve". Cantei esta música infantil de maneira debochada e imediatamente alguma coisa em meu coração sussurrou que aquilo era um demônio...

Após essa triste experiência, Gowdy se arrependeu. "Como um demônio entrou em mim? Eu não amava a Deus? Não era zeloso pelas coisas de Deus? Não era totalmente apaixonado por Jesus?", questiona. Mas hoje ele não tem dúvidas de que espíritos imundos se manifestaram através de sua vida. E, por isso, se afastou da Igreja do Aeroporto e resolveu, anos depois, denunciar as experiências que ali viveu.
Ele também conta que pessoas de sua ex-igreja lhe perguntara m se já havia recebido a espada dourada do Senhor. E então lhes perguntou de que se tratava, pensando ser uma palavra profética relacionada com as Escrituras. Mas ouviu deles a seguinte resposta:

Não, não é a Bíblia; é uma espada invisível que somente os verdadeiramente puros poderão receber. Se for tomada de maneira errada, então será morto pelo Senhor. Mas, se você for santo o suficiente para recebê-la, então poderá desembainhá-la, pois ela cura aids, câncer, etc. e produz salvação. A pessoa deve fazer gestos de ataque, imaginando ter em suas mãos esta espada invisível, avançando sobre as pessoas enquanto está em oração!

"O que é isso, desenho animado?", alguém poderá perguntar. De fato, a descrição de Gowdy seria cômica se não fosse trágica. E, infelizmente, a realidade brasileira não é diferente. Muitos crentes empunham espadas douradas em vez da espada do Espírito (Ef 6.17); e calçam sapatos de fogo em vez dos calçados da preparação do evangelho da paz (Ef 6.15).
Paul Gowdy menciona outras manifestações e heresias — que abordarei em outros capítulos desta obra — e conclui a carta, arrependido por ter ensinado "coisas que não são bíblicas". Diz ele: "Eu não testei os espíritos quando a Palavra ordena que assim seja feito. Todos os que estavam ali quando estas coisas começaram a acontecer sabem que o que escrevo é a verdade".
Destaco agora algumas das últimas palavras contidas na carta:

... temos muitas contas a prestar; o Senhor lhes abrirá os olhos qualquer dia desses. Imagino que quando esta carta for publicada serei bombardeado por cartas de ambos os lados... Bem, o Senhor conhece meu coração e por sua graça haverá de me guiar a toda verdade, pois quero conhecer a Jesus Cristo o crucificado (...)
Creio que somos como a igreja de Laodicéia; pensamos que somos ricos, prósperos e sem necessidade alguma, e, no entanto não percebemos que estamos cegos e nus. Precisamos levar a sério o conselho de Jesus comprando ouro refinado no fogo (que fala do sofrimento e não de espíritos enganadores), vestiduras brancas para cobrir nossa nudez e colírio para os olhos para poder ver outra vez. O Senhor nos chama ao arrependimento, e graças ao Senhor pelo que ele é, pois nos conduzirá e nos restaurará ao Pai.

Ora, o que adianta os crentes rirem e rolarem pelo chão dentro dos templos, se as almas continuam perdidas do lado de fora?
Diante do exposto, cito ainda o que está escrito em 1 Coríntios 15.1,2: "Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado, o qual também recebestes e no qual também permaneceis; pelo qual também sois salvos, se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado, se não é que crestes em vão".

DÚVIDAS SINCERAS SOBRE "NOVAS UNÇÕES"

Pessoas sinceras e tementes a Deus me perguntam sobre o "cair no Espírito", a "unção do riso" e outros "moveres". São irmãos em Cristo, servos do Senhor, que desejam aprender a cada dia a sã doutrina. Perguntam, não para tentar me pôr em apuros, mas porque querem ter um posicionamento definido, seguro, sobre o assunto.
O motivo da dúvida desses irmãos é compreensível, pois, quando estudamos sobre o avivamento de Azusa Street, em Los Angeles (1906), e acerca do início da Assembléia de Deus no Brasil (1911), são comuns as menções a momentos em que irmãos caíam sob o poder de Deus ou riam sem parar.
É claro que as experiências relacionadas com o Movimento Pentecostal — ainda que envolvam santos como William Seymour, Gunnar Vingren e Daniel Berg — não devem ser supervalorizadas, a ponto de as equipararmos às incontestáveis verdades da Bíblia (Gl 1.6; 1 Co 4.6; 15.1,2). Respeito esses pioneiros do pentecostalismo clássico, mas a minha fonte primária de autoridade continua sendo a Palavra de Deus.
Como disse Bryan Chapell, "Sem uma autoridade suprema em defesa da verdade, toda luta humana não tem valor fundamental, e a própria vida torna-se fútil. Tendências modernas de pregação que negam a autoridade da Palavra, em nome da sofisticação intelectual, conduzem a um subjetivismo desesperador em que as pessoas fazem o que é direito a seus próprios olhos — situação cuja futilidade a Escritura já anunciou claramente (Jz 21.21)" (Pregação Cristocêntrica, Editora Cultura Cristã, p.23).
A Bíblia é um Livro de princípios, e estes devem ser considerados antes de qualquer análise de manifestações, independentemente das pessoas nelas envolvidas. E há vários princípios relacionados com o culto genuinamente pentecostal em 1 Coríntios 14. Citarei apenas alguns:
1) O propósito principal das manifestações do Espírito em um culto é a edificação do povo de Deus (vv.4,5,12). Os risos intermináveis e as quedas que temos visto hoje edificam?
2) A faculdade do intelecto não pode ser desprezada no culto em que o Espírito Santo age (vv.15,20). Ninguém de fato usado pelo Espírito perde os sentidos, deixa de raciocinar, etc.
3) O culto a Deus não deve levar os incrédulos a pensarem que os crentes estão loucos (v.23). O que pensam os não-crentes que assistem a certos cultos do reteté, em que pessoas caem ao chão, rindo sem parar e rolando umas sobre as outras?
4) Deve haver ordem e decência no culto; tudo deve ocorrer a seu tempo: louvor, exposição da Palavra, manifestações do Espírito (vv.26-28,40). Um culto que não tem ordem nem decência é dirigido pelo Espírito?
5) No culto, deve haver julgamento, a fim de se evitar falsificações (v.29).
6) Haja vista o espírito do profeta estar sujeito ao próprio profeta, é inadmissível que aconteçam manifestações consideradas do Espírito Santo em que pessoas fiquem fora de si (v.32).
7) O Deus que se manifesta no culto não é Deus de confusão, senão de paz (v.33).
8) Se alguém cuida ser profeta ou espiritual, deve reconhecer os mandamentos do Senhor (v.37). O leitor está disposto a submeter-se aos mandamentos do Senhor? Ou é um daqueles que, irresponsavelmente, dizem: "Não podemos pôr Deus em uma caixinha"?

GUNNAR VINGREN: "NÃO ME ENVOLVAM NISSO"

Como explicar as experiências da Rua Azusa? E os relatos contidos no Diário do Pioneiro de Gunnar Vingren, editado pela CPAD? As informações contidas nesse livro — que, repito, não é a Bíblia — têm como objetivo enfatizar que a glória de Deus era tão intensa, naqueles dias, a ponto de ser impossível permanecer de pé, em alguns momentos. E a alegria era tão grande, que irmãos riam continuamente, externando tal alegria, mas permaneciam conscientes.
O que aconteceu no tempo dos pioneiros não pode ser comparado aos atuais "moveres", verdadeiras aberrações. Na Azusa e em Belém, as pessoas envolvidas nas manifestações citadas estudavam a Bíblia, oravam, jejuavam, tinham um bom testemunho e se submetiam inteiramente à vontade de Deus.
Não havia naquelas reuniões super-pregadores, paletó mágico, sopro ungido, sapato de fogo, etc. E mais: o nome de Jesus Cristo era glorificado!
Muitos pensam que Deus se manifesta derrubando pessoas. Isso é um engodo! Lembremo-nos de que quem lança pessoas ao chão à moda dos super-pregadores é o Diabo (Mc 9.17-27; Lc 4.35). Jesus a ninguém derruba. Mas alguém pode cair por não suportar a glória da sua presença, como aconteceu com o apóstolo João.
Reconheço que alguém, em um culto pentecostal, possa até sentir a glória de Deus de modo tão intenso, a ponto de não suportar ficar de pé. Isso já aconteceu com pessoas piedosas e tementes a Deus. João, o apóstolo, em Apocalipse 1.17, afirmou, referindo-se ao Senhor Jesus: "E, quando o vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; eu sou o Primeiro e o Último".
Da experiência vivida por João (Ap 1) extraímos verdades importantes:
1) Ele não perdeu, em momento algum, a consciência. Haja vista ouvir claramente a mensagem de Jesus. Não foi um transe ou algo parecido.
2) Ele também não caiu ao chão estrebuchando-se ou debatendo-se.
3) Ele caiu diante da presença real de Jesus Cristo glorificado. Quem poderia, diante de tamanha glória, permanecer sobre seus pés?
4) João caiu aos pés de Cristo. Muitos não caem de joelhos, mas são derrubados, caindo para trás, de costas.
Permaneçamos, pois, em pé diante do Senhor e valorizemos a genuína manifestação do Espírito Santo, baseada inteiramente na Palavra de Deus. Lembremo-nos de que nós temos a unção do Santo e sabemos tudo (1 Jo 2.20).
Espero você no próximo capítulo, a fim de apresentar-lhe análises de hinos estranhos...



Capítulo 3

MAIS HINOS ESTRANHOS


A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao Senhor com graça em vosso coração. Colossenses 3.16

Tem sido um grande problema em nossos cultos o chamado "período de louvor" — um verdadeiro festival de cantoria e dança, em muitos lugares —, que ocupa praticamente o tempo todo das reuniões.
Geralmente, o culto começa com um momento de louvor. Depois, em alguns lugares, cânticos do hinário. Em seguida, participação dos grupos musicais, dos cantores, avisos... Quanto tempo é dedicado à exposição da Palavra? Bem, depois de todos cantarem, o tempo que sobrar é para a pregação...
Mas não vou falar agora de liturgia; há um capítulo específico sobre isso nesta obra. Falarei sobre algumas letras de canções tidas como hinos de louvor a Deus — dando continuidade no assunto desenvolvido em um dos capítulos do livro Erros que os Pregadores Devem Evitar — e discorrerei sobre danças e coreografias, procurando responder às perguntas que venho recebendo sobre esses assuntos.
Para quem é o nosso culto? A quem devemos cantar louvores, bem como tocar bem e com júbilo? Quais são as nossas motivações ao compor ou entoar hinos no templo, destinado ao culto ao Senhor? Estamos mesmo louvando a Deus, ou as letras de nossas composições nada têm de louvor a Jesus? Pretendo responder a essas perguntas à luz da Bíblia neste capítulo.
Eu sei que, ao analisar letras de "hinos", estarei mexendo num vespeiro, uma vez que as canções de maior sucesso e apelo comercial são as que priorizam efemeridades, e não o louvor a Deus. Além disso, boa parte dos cantores evangélicos segue ao caminho dos "louvores" de auto-ajuda. Eles animam o público com canções desprovidas de sólido fundamento bíblico, promovendo um outro evangelho, que prioriza as preferências e necessidades das pessoas, e não a vontade do Senhor.

ATENÇÃO, SONHADORES APAIXONADOS!

Atenção, atenção, geração de "sonhadores apaixonados", vou logo avisando que esta análise da conhecida canção "Sonhos de Deus" poderá deixá-los um tanto irritados! Mas peço-lhes que sejam imparciais e valorizem o que a infalível Palavra de Deus tem a dizer (1 Pe 1.24,25), a menos que não queiram mais andar segundo a Bíblia.
Muitos cantam de cor: "Se tentaram matar os teus sonhooos, sufocando o teu coraçããão; se lançaram você numa covaaa; e ferido perdeu a visããão..." Nessa canção, somos retratados como pessoas que pensam ser pobres em razão de desconhecerem o potencial que têm dentro de si. Ela tem como objetivo apresentar uma mensagem motivacional, de auto-ajuda, cuja característica principal é mostrar que o crente, se pensar positivo e usar palavras convictas, torna-se forte, podendo mudar todas as circunstâncias e trazer à existência o que não existe.
Ah, como as palavras dessa canção nos animam e nos motivam! Percebemos, ao cantá-la, que não há limites para um sonhador. Tudo lhe é possível... Sabe o que é isso? Humanismo! Antropocentrismo puro! Essa canção realmente agrada uma boa parte dos crentes e está de acordo com as mensagens da moda, que giram em torno de "sonhos", isto é, projetos que estão em nosso coração.
A Palavra de Deus nos alerta quanto ao perigo de confiarmos em nosso coração (Jr 17.9). Em nenhuma parte dela somos estimulados a "sonhar os sonhos de Deus". É óbvio que podemos ter projetos, aspirações, "sonhos". O perigo está em acreditar que todas essas aspirações provêm do Senhor. É claro que Ele nos revela algumas coisas mediante sonhos de verdade, quando dormimos (Gn 37.5,9; Mt 2.12), mas isso nada tem que ver com "sonhos de Deus que jamais vão morrer".
"E a promessa de sonhos para os crentes de hoje, em decorrência do derramamento do Espírito Santo?" — alguém perguntará. Ora, a promessa diz respeito a sonhos de verdade (revelações de Deus), e não a "sonhos" no sentido de desejos e aspirações (Jl 2.28,29).

CUIDADO COM OS SEUS "SONHOS"

Interessante como os super-pregadores e os cantores-ídolos gostam de basear as suas mensagens motivacionais na biografia de José. Eles só não atentam para o fato de que aquele servo de Deus nunca foi um "sonhador"! Os seus irmãos o chamaram de "sonhador-mor" (Gn 37.19), mas os seus sonhos foram revelações de Deus, e não "sonhos", projetos (Gn 37.5-10). Muitos pensam que ele ficava o tempo todo "sonhando" de olhos abertos: "Ah, se eu fosse o governador do Egito!" Que engano!
Mas a canção em apreço também diz: "Não desista; não pare de crer; os sonhos de Deus jamais vão morrer". Essa invencionice de que os nossos projetos são "sonhos de Deus" lamentavelmente tem desviado o povo do Senhor da verdade, que é uma só para os nossos dias: qualquer pessoa que diz servir a Deus deve se humilhar, e orar, e buscar a sua face, e se converter (2 Cr 7.14), ao invés de ficar "sonhando os sonhos de Deus".
Se todos os "sonhos" ou planos de Davi tivessem se concretizado, seguindo à "profecia de auto-ajuda" de Natã (2 Sm 7.3), ele não teria cumprido a vontade de Deus! E olha que o principal rei de Israel tinha um bom "sonho": construir a Casa de Deus em Jerusalém. Felizmente, o Senhor usou o próprio profeta Natã — que errara, ao dizer a Davi que devia fazer tudo o que estava em seu coração — para desfazer a falaciosa "profecia motivacional" (vv.3-17).
Todos nós temos aspirações ou "sonhos", porém é preciso tomar muito cuidado com esse modismo de atribuir todo e qualquer desejo do coração ao Senhor. A Bíblia diz: "Do homem são as preparações do coração, mas do Senhor a resposta da boca. Todos os caminhos do homem são limpos aos seus olhos, mas o Senhor pesa os espíritos" (Pv 16.1,2).

DESISTA DE CANTAR ESSA CANÇÃO!

Muitos não conseguem — ou não querem — enxergar que as verdades centrais da fé cristã estão perdendo espaço para a supervalorização do ser humano. Somos tão importantes assim, a ponto de um culto ser voltado todo para o nosso "eu"?
Ora, os cânticos que entoamos devem ser em louvor a Deus (Sl 136.1-3; 138.1,2), e a nossa maior pregação deve ser Jesus Cristo crucificado (1 Co 1.22,23; Fp 3.18). O que passar disso com certeza faz parte do plano diabólico de, nos últimos dias, desviar os crentes da sã doutrina (1 Tm 4.1; 2 Tm 4.1-5).
Mas prossegue a canção: "Não desista; não pare de lutar; não pare de adorar". Oh, até que enfim uma ênfase à adoração... Mesmo assim, sem nenhuma especificidade. Simplesmente, "não pare de adorar". Adorar a quem? Adorar como? Adorar com quê? Cantando essa "canção" de auto-ajuda, recheada de humanismo? Que Deus nos ajude a tirar do nosso meio esse perigoso antropocentrismo, que nos afasta cada vez mais da vontade do Senhor, levando-nos a confiar em nossas "palavras mágicas" e em nossos "sonhos".
Alguém pode pensar que estou exagerando. Mas a composição em análise enfatiza o que qualquer palestrante ou livros seculares de auto-ajuda dizem. Ela parece mesmo ter sido inspirada em livros como Nunca Desista de seus Sonhos ou Você É Insubstituível. Não há nenhuma menção à vontade de Deus e à sua grandeza; não se faz referência à obra salvífica realizada na cruz por Jesus Cristo, tampouco à vida de santificação e renúncia que o crente deve ter nesta vida, ante a iminente volta do Senhor (cf. Lc 9.23; Hb 12.14; 1 Jo 3.1-3).
Quem não gosta de ouvir elogios e palavras animadoras? Ah, como é bom ouvir uma mensagem que nos motiva a ser felizes nesta vida, que nos estimula a usar toda a "nossa força" para mudar este mundo! Contudo, não se anime tanto! Nada somos em nós mesmos! Temos de nos humilhar debaixo da potente mão do Senhor (1 Pe 5.6; Sl 138.6; Ef 6.10). Nada de auto-ajuda! Precisamos é da ajuda do alto!

VOCÊ É O "CARA"

Diz ainda a canção em análise: "Levanta teus olhos e vê; Deus está restaurando os teus sonhos; e a tua visão". Meu Deus! Não agüento mais tantas palavras de auto-ajuda! Alguém argumentará: "Viu, irmão Ciro? A canção fala de Deus. Por que ser tão crítico?"
Oh, sim, é verdade; há uma referência a Deus! Mas não se anime tanto... Observe que Ele é mencionado restaurando os "teus" sonhos, a "tua" visão. Afinal, o que vale mesmo é o que "você" sente, o que "você" pensa, o que "você" sonha... Você, você, você! "Você é o cara", como diria um famoso jogador de futebol...
Que visão Deus estaria restaurando? Visão de quê? A Palavra do Senhor nos manda olhar para Jesus, autor e consumador de nossa fé (Hb 12.1,2). No entanto, depois de tanta ênfase ao ser humano, a composição em apreço só pode estar incentivando o crente a olhar para dentro de si mesmo e contemplar as suas potencialidades e a sua capacidade de "sonhar" os "sonhos de Deus", e não olhar para o Senhor Jesus, não é mesmo? Por falar em Jesus, o nome dEle não aparece nenhuma vez nessa canção!
A última parte do "hino" em análise diz: "Recebe a cura; recebe a unção; unção de ousadia; unção de conquista; unção de multiplicação". Recebe, recebe, recebe! Viva o humanismo!
Não é preciso mais adorar a Deus em espírito e em verdade. Com o modismo que se instalou no meio do povo de Deus, de todos acharem que podem profetizar na hora em que bem entendem, temo que esta parte da composição fomente mais ainda essa prática descabida e antibíblica. De acordo com a Palavra, nem todos são profetas; devem profetizar dois ou três, enquanto os outros julgam (1 Co 12.29; 14.29).
Devido ao falacioso e também pernicioso movimento da confissão positiva, muitos crentes acreditam que há poder próprio em suas declarações de fé e acham que podem abrir e fechar portas por meio de palavras de ordem; e pensam que têm o poder de determinar, decretar, etc. Isso contraria a Palavra de Deus (Hb 4.12; Jo 14.13; Jr 33.3; Tg 5.17).
O crente deve pedir, suplicar e rogar (Mt 7.7,8; Jr 23.19), e não determinar, decretar e profetizar quando bem entende.
Ezequiel profetizou, pronunciando a Palavra de Deus, conforme se lhe deu ordem, e não porque se considerava "a boca de Deus na Terra" (Ez 37.1-10).
"Bendito serei no campo; bendito serei; por onde eu passar; onde eu tocar abençoado será, quando eu obedecer a sua voz". Boa conclusão! A obediência é de novo enfatizada, como no começo. Além disso, assevera-se que o crente não deve ser apenas abençoado, e sim uma bênção, um canal de bênçãos para os que estão à sua volta (Gn 12.1-3). De fato, o crente fiel — que atentamente ouve o Espírito Santo —, por onde quer que passe, influencia pessoas; negócios prosperam, igrejas são abençoadas, etc.

PARA QUEM DEVEMOS CANTAR?

No livro de Salmos, principal referencial das Escrituras sobre música e louvor, os salmistas, em suas composições, seguem, grosso modo, a uma das premissas abaixo:
1) Dirigem palavras de louvor ou oração diretamente a Deus (3.7; 6.1; 7.1; 9.1; 30.1, etc).
2) Falam de si mesmos, mas em relação à grandeza do Senhor (18.2; 23.1; 42.1; 73.2,23; 103.1; 104.1, etc).
3) Mencionam a magnificência do Criador (19.1; 24.1, etc).
4) Estimulam todos a louvarem ao Senhor (95.1; 107.1; 112.1; 113.1, etc).
5) Mencionam as bem-aventuranças que existem para o justo, em contraste com o ímpio (1.1,2; 36.1, etc).
As canções tidas como hinos não cumprem nenhuma das proposições acima. Não exaltam a Deus de forma alguma. São voltadas para o ser humano, com elogios e mensagens triunfalistas, do tipo auto-ajuda barata. Outro problema é que algumas letras desses "hinos" até mencionam o Senhor, porém o apresentam como um ser mitológico ou um super-herói. Prova disso é uma canção muito entoada pelos jovens cuja letra nos leva a pensar no Robocop: "Braço de ferro, punho de aço..."
São insuportáveis as canções com mensagens mais ou menos assim: "Você é ungido, escolhido, ...ido, ...ido e ...ido".
Observe que é o ser humano quem recebe todos os elogios e palavras de ânimo. Podemos chamar isso de louvor a Deus? É claro que não. Mas, sabe o que está em voga no momento?
Compor para o Diabo...

NOVA MODA: COMPOR PARA SATANÁS

Lembro-me de que a minha irmã, quando eu era menino, cantava um corinho que mudava de assunto bruscamente, cujo refrão mencionava o Tentador: "Jerusalém, que bonita é; ruas de ouro, mar de cristal... Vamos pisar, meus irmãos, vamos pisar na cabeça do Diabo se Jesus nos conceder". Noutra parte, a cômica letra dizia: "Jesus aumenta um pouquinho a minha fé e também me dá poder pra pisar em Lúcifer".
Não é de hoje que o ingênuo povo de Deus — não na sua totalidade, é claro — vibra com letras ofensivas ao Inimigo e outras efemeridades, em vez de palavras de louvor ao Senhor.
Mas os compositores da atualidade estão inovando. Agora, eles verberam diretamente contra o Diabo!
Certa vocalista e líder de um grupo idolatrado por boa parte da juventude evangélica, ao falar sobre um megashow que se realizaria na Praça da Apoteose (Rio de Janeiro), em julho de 2007, demonstrou o quanto está enganada sobre algumas de suas motivações para compor os seus "hinos":

... em uma madrugada em que eu estava irritada com tantas afrontas de satanás... Eu compuz (sic), pela primeira vez, uma música para ele. Eu fiz questão de falar, zombar e declarar que se ele pensa que eu vou parar, é melhor ele desistir. Maior é o que está em mim.

Ela se referiu à canção "Mais que Vencedor", por meio da qual dirige palavras e gestos ofensivos diretamente ao Diabo.
Para ser honesto, a letra em si não chega a ser tão ofensiva. Em compensação, a parte gestual, bem como as danças e coreografias "proféticas" fazem-nos ter a impressão de que, durante a apresentação do "louvor", está-se "malhando um Judas".
É correto estimular o povo de Deus a verberar contra o Diabo? Que edificação uma letra com ofensas ou desafios (ainda que indiretos) ao príncipe das trevas pode trazer ao povo de Deus? É correto compor e cantar "hinos" para zombar dele?
Não devemos apenas exaltar o nome do Senhor, além de cantar as suas misericórdias e os seus juízos?

MAIS QUE VENCEDOR? TENHO DÚVIDAS...

Sabemos que o Diabo já está julgado (Jo 16.11). Mas ele só será esmagado debaixo de nossos pés no futuro (Rm 16.20; Ap 20.1-3,10). Por isso, a nossa postura deve ser de resistência, com as armas que recebemos de Deus (2 Co 10.4,5; Ef 6.10-18), e não de ofensa ao príncipe das trevas (1 Pe 5.8,9). E essa oposição deve ocorrer por meio de sujeição a Deus (Tg 4.7), e não mediante xingamentos ao Adversário.
Cantores-ídolos e animadores de auditório gostam de frases de efeito como: "O Diabo está debaixo dos meus pés. Se quiserem vê-lo, olhem para a sola do meu sapato". Dizem que amarram Satanás e o esmagam, e propagam a idéia de que devemos achincalhá-lo, referindo-se a ele como um ser fraco, incapaz, que nada pode fazer contra os servos de Deus.
Entretanto, precisamos ser realistas e equilibrados. Não podemos ignorar que o Inimigo tem permissão para investir contra a vida dos salvos: "Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados..." (Ap 2.10). Em 2 Coríntios 2.11, está escrito:"... não ignoramos os seus ardis". Além disso, o apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, asseverou: "Pelo que bem quisemos, uma e outra vez, ir ter convosco, pelo menos eu, Paulo, mas Satanás no-lo impediu" (1 Ts 2.18).
Devemos andar como Jesus andou (1 Jo 2.6). E Ele, ao ser tentado pelo Inimigo, valeu-se apenas da Palavra de Deus, sem ofendê-lo ou chamá-lo para a briga. Tão somente disse "Está escrito" e citou a Palavra (Mt 4.1-11). Da mesma forma, o arcanjo Miguel, que talvez seja mais poderoso do que o próprio Satanás, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele (Jd v.9). Quem somos nós para fazer isso?
O grande problema dessa ilusória canção é que ela leva até crentes com a vida em pecado a se sentirem vitoriosos sobre o Inimigo! Contudo, se não se arrependerem, passando a andar segundo a vontade de Deus, estarão perdendo tempo!
Seus gritos não serão melhores do que os de torcedores de futebol! E o Adversário continuará rindo deles! Lembra-se de Sansão? Pensou que venceria os inimigos como dantes, ignorando os seus pecados contra Deus... Que decepção!

O DIABO AGRADECE A PREFERÊNCIA!

Confesso que consigo ver poucas diferenças entre um show dito evangélico e um espetáculo mundano. Tanto num quanto noutro há palco, parafernália musical, platéia animada e irreverente, luzes coloridas, danças, além de vocalista e músicos se comportando como astros. Onde estão as diferenças?
Hoje, é praticamente impossível distinguir um culto (culto?) evangélico (evangélico?) de um show (show?) mundano (mundano?). Quem estaria imitando quem?
Um dia desses, certo repórter da televisão referiu-se a um "culto evangélico" da seguinte forma, enquanto o cinegrafista mostrava jovens vestidos com roupas pretas, calçando coturnos, bem como exibindo tatuagens e piercings: "Você pensa que essa multidão veio assistir a um show dos Guns'n'Roses? Não, eles vão participar de um culto evangélico!"
Deus rejeita esses shows pretensamente evangélicos, ainda que sejam realizados por pessoas aparentemente bem-intencionadas (Am 5.23; Jo 4.23,24; Is 29.13; 1 Jo 2.15-17; Rm 12.1,2). Muitos pensam que Ele os aprova em razão da grande quantidade de pessoas que deles participam. Que engano! A Palavra de Deus nos alerta quanto ao fato de serem poucos os fiéis (Sl 12.1; 101.6; Mt 25.1-13) e menciona maiorias perigosas (Mt 7.21-23; 24.12; Jo 6.60-69; 2 Co 2.17). Não nos esqueçamos de que a porta para a vida é estreita, e o caminho também (Mt 7.13,14).
Não bastasse toda a parafernália mencionada, no megashow realizado na Apoteose houve uma encenação em que um rapaz se passou pelo Inimigo, enquanto a vocalista do grupo simulou pisá-lo. Além disso, danças e coreografias também muito parecidas com as de espetáculos mundanos animaram a grande festa evangélica. Evangélica? Tenho dúvidas...
Milhares de pessoas vibraram e dançaram ao som de ritmos eletrizantes, entoando a canção "Mais que Vencedor" e outras. Mas, com toda a sinceridade, a despeito de a cantora e seu grupo terem demonstrado que envergonharam as hostes das trevas em praça pública, tenho certeza de que o Diabo gostou de muita coisa do que ali aconteceu, haja vista ter sido ele o protagonista da festa!
Satanás ri dessas canções que o tornam ainda mais popular no mundo do qual é príncipe (1 Jo 5.19; 2 Co 4.4). Desprovidas de fundamento bíblico, só servem para confundir as pessoas.
São "hinos" que não promovem o evangelho cristocêntrico, haja vista não darem a ele a merecida ênfase. Ao priorizarem a ofensa ao Inimigo, levam o crente a pensar que achincalhá-lo é melhor do que pronunciar palavras de louvor ao Senhor Jesus.

DESCOBRIRAM A AMÉRICA!

Não escrevi este livro — nem os anteriores — para agradar ou atacar pessoas, e sim para expor a verdade à luz da Bíblia. Quero falar agora sobre a dança. E o meu posicionamento acerca disso já é conhecido, pois já o expus em minhas obras Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria e Perguntas Intrigantes que os Jovens Costumam Fazer, ambas editadas pela CPAD, em artigos para periódicos desta editora e também em meu weblog (cirozibordi.blogspot.com). Mas quero pontificar alguns argumentos, acrescentando outros pormenores.
Ao longo da História, a dança nunca esteve presente na liturgia das igrejas cristãs. No Brasil, também não víamos isso há alguns anos. Uma ou outra pessoa falava em "dança no Espírito", e outras cantavam, sem dançar, o famoso corinho "Se o Espírito de Deus se move em mim, eu danço como Davi".
Todavia, esse assunto sempre foi controvertido, e a liderança, de maneira geral, não aceitava a dança como parte integrante do culto a Deus.
De uns tempos para cá, alguém descobriu a América! Muita gente pensa ter encontrado uma "verdade cristalina" na Bíblia: a dança faz parte do culto coletivo ao Senhor. "Deus nos libertou da escravidão, e temos de adorá-lo também com a nossa arte", dizem alguns defensores desse modismo. E por aí vai. Não há mais limites! Onde vamos parar? Nos Estados Unidos, já ocorre até luta livre em alguns "cultos". E o Brasil não está longe disso.
Algumas igrejas são mais moderadas e têm apenas uma coreografia simples. Outras... meu Deus! A cada dia, perde-se o temor. Ainda não vi, para ser sincero, porém não duvido de que já haja "cultos" em que jovens dancem rebolando até ao chão, como ocorrem em bailes funk. A bem da verdade, nas chamadas "baladas" gospel isso já acontece...
Há poucos anos, os jovens passavam a noite em vigília, orando, estudando a Palavra. Assim era no meu tempo, e eu não sou velho (tenho apenas 37 anos). Hoje, a juventude vai para a "balada". Tudo isso graças ao incentivo de líderes inescrupulosos, sem compromisso com a Palavra de Deus, movidos por outros interesses, como dinheiro e fama. É como se dissessem: "É melhor o jovem pecar aqui do que no mundo". Ignoram que, para seguir a Cristo, é preciso negar-se a si mesmo (Lc 9.23) e não se conformar com este mundo (Rm 12.1,2).

HAJA MINISTÉRIO!

Além das muitas unções, para todos os gostos, há também diversos ministérios... De fato, a Palavra de Deus diz que há diversidade de ministérios (1 Co 12.5), mas não nos esqueçamos de que isso alude à maneira multiforme de o Espírito Santo atuar. Essa menção de modo algum apóia todo e qualquer ministério inventado por pessoas que querem fazer prevalecer as suas preferências pessoais.
Pessoas se entristecem e outras se indignam contra mim pelo fato de eu me posicionar contra a dança. Contudo, eu nada tenho contra pessoas e instituições, bem como respeito cada sistema de culto. Por graça de Deus, tenho ministrado a Palavra de Deus em algumas igrejas que me convidam. Por que eu seria indelicado a ponto de ir a tais igrejas para criticá-las quanto a isso e àquilo? Eu só faço isso quando recebo uma orientação do Espírito. Nesses casos, eu falo mesmo, pois, que pregador ou profeta seria eu se só falasse o que o povo gosta de ouvir?!
Os defensores da dança citam Miriã e Davi, mas as atitudes e ações destes, conquanto não tenham sido reprovadas por Deus, deram-se fora do culto coletivo a Deus. Foram atos patrióticos, isolados, pelos quais extravasaram a sua alegria. Daí o próprio Davi, ao organizar o culto, juntamente com Asafe, não ter feito nenhuma menção à dança, estabelecendo apenas cantores e músicos (1 Cr 25.1).
Reafirmo, pois, que não há base bíblica para se introduzir danças e coreografias no culto, tampouco chamá-las de ministério, como muitas igrejas estão fazendo. Reconheço que existem exceções, como as coreografias infantis, feitas de maneira esporádica ou em ocasiões especiais. Mas o problema é que, em muitos casos, as exceções têm se transformado em regra, gerando modismos injustificáveis.

A DANÇA TEM APOIO BÍBLICO?

Do jeito que a dança é propagada e defendida hoje, fica a impressão de que há várias passagens bíblicas que a apoiam.
Porém, não existe sequer um versículo nos mandando ou nos autorizando a dançar na casa de Deus! No Novo Testamento não há nenhum incentivo à sua introdução no culto. Os dois únicos textos que poderiam ser usados como incentivo à dança estão nos Salmos 149 e 150, no Antigo Testamento. Mas não são passagens que falam propriamente da dança no culto da igreja do Senhor.
Alguns exagetas discutem se o termo original traduzido em algumas versões em português para "dança", nos textos acima, significa flauta ou harpa. Entretanto, mesmo aceitando se que os Salmos 149 e 150 aludem à dança entre os hebreus — o que não seria nenhuma novidade (Jz 11.34; Ec 3.4; Lm 5.15) —, eles nada têm que ver, diretamente, com o culto do Novo Testamento. Lembre-se de que a mensagem da Bíblia se dirige a três povos: judeus, gentios e igreja (1 Co 10.32). E nem sempre um mandamento pode ser considerado "universal", isto é, para todos.
Se aplicarmos a nós o que dizem os tais Salmos, na íntegra, teremos de louvar a Deus com uma espada na mão e tomar vingança das nações, literalmente! "Estejam na sua garganta os altos louvores de Deus e espada de dois fios, nas suas mãos, para tomarem vingança das nações e darem repreensões aos povos, para prenderem os seus reis com cadeias e os seus nobres, com grilhões de ferro" (Sl 149.6-8).
Alguém dirá: "Ora, irmão Ciro, não exagere. Tudo isso pode ser aplicado de maneira figurada". É mesmo? Então por que a dança deve ser aplicada de modo literal? Por que empunhar uma espada e tomar vingança das nações é figurado, e dançar não?! Por que não consideramos, então, que devemos dançar espiritualmente, e não com o corpo? Interessante como é fácil priorizar preferências pessoais, para depois encontrar na Bíblia versículos isolados em apoio a invencionices!

MIRIÃ OU SALOMÉ?

Um dia desses, ouvi de uma irmã algo que me fez refletir. Ao demonstrar preocupação quanto ao que vem acontecendo em nossos cultos, ela verberou: "Irmão Ciro, o pessoal justifica-se quanto a danças e coreografias citando a dança de Miriã. Mas o que vemos nas igrejas hoje está muito mais para Salomé do que para Miriã" — concluiu, referindo-se à sensual dança da filha de Herodias, que teve como prêmio a cabeça de João Batista (Mt 14.6-10).
Muitos têm citado 1 Coríntios 6.20 como apoio à dança no culto. Dizem que devemos glorificar a Deus com o corpo. Sabe 0      que é isso, em Hermenêutica? Torcer a Palavra de Deus, fazendo-a dizer o que não diz. A simples leitura do contexto da passagem é suficiente para demonstrar que ela nada fala acerca da dança. Leiamos os versículos 18 a 20:

Fugi da prostituição. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.

O que é glorificar a Deus com o corpo? Significa não pecar contra o Senhor por meio do corpo! Somos o templo do Espírito, pertencemos a Ele, e nosso corpo nunca deve ser profanado por qualquer impureza ou mal, proveniente da imoralidade, nos pensamentos, desejos, atos, imagens, literaturas (2 Tm 2.22; 1 Jo 2.14-17; Sl 101.3). O texto em apreço, pois, não é uma "carta branca" para "louvar" com a dança e outras expressões corporais.

POR QUE DIZER "NÃO" À DANÇA?

Não há base bíblica para o que chamam hoje de "adoração através da dança" ou "adoração extravagante", etc. Sei que há igrejas mais moderadas e reverentes. Mas tenho de ser franco: qualquer tipo de dança é prejudicial ao culto. Por quê? Primeiro porque não tem apoio da Palavra de Deus. Segundo, porque ela sempre foi uma manifestação para agradar uma platéia, e não a Deus. Lembra-se da filha de Herodias? Ela dançou para o público e agradou Herodes. Deus é exaltado por meio de cânticos, e não de danças (Sl 57.7).
Sei que me acusarão de "quadrado"... Dirão que eu não conheço outras culturas, que nunca saí do Brasil. Bem, Deus já me permitiu fazer algumas viagens, e eu também gosto de estudar costumes e cultura dos povos. Gosto muito de missiologia e tenho plena convicção de que é impossível fazer missões sem uma transculturação. No entanto, até que ponto um servo de Deus deve submeter-se à cultura de um povo?
Ora, a Palavra de Deus deve nos guiar (Sl 119.105), e é preciso renúncia para seguir ao Senhor Jesus (Lc 9.23). Nesse caso, o fato de a dança ao som dos tambores fazer parte da cultura africana não obriga os crentes africanos a adotarem a dança em seu culto ao Senhor. Da mesma maneira, não é por que o brasileiro gosta de samba, que os nossos cultos necessitam desse elemento.
A dança no culto não é uma questão cultural. Nas Escrituras não há — repito — nenhuma passagem que apóie a dança no culto neotestamentário. "Ah, mas eu quero dançar, gosto de fazer isso e tenho certeza de que Deus a receberá", alguém poderá argumentar. Tudo bem. Dance! Assuma a responsabilidade diante de Deus. Mas não venha dizer que o culto precisa de danças e coreografias para agradar ao Senhor. As nossas reuniões sobreviveram sem esses elementos durante muito tempo.
Em várias igrejas, as danças e coreografias só vêm sendo incorporadas ao culto porque lhes falta o principal: salmo, doutrina, revelação, língua e interpretação (1 Co 14.26). Um culto não pode sobreviver sem a genuína manifestação do Espírito, a Palavra de Deus e os verdadeiros louvores. Sem dança e coreografia, ele subsiste — sempre subsistiu, ao longo da História — e fica até melhor, reverente, com mais tempo para a exposição bíblica. O problema é que hoje os cultos são feitos para agradar pessoas, e não a Deus. Os gostos pessoais prevalecem, infelizmente.
Se nos conscientizarmos de que o culto é para Deus, e não para pessoas; e se nos convencermos de que a maneira de Deus falar, no culto, não é pelas danças e coreografias, e sim pela Palavra, tudo ficará mais fácil. Leia Apocalipse 19.1-7. Nesta passagem temos um exemplo de como deve ser o culto a Deus, na presença dEle. Não há nenhuma menção à dança. O culto deve ser reverente e com palavras de louvor.
Como seria bom se compositores, cantores e pregadores entendessem que não devemos ir além do que está escrito na Palavra de Deus (1 Co 4.6)! Mas você, caro leitor, pode ajudar alguém a compreender isso, que, aliás, é o assunto do próximo capítulo. Afinal, como aqueles que estão enganados poderão entender as Escrituras, se alguém lhas não ensinar?



Capítulo 4

NÃO ULTRAPASSEIS O QUE ESTÁ ESCRITO


Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus. Mateus 22.29

Neste capítulo, quero denunciar uma postura que muitos crentes estão assumindo nos últimos dias, a de se apegar cegamente a líderes, pregadores, escritores, grupos, denominações, etc, esquecendo-se de que a nossa fonte de autoridade é a Palavra de Deus (Sl 119.105). Seguem ao que seus gurus dizem, mesmo que sejam heresias. E ainda ficam irritados quando alguém combate a tais falácias.
É inadmissível ver pessoas que se dizem cristãs desprezarem o que está escrito na Bíblia. Por isso, o apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, afirmou: "... não ultrapasseis o que está escrito (1 Co 4.6, ARA). Esta ênfase das Escrituras é uma evidência de que não temos permissão para seguir a doutrinas ou movimentos que não tenham o apoio da Palavra de Deus, que é — e sempre será — a nossa regra de fé, de prática e de viver.

ESTÁ OU NÃO ESTÁ ESCRITO?

Muitos crentes que não têm mais a Bíblia como a sua primacial fonte de autoridade, preferindo priorizar a sua lógica e as suas argumentações filosóficas, podem estar pensando, precipitadamente: "Se não devemos ultrapassar o que está escrito, podemos praticar livremente o que não está registrado nas Escrituras".
Há "mestres" da atualidade afirmando que, se a Bíblia não diz "não" explicitamente a certas doutrinas, práticas e modismos duvidosos, então temos liberdade para adotá-los sem nenhum peso na consciência, haja vista sermos livres. Segundo eles, a Bíblia não diz "não" para dança, bailes, heavy metal, funk...
Por que não dançar? Por que permitir — dizem — que o "espírito de religiosidade" tome conta de nosso pensamento?
Bem, de acordo com essa argumentação meramente filosófica, seguir ao cristianismo resume-se em abraçar o relativismo ou o liberalismo. Afinal, quem quiser poderá usar drogas ou fumar um cigarrinho à vontade, uma vez que a Palavra de Deus supostamente não condena de modo explícito tais coisas. E mais: quem desejar, poderá dirigir a mais de 150 km/h numa auto-estrada sem nenhuma preocupação (a despeito das leis de trânsito), posto que as Escrituras "não condenam" o excesso de velocidade...

A BÍBLIA É UM LIVRO DE PRINCÍPIOS

Não há nas Escrituras determinadas especificidades devido ao fato de os seus 66 livros terem sido escritos primeiramente ao povo dos tempos vetero e neotestamentários. Se fizermos uma análise histórico-cultural, entenderemos que naquela época ainda não haviam sido descobertos o cigarro, a maconha, os times de futebol, os bailes funk, etc. Mas há um outro aspecto, ainda mais importante, relacionado com essa questão.
A maioria dos crentes hoje só pensa em promessas. Isso se dá, em grande parte, devido à superficialidade das pregações e sua ênfase humanista, que leva o povo de Deus a só pensar em receber, receber e receber. A Bíblia não é apenas um Livro de promessas. Ela também contém mandamentos e princípios (Lc 1.5,6; Gn 26.4).
Se atentarmos não só para os mandamentos, mas para os princípios gerais da Palavra de Deus, assimilaremos naturalmente o que agrada ou não ao Senhor, mesmo que não haja uma menção expressa a isso ou àquilo. Quais são esses princípios? São muitos. E precisamos nos debruçar sobre a Palavra, a fim de, a cada dia, sabermos como nos conduzir diante de Deus e dos homens. Citarei apenas alguns.
Princípio da renúncia. O que Jesus disse em Lucas 9.23? "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me". Negar-se a si mesmo é abrir mão de, ou pôr em segundo plano (conforme o caso), tudo aquilo que pode depor contra a nossa comunhão com Jesus (Mt 10.37-39).
E aqui, com certeza, estão hábitos, vícios, costumes, amizades, etc, ainda que não condenados explicitamente pela Bíblia.
Para seguir ao Senhor, não temos que dar vazão às nossas vontades pecaminosas, e sim renunciá-las (Hb 12.4). Jesus não obriga ninguém a segui-lo, mas quem deseja fazer isso deve estar pronto para renunciar a muitos prazeres da vida (2 Tm 2.22).
Princípio da santificação. A Palavra de Deus diz que devemos seguir a paz com todos e a santificação, se quisermos ver o Senhor (Hb 12.14). E santificar-se implica se separar de várias coisas mundanas, inclusive as não mencionadas claramente no texto sagrado (2 Tm 2.20,21).
Princípio do inconformismo. O crente que se preza segue ao princípio contido em Romanos 12.1,2. Em que consiste esse preceito? Em não nos conformarmos com o mundo. Este — que não é o planeta Terra nem seus habitantes, e sim uma influência, um sistema filosófico comandado por Satanás (2 Co 4.4; 1 Jo 5.19) — é inimigo de Deus e de seu povo (Tg 4.4).
Amar as coisas do mundo, mesmo aquelas não mencionadas no Livro Santo, é pecado (1 Jo 2.15-17).

REGRA DE FÉ, DE PRÁTICA E DE VIVER

A Bíblia é um Livro muito mais importante do que se imagina. Ela nos orienta quanto a tudo, pois é a Palavra de Deus (Sl 119.105; 2 Tm 3.16,17). Muitos a têm apenas como regra de fé, mas ela também deve regular as nossas práticas e controlar toda a nossa vida. Se nos orientarmos por suas promessas, mandamentos e princípios, seremos vitoriosos em todas as áreas da vida.
Mas há crentes que não querem respeitar os mandamentos e preceitos das Escrituras. Preferem andar como bem entendem. E estão enganados quanto às inovações que têm adotado. Pensam que podem desfrutar de tudo o que há no mundo sem nenhum problema; alguns até usam como álibi a palavrinha mágica "gospel".
Se tudo o que a Bíblia aparentemente não condenasse de modo explícito ou textualmente fosse permitido, não haveria limites para pecar! E teriam sentido as falaciosas pregações da atualidade, como esta: "Quer dançar um funk? Dance! Desde que seja em um baile freqüentado só por cristãos, não há problema! Aproveite! Divirta-se pra valer na balada gospel. Rompa com toda religiosidade".
Mas...

QUEM DISSE QUE NÃO ESTÁ ESCRITO?

Considerando os princípios acima, chegamos à conclusão de que aquilo que parece não estar na Bíblia, na verdade pode estar, mas de outra maneira, indiretamente. Nas páginas sagradas há grupos de coisas que, mesmo não sendo chamadas de pecado, de modo explícito, levam o crente a errar o alvo.
São coisas inconvenientes, dominadoras, embaraçosas, parecidas com pecados, não edificantes, semelhantes a obras da carne mencionadas claramente, que não glorificam ao Senhor.
Coisas inconvenientes. A Palavra de Deus diz que todas as coisas são lícitas, mas nem todas convém (1 Co 6.12a). Temos livre-arbítrio e, se quisermos, podemos pecar à vontade. Por que não fazemos isso? Porque conhecemos os princípios que regem a vida cristã e rejeitamos as coisas inconvenientes.
Coisas que dominam (1 Co 6.12b). Há muitas coisas que não estão registradas na Bíblia, mas que podem nos dominar, levando-nos ao erro. Quer exemplos? Primeiro: futebol (já fui um torcedor fanático em minha adolescência e sei que se trata de algo que domina). Segundo: novelas e filmes. Terceiro: Internet e seu pacote (MSN, Orkut, blog, YouTube, etc). Todas essas coisas, conquanto lícitas, podem se tornar inconvenientes e dominadoras.
Coisas que embaraçam. Em Hebreus 12.1 vemos que devemos deixar o pecado e os embaraços. Há inúmeras coisas embaraçosas que não estão registradas claramente na Bíblia. Por isso, Paulo disse a Timóteo: "Ninguém que milita se embaraça com o negócio desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra" (2 Tm 2.4).
Coisas parecidas com pecados. A Palavra afirma que devemos nos abster de toda aparência do mal (1 Ts 5.22). Isso é subjetivo, porém fazer algo que deponha contra esse princípio denota ir além do que está escrito. Quem freqüenta lugares destinados à prática de atos pecaminosos, só pelo fato de estar lá, ainda que não esteja propriamente na roda dos escarnecedores, aparenta estar. Lembre-se de que Isaías confessou tanto o pecado de pronunciar palavras impuras como o de ouvi-las, passivamente (Is 6.5).
Coisas que não edificam (1 Co 10.23). São geralmente as coisas feitas no tempo certo e de modo errado, ou de maneira correta, mas fora de tempo (Ec 8.6). Se praticarmos essas coisas não edificantes, também ultrapassaremos o que está escrito.
Coisas pecaminosas semelhantes às registradas na Bíblia. Quando mencionou as obras da carne, Paulo finalizou dizendo "... e coisas semelhantes a estas" (Gl 5.21). Há pecados não mencionados na Palavra de Deus textualmente, mas condenados por ela! Basta perguntarmos o que é semelhante a prostituição, impureza, lascívia, etc.
Coisas que não glorificam a Deus (1 Co 10.31). Há coisas que não glorificam a Deus, a despeito de não estarem mencionadas de maneira direta na Bíblia. Um texto que nos ajuda a compreender esse princípio é Filipenses 4.8. Leia este versículo e aplique-o à sua vida antes de pensar em fazer uma tatuagem, ouvir rock e outros estilos musicais, dançar, seguir a mensagens de auto-ajuda e a modismos, ao invés do evangelho de Cristo...

ENSINAMENTOS QUE ULTRAPASSAM O QUE ESTÁ ESCRITO

Há muitos ensinamentos que ultrapassam o que está escrito, gerando excessos e exageros. Por exemplo, o jejum é bíblico (Mt 17.21; At 14.23), mas tem sido mal compreendido, em nossos dias. Já ouvi falar de pastores que estimulam os crentes a fazerem jejum de certo refrigerante, chocolate, etc, com o objetivo de receberem bênçãos. Tomam como base o exemplo de Daniel (10.3), não observando que o profeta teve uma atitude de renúncia à contaminação idolátrica da Babilônia (Dn 1.8).
Outros dizem que a participação da Ceia do Senhor não quebra um jejum, chamando o pão e o vinho de alimentação espiritual. Isso é um exagero, uma espiritualização que não leva a nada. No momento em que ingerimos o pedaço de pão — que, embora símbolo do corpo de Jesus, é alimento —, quebramos sim o jejum. O que podemos manter, nesse caso, é a consagração a Deus.
Falando de consagração e jejum, há um livro em que certo autor relata os seus quarenta dias de jejum! Ele apresenta fotos de cada dia, para provar o quanto sofreu — quase morreu! — para realizar tal proeza. Mas, qual é o propósito disso? Jesus jejuou quarenta dias e não disse nada a ninguém. Por quê? Porque a nossa consagração pessoal a Deus deve ser realizada em segredo, e não para receber glória dos homens (Mt 6.16-18; Lc 18.12).
Os jejuns de Moisés e Elias não devem servir de exemplo quanto à forma correta de jejuar, pois eles foram sustentados por Deus, de modo sobrenatural (Êx 34.28; 1 Rs 19.8). Fisiologicamente, um jejum que ultrapassa três dias é prejudicial à saúde. Deus não exige tal sacrifício, e sim uma atitude de obediência, acompanhada de obras de justiça (Ec 5.1; Is 58.3-6). Realizar sacrifícios exagerados também é ultrapassar o que está escrito.

EXPERIÊNCIAS QUE ULTRAPASSAM O QUE ESTÁ ESCRITO

Além de ensinamentos, há experiências que ultrapassam o que está escrito na Palavra de Deus, depondo contra ela. Tenho ouvido histórias impressionantes e analiso todas elas segundo a Bíblia. Ouço irmãos dizendo que "receberam" mensagens proféticas de aves ou de animais; que foram arrebatados ao Céu e ao Inferno e viram caixinhas com as pontas dos cabelos das irmãs; que conversaram com Paulo, Maria e outros heróis da fé...
No livro Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria trato dessa questão de maneira pormenorizada, salientando que toda e qualquer experiência deve ser submetida à Palavra de Deus.
Não devemos ir além do que está escrito. Embora a Bíblia mencione arrebatamentos em espírito (2 Co 12.1-4; Ap 1), tudo o que ocorre hoje deve ser provado (1 Jo 4.1; 1 Ts 5.21). Mesmo as experiências que envolvam anjos devem ser testadas pela Palavra (Gl 1.8).
Há super-pregadores que se valem de João 14.12 para justificar todas as suas experiências exóticas. Fazer isso também é ultrapassar o que está escrito, posto que a citação isolada dessa passagem é feita com a intenção de combater à tese baseada na analogia geral da própria Bíblia de que ela é a nossa regra de fé, de prática e de viver.
O fato de Jesus ter dito que faríamos obras maiores refere-se à quantidade de obras, e não à qualidade delas. Não se trata de um aval para fenômenos como óleo na mão, dentes de ouro, ouro nos dentes, emagrecimento e crescimento de cabelo. Veja a explicação sobre a frase "... aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço e as fará maiores do que estas..." (Jo 14.12) no capítulo 8 desta obra.
Aliás, falando nisso, volto a me reportar à "bênção de Toronto" e ao pastor Paul Gowdy, que, depois de abandonar a Igreja Aeroporto de Toronto, escreveu uma carta (mencionada no capítulo 2 desta obra) denunciando ensinamentos e fenômenos antibíblicos.
Quanto aos dentes de ouro, Gowdy declarou:

Pessoas de nossa congregação abriam a boca umas para as outras procurando os dentes de ouro que Deus colocara ali, para provar o quanto nos amava. Durante os anos que ali fiquei só ouvi uma vez uma mensagem de arrependimento pregada por um conferencista de Hong Kong, Jack Pullinger. A mensagem passou alto, bem acima de nossas cabeças, como um balão de gás; não estávamos ali para nos arrepender, e sim para fazer "festa ao Senhor"!

Isso é uma grande verdade. Os super-pregadores que "distribuem" dentes de ouro para o povo nunca pregam sobre o arrependimento; eles não priorizam o evangelho cristocêntrico.
Vivem dizendo: "Eu fui chamado para pregar milagres". Isso é ultrapassar o que está escrito, pois não fomos chamados para pregar milagres, que são, na verdade, o efeito da pregação do evangelho de Cristo (Mc 16.15-18).
Tenho ouvido testemunhos de irmãos que participam dessas "cruzadas de milagres". Um depoimento me chamou atenção. O irmão disse que achou estranha a liturgia do culto, pois um conhecido milagreiro pronunciou vários impropérios contra um pastor, presente no local, o qual demonstrara não concordar com as estranhas manifestações. O irmão, um novo convertido, também disse que passou mais tempo olhando para a boca da sua esposa procurando dentes do que cultuando a Deus...
Bem, no capítulo 7 voltaremos a esse assunto, pois quero, inclusive, analisar um certo "avivamento extravagante"...

AOS FÃS DO PAPAI H., COM CARINHO

Sempre recebo e-mails e mensagens anônimas dos amantes, fãs, fanáticos e ardorosos defensores de um famoso escritor, cujas iniciais do nome são K.H. Alguns comentários são desafiadores, e outros, um tanto ameaçadores. Os remetentes me acusam de falar mal do papai H., que, aliás, já partiu para eternidade.
Em primeiro lugar, peço perdão aos seguidores de K.H. por eu amar a Jesus Cristo e sua Palavra, considerando-a a fonte máxima de autoridade. Sinceramente, lamento que esses irmãos valorizem tanto o que um homem mortal falou, em detrimento do que dizem as Escrituras. Não são estas a Palavra de Deus? Ou têm os escritos do papai H. mais valor que a Bíblia Sagrada?
Os seguidores de K.H. não suportam ouvir críticas contra os seus escritos. Mas a Bíblia, que está acima de qualquer ser da Terra ou do mundo espiritual (Gl 1.6-12), diz que não podemos ultrapassar o que está escrito (1 Co 4.6, ARA). Nesse caso, proponho aos que seguem aos ensinos de tal "mestre" que façam agora uma comparação entre o que ele afirmou e o que as infalíveis Escrituras dizem.
Muitas razões me levam a não concordar com as afirmações do senhor K.H. Porém, analisarei apenas nove motivos pelos quais pontifico que a Palavra de Deus não apóia as idéias triunfalistas do autor cujas iniciais do nome aqui são citadas.
Primeiro motivo. K.H. afirmou: "Na realidade, eis o que é a vida eterna: Deus comunicando toda a sua natureza, substância e ser aos nossos espíritos... Louvado seja Deus! Tenho a vida e a natureza de Deus. Tenho dez vezes mais sabedoria e entendimento do que o restante da classe" (Zoe: A Própria Vida de Deus, Graça Editorial, pp. 10,29).
Jesus definiu assim a vida eterna: "E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17.3). Esse conhecimento de Deus não implica receber toda a sua natureza. Caso contrário, seríamos oniscientes, onipresentes, onipotentes e imutáveis! Segundo a Bíblia, participamos, sim, da natureza divina quanto a seus atributos comunicáveis: amor, bondade, fidelidade, etc. (2 Pe 1.4-9). Mas isso não eqüivale a ter "toda a sua natureza".
Segundo motivo. O papai H. também disse: "Deus nos fez tão semelhantes a si mesmo quanto lhe foi possível. Fez-nos para pertencer à sua própria categoria... O Senhor fez o homem como o seu substituto aqui na terra. Ele constituiu-o como rei para governar tudo o que tinha vida. Vivia em termos de igualdade com o Criador" (Zoe: A Própria Vida de Deus, Graça Editorial, pp.50,51).
Nunca vivemos em termos de igualdade com o Criador!
Fomos feitos à imagem de Deus, conforme a sua semelhança (Gn 1.26), porém isso não implica possuir os atributos exclusivos da deidade. H., pois, corrobora a sua tese de que o crente tem "toda a natureza divina", numa tentativa de convencer os seus leitores a se comportarem como deuses na Terra. Pode, porventura, o vaso assemelhar-se ao Oleiro? Haja presunção!

JESUS PROVOU A MORTE ESPIRITUAL?

Terceiro motivo. Eis outra afirmação do senhor K.H.: "O Senhor é um Deus de fé. Tudo o que tinha a fazer, fê-lo pela Sua Palavra" (Zoe: A Própria Vida de Deus, Graça Editorial, p.51).
Que Deus comunica-nos a fé não há dúvidas (Rm 10.17; At 16.14). Mas Ele não precisa de fé. Fé em quem? Fé para quê, se é o Todo-Poderoso?
Deus criou todas as coisas pelo poder da sua Palavra (Hb 11.3), mas o senhor H. tenta convencer os seus leitores de que a Palavra do Senhor, na verdade, foi uma confissão positiva, uma palavra rhema. Daí os seus seguidores costumarem citar, equivocadamente, esse versículo de modo errado: "Pela fé, os mundos foram criados pela palavra de Deus", ao invés de: "Pela fé, entendemos que os mundos, pela palavra de Deus, foram criados". A fé, nesse caso, é nossa, para entender, e não do Todo-Poderoso!
Quarto motivo. O papai H. declarou: "Jesus se tornou como nós éramos: separado de Deus. Porque provou a morte espiritual por todos os homens. Seu espírito, seu homem interior, foi para o inferno em nosso lugar... A morte física não removeria os nossos pecados. Provou a morte por todo homem — a morte espiritual" (O Nome de Jesus, Graça Editorial, p.25).
De onde alguém pode ter tirado tamanha inverdade! Teria Jesus se separado de Deus em razão de possuir uma vida pecaminosa? Ora, morte espiritual implica afastar-se do Senhor em decorrência do pecado (Is 59.2; Rm 3.23), e Jesus nunca pecou. Ele foi feito pecado por nós (2 Co 5.21), e não pecador, e levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro (1 Pe 2.24), recebendo em sua carne a punição que a nós convinha (Is 53.4,5). Isso jamais pode ser equiparado à morte espiritual, haja vista o Senhor nunca ter pecado (Hb 4.15).
Jesus não se tornou como nós éramos, pois isso implicaria reconhecer que Ele se fez pecador, e não pecado. Quando estudamos, sem preconceito, com calma e em oração, os textos de 2 Coríntios 5 e Filipenses 2.6-8, desaparecem as dúvidas quanto ao fato de o Senhor ter-se feito pecado, levando sobre si todos os nossos pecados, e não pecador, morrendo espiritualmente. Mas essa afirmação falaciosa de K.H. não foi por acaso; ele tinha em mente outras heresias ainda maiores.

ONDE JESUS TRIUNFOU?

Quinto motivo. "Lá embaixo na masmorra do sofrimento — lá nos fundos do próprio inferno — Jesus satisfez as reivindicações da Justiça para todos nós, individualmente, porque ele morreu como nosso substituto" (O Nome de Jesus, Graça Editorial, p.28) — declarou o papai H. Infelizmente, há muitos super-pregadores e cantores-ídolos, discípulos do papai H., afirmando que Jesus abriu as nossas cadeias e nos resgatou no Inferno! Entretanto, como eu já disse em outros livros — principalmente, Erros que os Pregadores Devem Evitar —, Jesus não foi ao Inferno (nesse caso, o Hades) para sofrer em nosso lugar. Seu triunfo ocorreu na cruz, no Gólgota, onde deu o brado da vitória (Jo 19.30). Ele foi ao Hades como vencedor (1 Pe 3.19, gr.), e não para sofrer em nosso lugar e ser torturado por demônios (Cl 2.14,15; Hb 2.14).
Sexto motivo. K.H. também disse: "Nem o próprio Senhor Jesus tem uma posição melhor diante de Deus do que você e eu temos. Talvez alguém suponha que eu esteja usurpando algo de Cristo. Não! Ele continua a desfrutar da mesma glória junto ao Pai. Estou apenas falando dos direitos que nós temos" (Zoe: A Própria Vida de Deus, Graça Editorial, p.79).
Que direitos temos nós? Se não fosse a graça de Deus, nada teríamos (Rm 6.23; Ef 2.8-10). E que negócio é esse de que nem Jesus tem uma posição melhor do que a nossa?! Que Deus nos guarde desse humanismo exacerbado; dessa ausência de humildade; e dessa falta de reconhecimento de que o Senhor não dá a sua glória a outrem (Sl 138.6; Is 42.8). Humilhemo-nos debaixo da potente mão do Altíssimo (1 Pe 5.6; Tg 4.6).

QUE BLASFÊMIA!

Sétimo motivo. "O pecado separa de Deus. A morte espiritual significa a separação de Deus. No momento em que Adão pecou, ficou separado de Deus... A morte espiritual significa mais do que a separação de Deus. A morte espiritual significa ter a natureza de Satanás" — afirmou H, em sua famosa obra O Nome de Jesus (Graça Editorial, p.26).
De fato, o pecado separa o homem de Deus (Is 59.1,2), deixando-o à mercê do Inimigo (Hb 2.14). No entanto, K.H., ao fazer a comparação acima, fê-la para, em seguida, afirmar, de modo blasfemo, que o Senhor Jesus, ao morrer duas vezes — física e espiritualmente —, assumiu na cruz a natureza de Satanás!
Oitavo motivo. K.H. asseverou: "Jesus é a primeira pessoa que já nasceu de novo. Por que o seu espírito precisava nascer de novo? Porque ficou alienado de Deus. Lembra-se como ele exclamou na cruz: 'Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?'" (O Nome de Jesus, Graça Editorial, p.25).
Como Jesus teria sido o primeiro a nascer de novo, se Ele mesmo pregava o novo nascimento? Ele falou dessa obra, operada pelo Espírito Santo (Tt 3.5), a Nicodemos: "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo" (Jo 3.6,7).
Jesus é o próprio Salvador, Justo e Santo, que morreu por injustos e pecadores. Mesmo antes de seu sacrifício vicário, já oferecia a salvação, o novo nascimento, aos pecadores (Jo 10.9; Mt 11.28-30). Ele podia perdoar pecados (Lc 5.23-26), bem como curar enfermos e expulsar demônios, em cumprimento do que está escrito em Isaías 53 (Mt 8.14-17), promessa que só se cumpriu cabalmente na cruz (1 Pe 2.24; Cl 2.14).
Nono motivo. O papai H. declarou: "Quando a pessoa nasce de novo, toma sobre si a natureza de Deus — que é vida e paz. A natureza do diabo é ódio e mentiras... Jesus provou a morte — a morte espiritual — por todos os homens... Jesus se fez pecado. Seu espírito foi separado de Deus, e ele desceu para o inferno em nosso lugar" (O Nome de Jesus, Graça Editorial, p.27).
Observem como H., de maneira blasfema, afirma, com todas as letras, que Jesus, posto que teria morrido espiritualmente, assumiu a natureza do Diabo. Somente por essa única declaração todo crente que se preza deveria rejeitar qualquer escrito desse "mestre da fé", fazendo-o constar de sua lista pessoal — eu tenho a minha! — de falsos profetas e enganadores do povo de Deus. Afirmar que o Cordeiro imaculado e incontaminado (1 Pe 1.18,19) assumiu a natureza do Maligno chega a ser ultrajante.
Diante do exposto, como pode haver pregadores em nosso tempo propagando as falácias do falecido Kenneth Hagin? Ih, me desculpe! Não era para eu citar o nome do escritor...

AOS FÃS DE B.H., COM AMOR

Atualmente, não há no mundo um evangelista (evangelista?) tão famoso quanto o palestino naturalizado norte-americano cujas iniciais do nome são B.H. As suas "pregações", no entanto, não costumam ter conteúdo evangelístico. Ele dificilmente menciona o nome de Jesus, e o ponto alto de suas ministrações são algumas manifestações estranhas, que ocorrem devido à "nova unção" que está sobre a sua vida.
Ouço com freqüência irmãos dizendo: "Eu já li os livros do pastor B.H. Mudaram a minha vida!" E eu fico pensando: "Devem ter mudado a vida deles para pior". Por que penso assim?
Porque conheço as heresias que esse pregador-ídolo vem propagando em todo o mundo por meio de ministrações ao vivo, DVDs e livros, todos eles best-sellers.
B.H., infelizmente, a despeito de sua fama, tem virado as costas para a Bíblia. Sinceramente, não sei se um dia ele amou esse Livro, pois ele até com mortos conversa. Haja vista reconhecer que as falecidas Kathryn Kuhlman e Aimee Semple McPherson ainda contribuem para o seu ministério, e que delas recebe unção! Muitos dos seus desvios da Palavra de Deus estão documentados na primorosa obra Cristianismo em Crise, de Hank Hanegraaff, editada pela CPAD.
Esse super-pregador diz que anda "no mundo sobrenatural" e vê "coisas que nunca seremos capazes de entender". Além disso, conversa normalmente com santos falecidos. Ele admitiu, há alguns anos, em seu programa televisivo This is your day, que Kuhlman apareceu a ele juntamente com o próprio Jesus e lhe revelou acontecimentos futuros! Aliás, no Brasil também há "pastores" embarcando nessa canoa furada...
B.H. chegou a admitir que, num certo dia, um homem idoso de quase dois metros de altura apareceu diante dele. Ao perguntar ao Senhor acerca desse misterioso homem, que tinha uma barba brilhante, olhos azuis e roupa branca, ouviu supostamente dEle a surpreendente resposta: "Este é o profeta Elias".

K.H. E B.H. ANDARAM DE MÃOS DADAS

Infelizmente, muitos crentes, por não conhecerem toda a verdade acerca de B.H., consideram-no um verdadeiro deus.
Por isso, menciono abaixo nove motivos para convencer aqueles que cegamente têm seguido aos ensinamentos desse superpregador a abandonarem os seus enganos.
Primeiro motivo. B.H. declarou que Jesus "... assumiu a natureza de Satanás, para que todos quantos tinham a natureza de Satanás pudessem participar da natureza de Deus" — declaração citada no já mencionado excelente trabalho crítico de Hank Hanegraaff (Cristianismo em Crise, CPAD, p.166). Como se vê, as suas concepções sobre a obra de Cristo assemelham-se às do papai H.
Segundo motivo. Ele ensina que o homem é um pequeno deus. E afirmou: "Eu sou 'um pequeno messias' caminhando sobre a Terra" (idem, p.119). Mais uma vez fica evidente a semelhança entre os discursos de B.H. e K.H. Seria coincidência?
Ou ambos beberam das mesmas fontes escuras e turvas mencionadas em 1 Timóteo 4.1?
Terceiro motivo. B.H., em seu livro Good Morning, Holy Spirit (p.56), afirma que, em uma de suas supostas conversas com o Espírito Santo, o Consolador teria implorado para que ele ficasse em sua presença: "... por favor, mais cinco minutos; apenas mais cinco minutos". Davi, um homem segundo o coração de Deus, orou assim: "Não me lances da tua presença e não retires de mim o teu Espírito Santo" (Sl 51.11). Quem somos nós, para pensarmos que o Deus Espírito implorará para ficarmos em sua presença?
Quarto motivo. Defendendo a teologia da prosperidade, pela qual afirma que a pobreza é uma maldição, ele disse que Jó era carnal e mau (Cristianismo em Crise, p.103), ignorando o enfático testemunho de Deus acerca de seu servo: "Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem sincero e reto, temente a Deus, e desviando-se do mal" (Jó 1.8). Quem está com razão?
Quinto motivo. Propagador também da falaciosa confissão positiva, B.H. declarou: "Nunca, jamais, em tempo algum, vão ao Senhor e digam: 'Se for da tua vontade...' Não permitam que essas palavras destruidoras da fé saiam da boca de vocês". (idem, p.295). Ora, e o que Jesus ensinou em Mateus 6.9,10: "Portanto, vós orareis assim: Pai nosso... Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu".

B.H. AMEAÇA OS INOCENTES

Sexto motivo. Ao ser criticado, B.H. disse que gostaria de ter "uma arma do Espírito" para explodir a cabeça de seus críticos.
Além disso, proferiu palavras funestas contra aqueles que refutam as suas heresias. As ameaças abaixo, extraídas do livro supracitado (p.376), foram dirigidas ao Instituto Cristão de Pesquisas dos EUA:

Agora eu estou apontando meu dedo para vocês com o tremendo poder de Deus sobre mim... Ouçam isto! Existem homens e mulheres no sul da Califórnia me atacando. E sob a unção que lhes falo agora.
Vocês colherão o que estão semeando em suas próprias crianças se não pararem... E seus filhos e filhas sofrerão (...)
Vocês estão me atacando no rádio todas as noites — vocês pagarão e suas crianças também. Ouçam isto dos lábios dum servo de Deus. Vocês estão em perigo. Arrependam-se! Ou o Deus Altíssimo moverá a sua mão. Não toqueis nos meus ungidos...

AS TRIVIALIDADES DE B.H.

Sétimo motivo. O super-pregador B.H. ensina que a Trindade é composta de nove pessoas, pois o Pai, o Filho e o Espírito Santo possuem, cada um, espírito, alma e corpo (citado em Cristianismo em Crise, p.375). Bem, os teólogos costumam divergir quanto às teses do dicotomismo e do tricotomismo em relação ao ser humano, mas B.H. foi muito além, criando o que podemos chamar de "triplotricotomismo divino". Haja imaginação!
Oitavo motivo. Ele afirmou que o Espírito Santo lhe revelou que as mulheres foram originalmente criadas para dar à luz pelo lado. Todavia, por causa do pecado, passaram a dar à luz pela parte mais baixa de seu corpo (idem, p.373). Sem comentários...
Nono motivo. B.H. também asseverou que o homem, em princípio, voava da mesma forma que os pássaros. Segundo ele, Adão podia voar até à lua pela sua própria vontade: "Adão era um superser (...) costumava voar. Naturalmente, como poderia ter domínio sobre as aves, sem ser capaz de fazer o que elas fazem?" (idem, p.128). Como se vê, Benny Hinn é o rei das efemeridades! Ih, citei o nome do escritor de novo...

QUAL É O SEGREDO DOS TRIUNFALISTAS?

Assisti, há algum tempo, ao vídeo de auto-ajuda que deu origem ao livro O Segredo, de Ronda Byrne e sua equipe de colaboradores. Também fiz uma análise do mencionado best-seller, pelo qual Byrne afirma que os seres humanos estão evoluindo para se tornarem pequenos deuses andando na terra. Além disso, enfatiza a cobiça material e a responsabilidade das pessoas por todos os sucessos e tragédias da vida.
Qual é O Segredo? Para Byrne e sua equipe, cada um de nós exerce um poder de atração sobre tudo o que acontece em nossas vidas. Nada acontece por acaso, mas como produto de causa e efeito. Isso significa que podemos ser responsabilizados pela felicidade em nossas vidas. É interessante como a linguagem e os passos para se obter bens e curas, apresentados em O Segredo assemelham-se às pregações de B.H., K.H. e seus discípulos triunfalistas brasileiros: "Pense. Acredite. Receba".
Você já observou como os telebispos e telepastores proponentes das falaciosas confissão positiva e teologia da prosperidade dizem que todo mundo pode ser, fazer ou ter tudo o que quiser? Afirmam eles: "Você pode ter saúde, dinheiro e felicidade... Quanto você quer ganhar por mês? Você atrai para si todas as coisas. Em que casa você quer morar? Com que tipo de pessoa quer casar? Sonhe. Acredite nos seus sonhos. E receba a sua bênção. Tudo depende de você".

MAIOR EVANGELISTA DO SÉCULO?

"Pense, acredite e receba" — diz O Segredo. Não são praticamente esses os passos ensinados por um famoso telemissionário que lidera uma igreja que tem "graça" no nome, mas despreza a graça de Deus ao pregar a fé na fé, triunfalista, e não o evangelho de Cristo? Também não é isso que prega o super-bispo da igreja que, conquanto tenha "Reino de Deus" na denominação, não busca o Reino de Deus e sua justiça, construindo, antes, um império na Terra com o dinheiro dos ingênuos fiéis?
O rico e o milionário, quer dizer, o bispo e o missionário, que começaram juntos, se separaram e comandam os seus próprios impérios. E agora — ainda que não admitam — disputam para saber quem é o maior evangelista do século! Um já começou a assumir isso publicamente. O outro é mais modesto ou menos imodesto. Mas eu tenho para mim que nenhum dos dois deveria requerer tal título...
Primeiro, porque um homem de Deus de verdade não busca títulos. Ele sabe que não é o título que faz a pessoa; é esta, com as suas obras, que faz aquele. E, como dizem as Escrituras, "Louve-te o estranho, e não a tua boca, o estrangeiro, e não os teus lábios" (Pv 27.2).
Mas, quer saber qual é a principal razão por que nenhum dos dois pode se considerar sequer um evangelista? Nenhum deles tem pregado a Cristo! Reúnem multidões, porém são incapazes de anunciar o verdadeiro evangelho. Por que não fazem como o grande evangelista Pedro, cuja mensagem, no dia de Pentecostes, começou com "A Jesus Nazareno" e terminou com "Deus o fez Senhor e Cristo" (At 2.22-36)? Por que não pregam como Estevão, que, em vez de falar em sua defesa, preferiu falar do Justo (At 7.52)?
Os pretensos evangelistas deste século buscam a própria glória. Um deles assume publicamente ser favorável ao assassinato de inocentes. Ao ser perguntado sobre o porquê de a rede de televisão do tal bispo ser pró-aborto, um de seus homens fortes declarou: "Foi uma orientação direta do senhor..." — Ops! Quase citei o nome de novo. — "... que nos pediu que conscientizássemos a sociedade da importância de a mulher poder decidir sobre o seu próprio destino" (revista Veja, edição 2.029, de 10 de outubro de 2007, pp.88,89).
Esse mesmo senhor, dono dessa grande emissora, enquanto eu escrevo esta obra, está construindo uma mansão, um verdadeiro paraíso na Terra, na cidade de Campos do Jordão, em São Paulo. É uma casa com dois mil metros quadrados, avaliada em seis milhões de reais! Conforme noticiaram revistas de circulação nacional, como a Veja, o imóvel possui 35 cômodos, distribuídos em quatro andares, dezoito suítes, todas equipadas com banheiras de hidromassagem...
Por meio de uma escada, do seu quarto o famoso bispo terá acesso a um mirante do qual se descortina uma vista aprazível da cidade. A casa conta com adega (!), sala de cinema (!), quadra de squash e elevador. Eis a "humilde" casa do que foi considerado recentemente, num grande ajuntamento de pessoas, o maior o evangelista do século! Não seria melhor chamar esse bispo de um dos maiores enganadores de todos os tempos?!
Bem, para eu não perder a inspiração, vou mudar de assunto... No próximo capítulo quero falar um pouco sobre a necessidade da "hermelética" na vida do pregador. Você sabe o que é isso?



Capítulo 5

O PREGADOR E A HERMELÉTICA


E leram o livro, na Lei de Deus, e declarando e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse. Neemias 8.8

Não se assuste com a palavra "hermelética". Criei-a, em 2005, para enfatizar a necessidade de os pregadores se lançarem aos estudos da Hermenêutica e da Homilética, considerando ambas as matérias imprescindíveis. É comum dizermos que é obrigatório ao pregador conhecer a arte e a ciência de preparar e pregar sermões. No entanto, igualmente compulsório deve ser o domínio das técnicas de interpretação da Bíblia. Daí o neologismo "Hermelética".
Certo pregador me indagou: "O irmão gosta muito de Hermenêutica, não é mesmo?" Respondi-lhe que sim e aproveitei para lhe fazer outra pergunta: "E o irmão, também gosta dessa matéria?" Ao que ele me disse, para minha surpresa: "Não, não me interesso nem um pouco pela interpretação da Bíblia; o meu negócio é pregar". Fiquei preocupado com essa afirmação, pois, se um mensageiro de Deus não se interessa pela exegese bíblica, como poderá expor a verdade aos seus ouvintes?

POR QUE A HERMENÊUTICA É NECESSÁRIA?

John F. MacArthur Jr. afirmou: "Um recente best-seller evangélico alerta os leitores a se colocarem de prontidão contra pregadores cuja ênfase está no interpretar as Escrituras e não no aplicá-las. Espere um pouco. Isto é um conselho sábio? Não, de modo algum. Não existe o perigo da doutrina ser irrelevante; a verdadeira ameaça é a abordagem não-doutrinária em busca de relevância sem doutrina. O cerne de tudo que é verdadeiramente prático encontra-se no ensino das Escrituras" (Com Vergonha do Evangelho, Editora Fiel, p.91).
Escrevi este capítulo com o objetivo de enfatizar que existem quatro coisas imprescindíveis a todo pregador, nesta ordem: fidelidade a Deus, que nos dá a mensagem (Jo 7.16; 1 Co 11.23); interpretação correta das Escrituras (2 Tm 2.15), levando-se em conta os princípios da Hermenêutica; exposição bíblica de acordo com a Homilética (Is 50.4); e comportamento ético diante dos ouvintes (At 2.22a; 7.2a).
O que é Hermenêutica? Robert H. Stein, em sua obra Guia Básico para Interpretação da Bíblia, editado pela CPAD (p.19), definiu:

Normalmente, o termo "hermenêutica" assusta as pessoas. Mas isso não deveria acontecer. A palavra se origina do termo grego "hermeneuein", o qual significa "explicar" ou "interpretar". Na Bíblia, é usado em João 1.42 e 9.7, Hebreus 7.2 e Lucas 24.27. Na versão Revista e Corrigida, o último texto traz o seguinte: "E, começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras... "A palavra traduzida em uma versão por "explicar" e em outra por "expor" é "[di]hermeneuein".

Como eu já disse no livro Erros que os Pregadores Devem Evitar, editado pela CPAD, essa matéria é a arte e a ciência de interpretar textos. O termo está associado à mitologia greco-romana. Hermes (Mercúrio), filho de Zeus (Júpiter), era o deus do comércio, das lutas, dos exercícios olímpicos e de tudo que demandasse habilidade e destreza. Era também o intérprete da mensagem de Zeus. Daí Hermenêutica.
Como matéria teológica, a Hermenêutica serve à Exegese.
Juntas, formam a chamada Teologia Exegética, que enfatiza o emprego das regras hermenêuticas, aliadas à aplicação de matérias como Filologia Sagrada, Introdução Bíblica, Teologia Histórica, Teologia Bíblica e Teologia Sistemática, na interpretação das Escrituras.

PARA QUE SERVE A HOMILÉTICA?

Todo pregador deve saber que há dois lados na exposição da Palavra de Deus: o divino e o humano (1 Co 11.23; 2 Tm 2.15). Uma parte não substitui a outra — ambas são necessárias —, mas a divina é a mais importante (1 Co 2.1-5). Em Isaías 50.4, vemos esses dois aspectos. O profeta disse que Deus lhe deu uma língua erudita, enfatizando o lado divino. E também afirmou: "... para que eu saiba dizer, a seu tempo, uma boa palavra ao que está cansado".
A Homilética é uma ciência que ajuda os pregadores a conhecerem as regras essenciais à exposição da Palavra do Senhor, principalmente no lado humano. É uma matéria definida como a arte e a ciência de preparar e pregar sermões religiosos. Trata-se do estudo das maneiras de se confeccionar esboços de mensagens cristãs e apresentá-las de modo adequado aos ouvintes.
Por meio dessa matéria, o pregador orienta-se quanto à postura ética diante do público e aprende a lidar com os mais diversos tipos de ouvinte: indiferentes, egoístas, ignorantes, eruditos, curiosos, sinceros, etc. No entanto, ainda que a platéia deva ser respeitada pelo pregador, isso não é um impedimento para a transmissão da verdade, pois a prioridade do pregador deve ser agradar aquEle que lhe deu a mensagem (At 7.54-56; Ez 2.3-8).
O estudo da Homilética ajuda o pregador a falar de forma elegante, precisa e fluente, de modo a convencer ou comover o ouvinte. Porém, isso não deve invalidar o aspecto espiritual; é a Palavra de Deus que atinge o coração dos ouvintes (Hb 4.12).
Da mesma forma, o fato de essa matéria levar em conta aspectos como evolução da língua, ambiente cultural e recursos tecnológicos não altera o conteúdo da mensagem (1 Pe 1.24,25).

HERMENÊUTICA + HOMILÉTICA = CASAMENTO PERFEITO

Dominar as técnicas de oratória e conhecer bem a Homilética não é o suficiente para ser um pregador bem-sucedido. Todas essas ferramentas só têm eficácia quando postas em prática por um pregador expositivo piedoso e fiel à fonte primacial de autoridade, a Palavra do Senhor. Além disso, é necessário atentar com diligência para os preceitos de interpretação constantes da Hermenêutica Bíblica.
O pregador expositivo precisa conhecer e saber aplicar com perícia os tais princípios de interpretação das Escrituras. Ele não deve escolher entre Homilética e Hermenêutica, como se essas ciências fossem antagônicas ou opcionais. Não! Sem interpretação correta das Escrituras não há pregação expositiva!
Ralph Pviggs, em seu Guia do Pastor (Editora Vida, p.49), disse o seguinte sobre a "Hermelética":

A Hermenêutica é a ciência da interpretação. Existem certas leis básicas e fundamentais que governam a interpretação, e que se tornam evidentes por si mesmas. O conhecimento dessas regras e o uso cuidadoso delas evitam ao estudante da Bíblia cair em interpretações tolas e extravagantes da Palavra de Deus. Vale a pena, ao futuro ministro, empregar tempo nesse estudo das leis da Hermenêutica Sagrada, até dominá-las convenientemente (...)
Intimamente ligado ao estudo da teologia pastoral é o estudo da Homilética. O pastor deve pregar, e a Homilética lhe ensina como fazê-lo. Há vários tipos de sermões, assim como a maneira correta e a errada de pregar. Essa é uma ciência indispensável ao pregador.

UFA! QUASE ME TORNEI UM ANIMADOR DE PLATÉIA!

Quando comecei a pregar, ainda em minha adolescência, preocupava-me em excesso com as reações do público. Queria que houvesse manifestação positiva dos ouvintes durante a preleção, e elogios depois dela. Eu estava certo de que a minha missão era pregar a Palavra de Deus, mas, ao mesmo tempo, agia como se essa tarefa consistisse em deixar o povo satisfeito. Por isso, debruçava-me sobre vários livros de Homilética, a fim de saber como agradar o auditório.
Só percebi o meu desvio quanto à motivação para pregar quando ingressei no seminário teológico. Apesar disso, não foram as aulas que me fizeram ver a pregação com outros olhos, pois os professores de Homilética também costumam priorizar o lado humano, salientando a importância de o pregador saber falar bem e dentro do tempo, respeitando os ouvintes. Dois fatores foram decisivos para a minha "transformação": ter conhecido o pastor Valdir Bícego, de saudosa memória, e, por providência divina, ter lido alguns livros de verdadeiros homens de Deus.
Certo dia, quando eu retornava do seminário, um colega de sala — infelizmente, não me lembro do seu nome — me indicou a clássica obra O Guia do Pastor, de Ralph Riggs (citada acima). Este foi um dos livros pelos quais o Senhor levou-me a uma mudança radical de atitude quanto à pregação. Creio que foi nessa mesma época que li também O Homem que Deus Usa, de Oswald Smith.
Mediante a leitura desses livros e o contato quase semanal com o saudoso pastor Valdir Bícego, despertei-me para o estudo de outra ciência igualmente necessária ao ministério do pregador vocacionado por Deus: a Hermenêutica. Além disso, e principalmente, convenci-me de que o compromisso do pregador da Palavra de Deus é, acima de tudo, com o Deus da Palavra. E, desde então, conquanto eu respeite o povo do Senhor e os ouvintes em geral, me empenho em ser fiel àquEle que dá a Palavra.

O QUE NÃO É PREGAÇÃO EXPOSITIVA?

É preciso ter em mente o que é pregação expositiva, segundo o modelo bíblico. Mas, antes disso, discorrerei sobre o que não é pregação expositiva. Afinal, quando conhecemos o lado negativo das coisas, passamos a valorizar ainda mais o positivo.
Não é palestra motivacional. Muitas falações tidas como pregações priorizam a motivação das pessoas. São mensagens como "Você já nasceu vencedor" ou "Quando você levantar da cama, olhe para o espelho e diga 'Eu sou vencedor' por três vezes". Um dia desses ouvi certo pregador dizendo ao povo: "Entre milhões de espermatozóides, somente um fecundou o óvulo de sua mãe. Você já nasceu vencedor".
É claro que o fator motivacional está embutido na pregação do evangelho, mas não devemos confundir a exposição das verdades da fé cristã com a apresentação de conceitos que melhoram a auto-estima. Será que a mensagem de Jesus ao pastor de Laodicéia, contida em Apocalipse 3.17,18, visava à melhora de sua auto-estima, ou ao seu arrependimento? O Senhor o motivou a abandonar o pecado.
Não é palestra de psicologia. Torna-se comum, a cada dia, nas igrejas, a exposição de conceitos da psicologia como se fossem verdades bíblicas. Ora, a psicologia estuda a alma, com as suas faculdades. Mas o único livro que trata da parte mais profunda do ser humano, o seu espírito, é a Bíblia. A despeito de a mencionada ciência ter a sua importância, a tentativa de mesclar os seus conceitos aos princípios das Escrituras gera um jugo desigual. A pregação expositiva, como veremos, consiste mesmo em exposição da Palavra de Deus (1 Ts 2.13).
Não é exposição para promover entretenimento. Tenho assistido com tristeza a espetáculos promovidos por super-pregadores, cuja "pregação" resume-se a mandar o povo fazer isso e aquilo. O arsenal de manipulação de auditórios de que eles dispõem é impressionante. Um deles, depois de empregar todo o seu repertório de olhe-para-o-seu-irmão-e-diga-isso-e-aquilo, disse à ingênua platéia: "Encoste a sua testa na testa do seu irmão e olhe bem dentro dos olhos dele e diga..."
Onde nós vamos parar? Imagine o que aconteceria se um marido descrente chegasse a um "culto" e visse a sua esposa com a testa encostada à testa de um irmão? O que pensaria esse marido? E... como ele reagiria? Por isso, é melhor expor as Escrituras, ainda que não haja reação imediata do público. Aliás, se a Palavra é a semente, por que sempre queremos uma resposta rápida do auditório? Cabe aos pregadores espalhar a semente, e ao Espírito Santo — conforme o tipo de terreno — fazê-la prosperar (Mt 13.18-23; Jo 16.8-11).
Não é exposição de sabedoria humana. Pregar não é uma demonstração de sabedoria ou conhecimento. Há pregadores que, ao microfone, esquecem-se de que devem ministrar a Palavra de Deus e discorrem sobre os seus conhecimentos de filosofia, cultura, arte, cinema, etc. Todos ficam admirados... mas, qual foi a mensagem de Deus? Embora Paulo tivesse um vasto cabedal, as suas palavras aos coríntios não foram "... persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder" (1 Co 2.4).
Há expoentes que falam de tudo; menos da Palavra de Deus. Sabem de cor letras de canções, roteiros de filmes... Ah, e já leram livros e mais livros! Nada tenho contra quem possui um grande interesse cultural, mas o maior conhecimento do pregador deve ser bíblico, a menos que faça parte do grupo mencionado em Jeremias 6.10: "A quem falarei e testemunharei, para que ouça? Eis que os seus ouvidos estão incircuncisos e não podem ouvir; eis que a palavra do SENHOR é para eles coisa vergonhosa; não gostam dela".
E você, caro leitor, aprecia a Palavra de Deus? Tem prazer em lê-la e nela meditar de dia e de noite? E as suas pregações, são exposições das Escrituras ou de sabedoria humana? Que façamos nossas as palavras de Paulo, em 1 Coríntios 1.17,18: "Porque Cristo enviou-me... não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã. Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus".
Não é exposição impecável à luz da Homilética. Certo pregador, que seguia à risca aos princípios homiléticos, porém era incapaz de fazer uma prédica de improviso, passou por grande dificuldade. Ele não teve o cuidado de fixar seu arcabouço à Bíblia, e o vento gerado por um ventilador junto ao púlpito levou para longe a sua "inspiração"... Felizmente, um atencioso irmão apanhou o papel e o entregou discretamente ao mensageiro. Antes, curioso, deu uma olhadinha no esboço e deparou-se com a frase: "Aqui, chorar".
Conquanto a Homilética seja uma ferramenta imprescindível ao pregador, este não deve se tornar um escravo dela. Pregadores há que a valorizam além da conta, esquecendo-se de depender do Senhor. Em Atos 4.33, está escrito: "E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça".
A pregação pode ser homileticamente impecável, com introdução, desenvolvimento e conclusão humanamente perfeitos. Contudo, se não houver graça de Deus no pregador, teremos apenas um belo discurso — sem graça —, como o de Herodes, o qual levou o povo a exclamar: "Voz de Deus, e não de homem!" (At 12.22). A nossa mensagem precisa ter graça e vida provenientes do Espírito Santo (Jo 1.14; 1 Co 2.1-5).

O QUE É PREGAÇÃO EXPOSITIVA?

Sei que as definições que apresentarei não satisfarão aos super-pregadores, haja vista apreciarem os itens negativos acima. Para eles, o que importa é agradar o povo e se tornarem cada vez mais famosos e populares. Agem como se fossem humoristas, grandes comunicadores e palestrantes de auto-ajuda. No entanto, as definições que mencionarei agora são baseadas inteiramente na Palavra de Deus.
E exposição da Palavra de Deus. Não deve haver rodeios ou quaisquer artifícios para agradar o público. O pregador deve expor a Palavra, pois é isso que traz o conhecimento da vontade do Senhor (Sl 119.130), gerando no coração dos ouvintes a fé (Rm 10.17; At 16.14). Infelizmente, expoentes há que ignoram o fato de a Palavra de Deus ser proveitosa para ensinar, redargüir, corrigir e instruir em justiça (2 Tm 3.16,17).
Em 1 Pedro 4.11, está escrito: "Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus..." Não existe outra alternativa. É inadmissível um obreiro não pregar as Escrituras e ainda desculpar-se, dizendo: "Cada um tem uma ferramenta. Eu não fui chamado para pregar citando a Bíblia. Eu sou um contador de histórias, um avivalista". Ora, como foram as pregações contidas no livro de Atos? Pedro não explanou a Palavra, na primeira pregação pentecostal? Estêvão e Filipe não expuseram o que está escrito? E Paulo, o que fez?
Não é o mensageiro que decide sobre o que falar. A mensagem não é dele, e sim de Deus. Quanto a isso, o Senhor Jesus afirmou: "A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou" (Jo 7.16). E, por isso, pôde dirigir-se ao Pai com estas palavras: "porque lhes dei as palavras que me deste..." (Jo 17.8).
O Mestre não pregou nada além do que recebeu do Pai celestial. E é isso que devem fazer os pregadores: não expor nada além do que está escrito na Palavra da verdade (Mt 4.4; Jo 17.17).
É explanação cristocêntrica. Pregar a Palavra de Deus não significa citar versículos sem correlação. Tudo o que pregamos em relação à Bíblia deve estar atrelado ao seu Personagem central: o Senhor Jesus Cristo: "Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos" (1 Co 1.22,23).
John F. MacArthur Jr. afirmou: "... pregar a Palavra nem sempre é fácil. A mensagem que somos convocados a pregar é ofensiva. O próprio Cristo é uma pedra de tropeço e rocha de escândalo (Rm 9.33; 1 Pe 2.8). A mensagem da cruz é uma pedra de tropeço para alguns (1 Co 1.23; Gl 5.11) e loucura para outros (1 Co 1.23) (...)
Por que você acha que Paulo escreveu 'não me envergonho do evangelho' (Rm 1.16)? Certamente porque há muitos cristãos que estão envergonhados da própria mensagem que são ordenados a proclamar" (Com Vergonha do Evangelho, Editora Fiel, pp.28,29).
Muitas mensagens, em nossos dias, aparentemente bíblicas, não são cristocêntricas. Há faladores — e não pregadores — que citam passagens isoladas, porém não mencionam Cristo e sua obra. Suas mensagens são humanistas, motivacionais, psicologizantes. Dizem-se pentecostais, ignorando que a verdadeira pregação pentecostal é a que enfatiza o nome de Jesus e sua obra (Mc 16.15-18; At 2.22-36; 8.30-37; 9.15; 17.18).
É exposição da verdade, ainda que o povo não goste. Como vimos acima, há quem não goste da Palavra (Jr 6.10; Rm 10.16), embora isso não a invalide nem enfraqueça a sua influência sobre aqueles que lhe abrem o coração. Por isso, caro pregador, jamais abra mão da Palavra da verdade (2 Tm 2.15-18; Jr 1.17). Deus não está nada satisfeito com esses faladores que ocupam os púlpitos, em grandes festividades, para dizer tudo o que o povo quer ouvir.
Leiamos Jeremias 14.13-15:

Então disse eu: Ah! Senhor JEOVÁ, eis que os profetas lhes dizem: Não vereis espada e não tereis fome; antes, vos darei paz verdadeira neste lugar. E disse-me o SENHOR: Os profetas profetizam falsamente em meu nome; nunca os enviei, nem lhes dei ordem, nem lhes falei; visão falsa, e adivinhação, e vaidade, e o engano do seu coração são o que eles profetizam. Portanto, assim diz o SENHOR acerca dos profetas que profetizam em meu nome, sem que eu os tenha mandado, e dizem que nem espada, nem fome haverá nesta terra: À espada e à fome serão consumidos esses profetas.

Não é isso que temos visto em nossos dias também? Aliás, há até pregadores que se intitulam profetas! Entregam os seus belos cartões, oferecendo-se para pregar, e dizem de modo jocoso: "Profeta fulano ao seu dispor". A semelhança dos "profetas" que viveram nos dias de Jeremias, falam falsamente em nome do Senhor, pois nunca foram enviados por Ele. A visão deles é falsa. E, conquanto o povo pense que Deus a eles 

Nenhum comentário:

Postar um comentário